segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Rotatividade e Gestão

Confesso que não consigo compreender as regras que definem a gestão de esforço do plantel do Sporting com JJ ao comando. Isso não significa que esteja a ser mal feita ou que tenha de ser feita uma rotatividade que eu entenda. Simplesmente não atinjo o racional do que faz e quando o faz.

JJ parece confiar, mais uma época, apenas num lote muito restrito de atletas e a cada oportunidade de descansar algum jogador essencial, perde-se o timing, já que há sempre um "perigo" qualquer à espreita. As cautelas são sempre bem vindas, mas de tanta previdência, escasseiam sempre os jogos onde as segundas linhas podem conquistar algum capital de confiança, provando serem peças "dentro" do baralho.

A ideia de que JJ precisa de plantéis vastos, baralha-me completamente. Para quê? Vejo os minutos de jogos oficiais de alguns jogadores e à parte das necessidades de treino, não vejo qualquer justificação para que um activo passe uma temporada a somar banco ou nem isso. Sim, o nível de exigência é elevado, mas porventura, aumentará ainda mais ao longo da época em vez de suceder o contrário.

À medida que os habitués vão somando jogos, vão adquirindo ritmo e chegando a níveis de elite. Quando precisam de repousar, os que os deviam substituir estão perros e demasiado ansiosos por provar em míseros minutos o que valem, sabendo que poderão ter de esperar meses até à próxima "aberta". Este é um problema factual, que acresce de relevância à medida que o Sporting se mantém em todas as provas e há real necessidade de dividir o esforço competitivo de jogos de 3 em 3 dias.

O dinheiro não estica e vale a pena justificar que JJ não tem provavelmente o plantel que desejaria, mas ainda assim é preciso dizer que os treinadores em Portugal têm de possuir alguma arte de fazer muito com orçamentos médios (olhando a média europeia), sendo que o Sporting tem a vantagem de ter uma massa associativa que adora que sejam lançados novos valores, acarinhando com muita paciência o crescimento da sua cantera na equipa principal.

E isto entronca directamente na política de gestão da equipa B que tem sido relevada para um papel completamente secundário e assumida como depositário de jogadores sem margem de crescimento ou experiências de mercado. Quando o plantel principal precisa de algo suplementar, deixou de ser a referência para entregar soluções e JJ tem preferido remendar com adaptações dentro do plantel principal, esvaziando a lógica da equipa B.

Rafael Leão é a excepção que confirma, mais do que a resistência de JJ a recorrer à equipa B, a ausência de jogadores jovens com potencial para fazer a transição.

Aconteça o que acontecer, estar permanentemente a ouvir JJ a queixar-se do excesso de esforço em cima dos seus ateltas, quando muitos do que estão no plantel têm tão poucos jogos, levanta-me uma questão cada vez mais importante: o problema será da qualidade dos jogadores suplentes ou da "confiança" que lhe é dada por JJ?

SL

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

O direito a não validar o sistema

A maior justificação para a razoabilidade da sugestão feita por BdC aos sócios e adeptos do Sporting para vincarem a sua indignação com a comunicação social foi dada pela própria. Infelizmente, a resposta foi corporativista, persecutória, revanchista e sem a mínima capacidade ou vontade de entender o que sente o Sporting como um coletivo de pessoas. O que BdC colocou como condição para evitar fazer posts no seu facebook, foi entendido (e que jeito dá isto…) como ataque directo da Presidência, à liberdade da imprensa. Porquê? Por acaso o Presidente do Sporting pediu que se restringisse o acesso da CS aos canais habituais do clube? Pediu que se agredisse ou sequer se injuriassem os jornalistas? Pediu que exercesse algum controlo ou impedimento dos meios às notícias que querem investigar ou realizar? Não!

Escapa convenientemente a quem dirige jornais, tvs e demais meios, que o que levou BdC a fazer a sugestão que fez, é algo que os adeptos e sócios do Sporting há muito pedem ao seu clube. Eu próprio, nesta página, já defendi inúmeras vezes que o tratamento de que somos alvo por parte de alguns jornais e tv’s não é passível de continuar e teria de ser objecto de alguma manifestação firme de desagrado. A opção de sugerir uma vasta expressão de não consumo é até a versão mais light dessa tomada de posição. Eu teria extendido o boicote ao próprio clube, mesmo sabendo que há compromissos a respeitar com patrocinadores.
Qualquer patrocinador deverá também aceitar que surgir constantemente a sponsorizar um clube que não faz nada certo, tudo o que produz e defende é ridicularizado e está sempre associado a polémicas empoladas ou até inventadas, é um cenário muito pouco lucrativo para o dinheiro que investiu.
Também para os nossos patrocinadores, o estatuto do Sporting e o respeito pela sua imagem pública, deveria ser uma batalha que valerá muito a pena ser travada.

