O prometido é devido. Muitos de nós ficamos desiludidos com o tipo de jogo (não consigo chamar aquilo de táctica) que Portugal exibe na era de Fernando Santos. O problema é que muitos “fecham os olhos” à qualidade de jogo considerando que se os resultados aparecem alguma coisa estará a ser bem feita. Confunde-se o acaso com o estratégico. Se duas bolas paradas não tivessem entrado em duas partidas diferentes quase em cima do apito final, a Selecção estaria em risco de ficar em 3º lugar e não em primeiro, dando pontos aos seus rivais de apuramento directo Albânia e Dinamarca e retirando a si própria 4 pontos. É esta a distância do fracasso desta versão do Engenheiro. Dois cantos.
Acima de tudo, a “equipa de todos nós” tem uma falta de velocidade impensável, a bola e os jogadores demoram uma eternidade a “pensar” um lance ofensivo e não fora Ronaldo ter um processador 10x mais rápido e as defesas contrarias podiam ir beber cafés enquanto entravam em transição defensiva. Será falta de qualidade do elenco? A minha resposta e a minha opinião é...sim. E não.
Sim, neste momento (que já dura há vários meses diga-se) as escolhas das convocatórias e 11 titular não estão a ajudar a que esta “forma” de jogar se ultrapasse.
Não, muitos dos jogadores que participaram nas últimas partidas têm qualidade mais que suficiente para o terem feito...o problema é existir uma enorme coincidência de atletas numa fase “down” da carreira.
Vamos posição a posição para se entender melhor a coisa. Na baliza Rui Patrício não tem comprometido, bem pelo contrário...é raro (aconteceu numa partida é certo) o jogo que não salva a equipa de um ou dois intensos apuros. À direita na defesa, compreendo a adaptação de Vierinha, mas salta à vista as dificuldades defensivas do jogador, que está, ainda por cima, com peso a mais...problema que não é incomum nesta selecção. Não entendo o que dá mais à equipa que Cedric. Nos centrais, e leiam com atenção antes de me acusarem de sacrilégio...Pepe, Bruno Alves e Ricardo Carvalho serão em teoria os melhores, mas meus caros...não é no centro da defesa que reside o problema e como tal, sabendo que será muito difícil que mantenham o nível (já muito em queda...especialmente física) em clubes como o Madrid ou Mónaco...seria de todo inteligente que por exemplo Paulo Oliveira e José Fonte ou Ruben Vezo tivessem ganho muitos minutos de experiência ao mais alto nível...pois serão os que no futuro terão mesmo de jogar. Na esquerda, começa a ser doentio colocar Eliseu em jogo. O aproveitamento em qualquer fase do jogo é quase nulo, o que pesa em cima da performance do ala e do central do seu lado. Mais uma vez, não sei o que dá a mais que Guerreiro e não sabendo em que século voltará Coentrão a competir a sério...talvez não fosse má ideia optar por Antunes como segunda solução.
No centro do meio-campo, ter William como primeira opção e Danilo como suplente é um luxo, por aqui só existirá algum problema se o Tiago voltar a aparecer nas contas (sem força nem velocidade para ocupar mais de 30m de terreno). Raul Meireles há 6 anos era seleccionável e até uma boa solução, mas hoje em dia é apenas um fantasma do jogador que á foi e não é mais uma tatuagem ou mais uns cortes de cabelo que o vão recuperar para a alta-roda. Adrien e Moutinho podem fazer a melhor companhia ao 6, mas porque não jogarem ambos, avançando Moutinho? Miguel Veloso é bom de bola, mas...é mais um jogador “congelado” numa lentidão de processos, a liga ucraniana a mais não deve obrigar e compará-lo a João Mário é quase criminoso. É uma pena Sérgio Oliveira ter sido despachado para o banco no Porto, pois penso ser um médio que podia ascender à Selecção A rapidamente. Mas como em tantos momentos na vida de um seleccionador, os bons, os independentes “ajudam” à titularidade dos jogadores nos clubes chamando-os à selecção numa espécie de “wild card” quase que forçando a uma mudança de estatuto no seu clube de origem. Na alas o problema é vasto. Nani, Dani, Varela e Quaresma têm sido os escolhidos...nenhum está numa boa fase desportiva da carreira. De todos eles apenas Nani manteria como solução, mas para já não no 11 titular. É preciso ideias novas, frescas, fulgor, velocidade. Mané, Bernardo Silva e Rony Lopes são os melhores candidatos e se jogar com regularidade até Bruma e Gelson Martins podiam ser boas soluções. O problema é ter alguém que arrisque neles enquanto não se transformam em titulares absolutos nos clubes. É um risco? Claro que é. Será menor mesmo assim que andar a carregar às costas jogadores fora de forma em ciclos depressivos de valor e competência no terreno de jogo. O nome...sempre o nome.
Na frente do ataque temos uma enorme mais valia, chamado Ronaldo e o maior problema de todos, chamado ponta de lança. Não sei quanto mais tempo ou jogos vai precisar Éder para chegar ao segundo golo, mas para mim o que era preciso ver (ou não ver) está mais que visto. Mais uma vez, há bons avançados nos sub21 e não sei o que a selecção perderia em testar André Silva (a ganhar pó no Porto) ou Ricardo Valente do Guimarães.
Acima de tudo Fernando Santos está a adiar uma verdadeira revolução na Selecção, protelando a titularidade a muitos jovens, apegando-se à suposta segurança de jogadores mais experientes. Mas está à vista que o que se ganha em maturidade, perde-se em dinâmica e construção de jogo ofensivo. Resultado: um fio de jogo previsível, lento, com enormes dificuldades em criar oportunidades frente a boas selecções. Temo o pior no Euro de França. E o pior será pensar em muitos destes agora titulares como soluções para disputar uma prova no final de mais uma época desgastante e não tentar evitar os equívocos que expulsaram médicos e Paulo Bento do cargo.
Olho para o estado da selecção da Grécia e vejo muitas coisas que podem ser (mal) repetidas. Ainda acrescida pela luta entre a ProEleven e a Gestifute que vão até ao ponto de colocar seja o que for na titularidade de um clube ou selecção só para evitar que o concorrente o faça. O panorama não está famoso, os jogadores portugueses cada vez têm mais dificuldade em “furar” nos grandes e, mesmo que não se possa exigir ao seleccionador que faça apostas cegas, não vai restar outra opção a este ou ao próximo...é que convém ver que por exemplo Ricardo Carvalho e Pepe têm 37 e 33 anos. Ainda assim todo este problema é a ponta do iceberg do futebol nacional. Há tanta coisa a fazer nos escalões de formação, limitação de estrangeiros, controlo do poder de influência das marcas e empresários...que por vezes acho que os apuramentos da Selecção são uma novela visível que decorre enquanto os problemas estruturais vão alimentando fortunas no background.
SL