A lavagem cerebral a que muitos sportinguistas cederam nas últimas semanas será o ponto decisivo que permitirá a esta Comissão de Gestão e SAD provisória dobrar o joelho nas mesas de negociação abertas com os empresários dos jogadores que rescindiram.
De forma quase inexplicável, as repetidas mensagens de caos anunciado retiraram a noção dos factos a muitos adeptos, ao ponto de repetirem como opinião própria argumentos completamente especulativos. De repente e sem que eu consiga entender como, o que é dito na CMTV ou publicado no Record é percepcionado como verdadeiro, mais verdadeiro até que factos completamente à vista de todos.
Factos:
1/ O que sucedeu em Alcochete não está, nem será provado, ter tido autorial factual, moral ou acidental por parte da entidade patronal e os argumentos dos jogadores que rescindiram que constroem esta ligação, são na sua totalidade, puramente especulativos. "Pareceu-nos estranho que" não são provas.
2/ O Sporting condenou o acto de imediato, disponibilizou toda a ajuda necessária aos jogadores e abriu processos de averiguação interna, iniciando também uma revisão das medidas de segurança na Academia.
3/ Os jogadores jogaram efetivamente a Final da Taça de Portugal e foram integrados nos trabalhos das Seleções Nacionais de origem. Ou seja, estavam - de facto - aptos para desempenhar a sua atividade profissional. Seguramente e em especial na Taça, algo abalados emocionalmente, mas ainda assim capazes de jogar.
4/ Nenhum dos jogadores que rescindiu contactou ou desejou trabalhar em conjunto com o clube para esclarecer condições futuras seguras para prosseguir a sua atividade profissional. Aliás aconteceu o oposto, ou seja, a recusa ao diálogo.
5/ Quem esteve ativo no diálogo com o Sporting foram os empresários, que não perderam tempo em impor negociações para que os seus representados pudessem sair por valores irrisórios ou mesmo propondo renovações de contrato com prémios avultados e aumentos brutais de vencimento.
6/ Rui Patrício, através de Jorge Mendes, foi o único jogador que assinou um contrato entretanto. Todos os restantes até podem ter interessados, mas esses clubes têm procurado chegar a entendimento com o Sporting, não avançando para a contratação dos jogadores como "livres".
Se relacionarmos estes factos, só podemos chegar a uma conclusão plausível: há muito mais razões para os jogadores temerem a arbitragem da UEFA e FIFA do que para o Sporting. Mas quem ouve e lê a comunicação social não encontrará esta opinião reemitida por alguém que seja. E a razão é bastante simples. A "tragédia" de Alcochete foi vendida com o sumo especial de ter BdC como o agressor e os jogadores como as vítimas.
Ninguém ousou pensar noutra narrativa, ninguém ousou tocar na verdadeira ferida exposta pelos factos conhecidos. Ninguém falou verdade, primeiro porque a história seria bem menos lucrativa e segundo, porque há sérias dificuldades em realizar jornalismo de investigação quando os "grandes interesses" da sociedade portuguesa se movem bem coordenados.
Esses interesses que bem cedo entenderam o perigo do sucesso de BdC, um presidente sem filiação política, sem rastro de associações criminosas, um travão às pressões dos empresários e todos os que são alimentados pelos mesmos. Esses interesses que caíram em cima do colo de uns quantos opositores que agora têm dívidas para saldar.
O pagamento por uma imprensa espetacularmente favorável, por portas escancaradas nos tribunais, por notáveis a correr à pressa a juntar-se ao piquenique é precisamente a desistência de levar os processos de indemnização impostos aos jogadores que rescindiram até ao fim.
E que belo pagamento. Para quem não entendeu, porque mais uma vez nada disto alguma vez será dito na imprensa, não há histórico de jogadores em casos semelhantes aos jogadores do Sporting terem obtido razão na justa causa. A mão da UEFA e FIFA costuma ser pesada e num passo miraculoso um qualquer dos 9 jogadores que abandonou o Sporting pode ter-se livrado de:
- pagar os seus salários até ao fim do contrato com o clube;
- pagar uma indemnização suplementar por danos reputacionais causados à SAD e ao clube;
- pagar através do clube com o qual assinariam uma indemnização exemplar (que nunca iria ser calculada na base do seu valor de mercado, com risco de se abrir o precedente se ser menos dispendioso recrutar pagando a justa causa do que negociar o valor de compra).
- pagar uma indemnização suplementar por danos reputacionais causados à SAD e ao clube;
- pagar através do clube com o qual assinariam uma indemnização exemplar (que nunca iria ser calculada na base do seu valor de mercado, com risco de se abrir o precedente se ser menos dispendioso recrutar pagando a justa causa do que negociar o valor de compra).
Posto isto, não consigo imaginar a razão porque alguém consegue ainda defender a negociação com clubes interessados ou sequer a renovação de contratos com os jogadores que rescindiram. Não consigo relacionar sequer a mensagem que muitos replicam (mais uma super veículada nas TVs) de que "negociando evita-se o risco". Mas não são os jogadores que arriscam mais? Afinal somos nós, a instituição (que até tem outros ativos prontos a competir) que tememos mais o risco? Quando temos 98% dos argumentos factuais a nossa favor?
Aceitar que existe risco é o mesmo que considerar que as leis não valem nada e que como clube nos devemos sujeitar à humilhação de pedir desculpa e até recompensar quem nos desprezou e afogou numa das maiores crises institucionais da nossa história. Literalmente estamos a dobrar a espinha para lamber as chuteiras de quem não teve sequer uma palavra de despedida aos adeptos. Estamos a perder totalmente a nossa dignidade...para quê?
Simples. Uma mão lava a outra e no caso do Sporting, a mão que financiou a retirada de BdC será a mesma que se apresentará como o "grande amigo" e salvador do clube.
Sinceramente, todas estas mãos, estão imundas de desonra e pactos de escravidão. A desonra é dos próprios e de ganhos futuros caídos de um qualquer céu caribenho. A escravidão será nossa, incapazes de distinguir entre um chicote e uma almofada.
SL