Mas voltando ao cenário actual, é para mim muito revelador que a maioria dos jornalistas e dirigentes da nossa Comunicação Social não entenda minimamente o que está a acontecer na mente coletiva dos Sportinguistas. Se a relação já não era pacífica na era pré-BdC, piorou bastante com a entrada dos actuais corpos directivos. Quiseram e querem à força instigar oposição interna, promovendo incessantes campanhas sujas de difamação e patetização, fazendo acreditar a quem o queira que o Sporting tem ao seu comando um crápula, tonto e ditador, não hesitando nunca atropelar todo e qualquer código deontológico nesse processo. A chegada das revelações do caso dos emails do Benfica só acentuou as certezas de muitos sportinguistas. Esta permanente oposição da mídia à governação do Sporting não só não é nada inocente, como é patrocinada e alimentada por interesses do nosso rival. Toda a rede de “meninos queridos” que se abriga nas várias redações de jornais e tv’s, não só participa voluntariamente na “caça ao Bruno”, como entende claramente que é um favor que fazem ao establishment encarnado. E isso nunca os preocupou.

Como achariam que os sportinguistas iriam reagir, mais tarde ou mais cedo? O que a classe jornalista achou que iria acontecer depois de em duas semanas terem dado guarida e palanque a todos os que quisessem assassinar a legitimidade da direcção a realizar a passada AG de dia 17? A todos os que quiseram inventar perigos para a democracia interna do nosso clube? O que a classe jornalista achou que restaria de uma relação que já era má, quando escolhe deliberadamente e sempre o lado da notícia que denigre mais o clube? O que a classe jornalista imaginou que resta aos sportinguistas fazer para tentar manifestar o seu profundo nojo e ódio pelo tratamento que o nosso clube merece, dia após dia, capa após capa, debate após debate?

A função da imprensa é reportar dados concretos, analisar, reflectir sobre os mesmos e numa versão já pós-moderna emitir opinião, sempre numa posição equidistante e imparcial. Deviam ser os primeiros a entender o que sentem os sportinguistas e a entender o que leva BdC a fazer a sugestão que fez. Não são então os mais informados? Não são os que mais compreendem a “Big Picture”? Não são os que nada lhes escapa? Se são, não parecem. A reação os OCS é muito semelhante à daqueles garotos que passam a vida a “picar” um miúdo mais velho e quando este perde a paciência e lhes manda um berro, correm para abraçar as pernas dos pais, chorando e acusando o outro de o ter agredido. Nenhum jornalista a sério, inteligente e leitor eficaz do momento do nosso panorama desportivo, terá qualquer dificuldade em entender que BdC mais não fez do que dar corpo a uma profunda indignação (e geral) dos adeptos, que surge na natural reação a um tratamento abaixo do digno e muito abaixo do correcto.

Preferiram apontar os dedos a BdC, acusando-o de atentar contra a liberdade de imprensa. A cobardia mascarou-se de coragem e preferiu acusar um presidente em vez de um clube como um todo. Navegando numa imagem já há muito queimada pelos mesmos, preferiram meter-se com o indivíduo em vez de enfrentar os adeptos. Fingindo acreditar que os adeptos sportinguistas não partilham com o seu Presidente (mais uma vez validado por 90%) da necessidade de vincar o profundo nojo que nos dá o estado actual da nossa imprensa e a sua subserviência a interesses pró-Benfica. Nós não somos tontos, nem nos escapa a sede de sangue que alimenta as vendas, os shares e as polémicas que pagam as horas de live e os carácteres impressos. Não estamos a Leste do que significa “alinhamento editorial” e muito menos nos passa ao lado a forma absolutamente inacreditável como somos o patinho feio do futebol português, sempre a jeito para ridicularizar as nossas ambições, a menorizar os nossos feitos, a ignorar a nossa contribuição e a nossa importância para a sobrevivência dos seus próprios interesses.

