A última coca-cola no deserto

Ficámos com Jefferson, vimos Steven Vitória, Carlos Eduardo, Josué, Porcellis, Licá, Ricardo, Luiz Carlos, Rafael Miranda e Roberge ir para outras paragens. Uns irão para clubes onde brilharão, outros irão para a gaveta, ou seja 4ª ou 5ª escolha de clubes que apenas querem retirar espaço de manobra aos seus rivais.

Desde há uns 4 ou 5 anos a conversa é sempre a mesma. Especialmente os tripeiros, assim que sabem (por alguém lhes vai a correr segredar ao ouvido) que o Sporting pode estar interessado num jogador e se o negócio for "poupadinho"...não interessa se precisam ou não, contratam o jogador. Há inúmeros artigos na imprensa sobre isto, a maior parte elogia o scouting azul e branco, mas nenhum conta a história por inteiro.

Casos como Derlei, Fernando, Pepe, Paulo Ferreira, Jorge Andrade...só para citar de memória, ficaram conhecidos como excelentes contratações, mas até que ponto foram as melhores vendas para Leiria, Nacional, Marítimo, Setúbal ou Estrela da Amadora? Haveria outras propostas, até mais vantajosas financeiramente? Propostas do Sporting? Propostas preteridas por alinhamento político (debaixo das asas do dragão há mais penalties a favor e menos contra)?

Os nomes que escolhi pertencem todos a jogadores que vingaram, são desses que a imprensa sempre fala...mas e os outros? Sereno, Ruben Micael, Djalma, Bracalli, Kleber, Kazmierczak, onde estão? Fizeram bem em optar pelo azul? Não teriam brilhado mais de leão ao peito?

Se os benfas têm sido vampirizados no mercado externo, o Sporting tem sido trucidado na procura de valores em clubes portugueses. Por vezes corre bem e o jogador é desviado de uma possível boa carreira em Alvalade, por vezes corre mesmo muito bem e faz ele próprio uma boa carreira nos tripeiros.

Estes factos são também parte do rumo que os 3 clubes tiveram na última década. O porto ganha mais, porque alicia melhor, porque promete (será que cumpre?) algo em troca de jogadores que o benfica ou Sporting não consegue...essa protecção, também conhecida como corrupção, tráfico de influências ou outras maroscas...está sempre lá, na origem de muitas vantagens.

Pasmei quando na decisão do título deste ano, um jogador do Paços (anormalmente amorfo, simplesmente atacava com 3 jogadores...3 jogadores!) tenta roubar a bola dentro da área...no ABC de um defesa central isto é erro primário (cobre o movimento do jogador e evita-se o contacto). Penalti...que até nem era, mas ok...e qual a reacção do treinador do Paços...pois é...nenhuma. Treinador esse que foi para...claro...para o porto. Ah e mais, a clausula de 2 milhões de euros...ficou em 400 mil euros...e mais umas compras de jogadores desnecessários. O que fazem os benfas? Nada.

Fizeram o mesmo que o Sporting sempre fez. Nada. Porquê? Simples, não há provas. A rede está bem montada, como sempre esteve desde os anos 80. Abre umas excepções ao benfica, mas pelo final desta época, viu-se a que ponto o cão ainda obedece ao dono. Como continua no caso das contratações que abrem o post. Para Steven Vitória ter ido para o benfica, foi preciso um braço de ferro tremendo com o Pintinho. Seria curioso saber qual o vencimento que vai ter...aposto que muita gente vai ficar espantada. Como vão ficar com Ghilas...outro que está no leilão de azuis contra vermelhos (o Sporting já deve ter abandonado esta corrida há muito tempo) e ainda não tem fim à vista.

O curioso é que os jogadores (contratações internas) acabam no porto com salários moderados e no Sporting e benfica com salários enormes. Ainda mais curioso é saber que sem Sporting e benfica o mercado do futebol em portugal não existia. Ainda mais curioso é saber que sem ganhar quase nada o Sporting tem muito mais adeptos que o porto que ganha quase tudo. É que além do plano desportivo e do plano das maroscas, ainda há outro campo de batalha, o dos adeptos. Sinceramente acho que a grandeza de um clube e o seu futuro dependem muito mais do bom trabalho que se faz no último.

Dizem que clube que não ganha títulos não ganha adeptos. É uma treta. Clube que não se respeita, nem impõe respeito é que não seduz ninguém. As crianças ou adolescentes idolatram vencedores como é óbvio, mas nas idades em que escolhem a sua preferência não há ainda consciência de títulos...há apenas exemplos de atitudes, relação com os adeptos, sensação de familia no estádio, mascotes, presenças nas escolas, creches, colónias de férias...a batalha pelos adeptos de amanhã, mais que a batalha pelos Ghilas, essa sim é a última coca-cola no deserto.

SL