O que é primordial é servir, doses massivas da glória imperial do Benfica. Isso fazem-no bem, mesmo que muito à custa do nosso eterno rebaixamento. Mais do que ficarem chocados com a sugestão de BdC, assusta-os que fiquem sozinhos a vender jornais e a emitir programas para os nossos rivais. Assusta-os que não consigam distinguir entre o que é a Direção e os adeptos do clube, assusta-os verdadeiramente que o Sporting esteja unido e por uma vez defenda os seus interesses, recorrendo a tudo o que é a nossa imensa força popular e social. Assusta-os que nós, Sporting, ameacemos a narrativa que demoraram anos a impor. A narrativa de um emblema frágil, convulso, desunido e errático.

Esta é uma luta meritória, de quem não aceita continuar a ser denegrido, atacado e desinformado. Tão e só isso. Um pacto entre pessoas que não consegue ver o seu clube retratado na imprensa de forma digna e verdadeira. Não é uma luta de BdC, é uma luta de todos os que queremos que o clube cresça e cumpra o desígnio dos seus fundadores.

SL

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

O verdadeiro fosso

Roquete, Severino, Madeira Rodrigues, Pereira Cristovão, Dias da Cunha, a lista é vasta e por vezes mais parece um grupo de "exilados" políticos a dar entrevistas num país tropical, suplicando por mudanças de regime num país assolado por uma ditadura sanguinária. 

Só que não.

Existem cada vez mais duas ideias divergentes do que é o Sporting de Clube de Portugal como instituição. 

1/ A dos supracitados é uma mistura entre clube de cavalheiros, casa de chá, uma estrutura de exclusividades e direitos nobiliarios, transmitidos por famílias que partilham 7 apelidos e 65% dos alugueres de apartamentos entre o bairro de Benfica e o Lumiar. É o Sporting das pastelarias das avenidas novas, dos senhores que dizem que jogaram rugby na infância e que as meninas têm aulas de ténis e bailes de debutantes. O Sporting é o seu Kidzania particular, o local ideal para ir fumar charutos na tribuna enquanto se brinca ao dirigir um clube desportivo. Interessa deixar "boa imagem", ser "educado", parecer "bem" e sobretudo que tudo tenha um "bom ar", limpo e arrumado, cordato, mesmo que passando a fachada esteja tudo numa balbúrdia e decadente...o que as "visitas" acham é que é importante. Governa-se um clube com a preocupação máxima de projectar uma imagem que se identifique com os valores que receberam de berço. A imagem acima de tudo, o croquete e a elegância bem mais significativos do que ganhar. Isso é acessório. Os adeptos também, tratados como desprezíveis, aqueles saloios desprovidos de classe, um mal necessário que o projecto Roquete tentou diminuir a “clientes”. 

2/ O dos adeptos. O Sporting do calor humano e massas vibrantes. Não se quer ser mais fino, nem menos ambicioso que qualquer rival. Não há preocupações com as “diferenças” de estilo ou forma, isso é vulgarmente acessório do que é mesmo o objectivo do clube: ganhar! Cospe-se, insulta-se, há entradas feias no cardápio e muitas cerveja bebidas em tantas outras roulotes. Há bifanas e entremeadas, há todas as partes do porco servidas sobre o pão da festa e de uma identificação muito mais democrática. O Sporting “de todos”, “para todos” é na verdade um emblema feito de uma única casta que apenas vive para celebrar o jogo, a luta, a coragem e a vontade de ser melhor. A roupa seja velha, suja ou rota não está escondida mas sim à vista de todos e todos estão convidados a viver o clube pelo aquilo que é: uma associação de quase 170 mil sócios, que cresce cada vez mais ao estarem escancaradas as portas a qualquer nome, qualquer proveniência, basta querer. Este também é o Sporting que quer ser unido, que rejeita “quintas” ou “partilhas” com adversários. Não há almoços nem scones grátis, tudo é de todos e todos têm de pagar o mesmo preço - o suor, a dedicação e a lealdade. 

A cada dia que passa estes dois conceitos aprofundam diferenças e hostilizam-se. Não tenhamos quaisquer dúvidas que Bruno de Carvalho é apenas um dos pontos de divergência, uma charneira em torno da qual se concentram e gravitam muitos dos choques que aumentarão nos próximos meses e anos. Vejo todas as ocorrências e movimentações que ocorrem na antecâmara da próxima AG e só consigo extrair uma profunda convicção: BdC quer acelerar o rompimento entre estas duas massas de opinião, quer aumentar definitivamente o espaço entre estas duas visões (cada vez mais incompatíveis) do que será o clube no futuro. No fundo, quer que os sócios se assumam de uma vez por todas qual é o Sporting a que ele preside de facto.

Quer ganhe, quer perca os contrastes serão sempre ampliados. A dita oposição no exílio não terá qualquer margem de manobra para eleger candidatos em futuras eleições e isso não se deve à ditadura de um homem ou de um Conselho Directivo, mas sim há própria mutação dos sócios e adeptos que transmitem todo o tipo de sinais sobre o emblema que querem ter no futuro, cada vez mais afastados da caracterização do ponto 1 deste texto. Leio nas entrelinhas o nascimento de algumas “Vénus”, que se preparam para assumir-se como transgénero, um mix de qualidade que tenderá a apresentar-se no epicentro das clivagens e apelativa a ambas as ideias do Sporting. 

Nada mais absurdo e condenado ao fracasso. Os Balduínos de ocasião só trarão paz podre e falta de identificação, governando em ziguezagues intermináveis de “agrados” sem entenderem que já não há remendos nem agrafos que unam as partes, as feridas passadas, os ódios ou as fendas. Não haverá terceiras vias Blairianas no Sporting. Haverá apenas a vitória de uma das partes e o abandono definitivo da derrotada. O Sporting Clube de Portugal, sem infelizmentes ou felizmentes, terá de ser um. Não dois. 

Nesse sentido imagino como óbvia a necessidade de validar este fraccionamento, esperando a definitiva compreensão por parte da ala coqueteira de que o clube que acharam como lógico herdarem ad eternum, já não existe. Já não é seu. Pertence a quem o quis salvar e amar, a quem o segue, sem clamar o seu governo ou posse. Que nasça outro clube qualquer para o seu entendimento de classe ou heráldica, saiam do exílio e sejam “livres” num novo emblema, fundem o que quiserem no Estoril, Cascais, Eriçeira, Malveira, onde podem continuar a partilhar um leão, de cor verde, colonial e bem parecido, o local ideal para migrações de fim-de-semana após as aulas de equitação, onde os filhos poderão esquecer as agruras de uma semana do Liceu Francês, Colégio Alemão, dos Sagrados Corações e Planaltos. 

O Sporting Clube de Portugal albergará sempre os que lhe sejam fiéis e desprendidos de “direitos” especiais, os que se sintam iguais a todos os outros. Os que bem ou mal paridos, de berço de ouro ou Ikea, de colégio privado ou escola pública, de charuto ou cigarro de enrolar…amem o Leão como animal de luta e não como mascote a colocar num botão de punho.


SL

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Sobre a "italianização" do Sporting

Se posso servir de alguma coisa, escrevendo numa rede social, talvez a minha opinião sobre o estilo de jogo "à italiana" referido por JJ,  possa ser uma delas. A forma de jogar leonina não nasceu esta época e muito menos apareceu com a lesão de Gélson. A minha opinião é que JJ vem a desenvolver o mesmo modelo de jogo (com nuances óbvias) há mais de 4 ou 5 épocas. Este modelo não é estático, evolui, conforme a compreensão do jogo e experiência do treinador. Desconfio até que tenha sofrido mais alterações com a observação de determinadas equipas de sucesso europeias que implementaram as inovações que o "Cruiff da Reboleira" achou por bem tentar introduzir nas movimentações das suas equipas. 

Uma das maiores, talvez seja mesmo a passagem de um comportamento de desdobramento atacante em velocidade, assente em superioridade numérica na zona onde anda a bola...que era a assinatura de JJ e que passou a ser hoje em dia uma manobra assente no avanço coordenado das linhas para, oscilando a posse de bola de uma ala para a outra, encontrar espaços onde a preocupação dos adversários é tapar e não roubar a bola. A probabilidade de perder o controle da posse é muito reduzida, os contra-ataques raramente encontram o Sporting mal posicionado (esqueçam por momentos o golo de Setúbal, tá?). 

É isto que as equipas italianas fazem? Sim, há 20 anos, pelo menos. Mas não sei de servirá assim tanto de referência o comportamento das equipas transalpinas. Acima de tudo porque em Itália, não é assim tão importante o assegurar de largos períodos em posse de bola. Pelo contrário, prescindem da mesma abnegadamente, pois procuram muito mais o momento de desposicionamento pontual e muito pouco a especulação sobre um adversário perfeitamente equilibrado em postura defensiva.

Pode parecer a quem acha que as equipas maiores criam oportunidades sucessivas quando enfrentam as equipas ditas mais pequenas, tal é cada vez menos verdade. E enquanto noutras ligas, mesmo nesses jogos, há algum equilíbrio na divisão dos momentos de ataque, em Portugal, a maioria dos clubes enfrenta “os grandes”  dando o controlo total da posse de bola ao adversário, juntando (aquilo é mais “colando”) as linhas e reduzindo os espaços para jogar. O zero-zero é o objectivo e a derrota por “poucos” o prémio de consolação. Por vezes chegam até a vencer, aproveitando a subida total dos favoritos e o natural descontrolo posicional que surge quando já estão 2 pontas de lança na área acompanhados da subida de um central. Dois passes a rasgar o meio-campo e…3 pontos a cair no bolso de quem só trabalhou para somar 1.

JJ é um diplomado da nossa Liga. Haverá pouco que não conheça quer dos treinadores, quer dos jogadores da nossa Liga e entendendo este enquadramento, tenha mudado o modelo de construção de oportunidades, adaptando-o uma postura de produzir desgaste nas coberturas do adversário e não na tentativa de as romper ad hoc. Se olharmos a forma de atacar o golo no andebol ou basquetebol podemos entender melhor esta lógica. Há sempre dois movimentos com duas funções específicas. Há a dinâmica de procura de espaços e só depois a tentativa de os ocupar, não acontecem simultaneamente, mas numa cadência, sobre uma lógica pré-determinada.

O problema é que para o espectador, esta primeira fase não parece nada dinâmica, dando até a sensação a muitos que estamos a “engonhar”, “com falta de ideias”, “desinspirados”. De certa forma isso até é verdade, mas não vejo esta operação como disfuncional, bem pelo contrário. Já ouvi quem diga que se criam menos oportunidades de golo, quando se especula durante tantos minutos de jogo. Também devemos atender ao facto e não ao acaso de ter sido quando JJ juntou Dost e Bruno Fernandes que este modelo mais se enraizou. Ao ter um avançado com uma eficácia tão elevada e homens capazes de encontrar forma de o servir, há sem dúvida razão para acreditar que o melhor a fazer é tentar andar a rodear a área à procura do melhor momento para colocar alguém a desequilibrar os defesas adversários até Dost ter o mínimo de jogadores a marcá-lo ou a cortar a linha de passe para golo.

É um modelo que também funciona pelos jogadores que JJ tem à sua disposição e, sendo frios na análise, tem resultado contra a maioria dos emblemas. Sofremos mais para construir contra clubes que não se “sentam” na defesa, mas sofremos menos contra todos os restantes (que são 90% do total). O Sporting marca sempre e Dost já espreita a marca dos 30 golos no final da Liga. Isso é prova de sucesso intermédio da táctica e deveria merecer por parte de nós, adeptos leoninos, um pouco mais de paciência e confiança no trabalho e nos resultados obtidos até agora. Não é fácil, mas é possível.
Como é óbvio, agora com as lesões de Podence, Gelson e Dost, o sistema de jogo terá de ser alterado. Doumbia não tem a capacidade posicional de Dost, nem o físico para disputar com os centrais, o espaço na área para recepção. Mas tem outras capacidades. É mais veloz, obriga os defesas a mais deslocações, pode e deve abrir mais espaços para a entrada de outros colegas na missão de marcar. Não será o melhor comparsa para combinações curtas (falha imenso no passe rápido), mas é muito mais complicado de marcar e é com estas qualidades que JJ pode jogar, não tendo nenhum Dost 2 para poder apostar. 

Mais difícil é conseguir substituir Gélson e as últimas partidas mostram isso mesmo. Não temos repentistas e muito menos alas que consigam acelerar o jogo. Nem Ruben Ribeiro, nem Ruiz, nem Bruno César, nem Acuña têm esse perfil. É um problema e frente ao Guimarães e Setúbal (na final da Taça da Liga) vimos o quanto JJ ainda tem que trabalhar para encontrar uma solução mais viável. Bruno Fernandes na posição tem revelado ser mais um duplo erro do que uma resposta. Além de perder a influência do jogador na manobra da equipa e remate exterior, não revelou (ainda) a capacidade que por exemplo tinha João Mário de saber exactamente onde estava o espaço para receber a bola entre as linhas. Entendo que o nosso treinador não queira procurar soluções fora do plantel actual e talvez até ache que o tempo que demoraria a incluir um jovem da equipa B nessa missão seja maior que esperar por Podence ou Gélson, mas a verdade é que para já, Houston tem mesmo um problema e terá que ser resolvido.


SL