sexta-feira, 6 de outubro de 2017

"Oleiros" há muitos...

Considero a Taça de Portugal um troféu especial no panorama competitivo do futebol português. A circunstância de clubes de outras divisões poderem competir, perdendo ou ganhando, com os grandes emblemas nacionais, proporciona o tal ambiente de festa que o desporto devia cultivar como essência. Não é apenas por cá que estas competições adquirem este estatuto especial, acontece um pouco por toda a Europa.
Ao contrário da Taça da Liga, esta sim tem história, carisma, promessa de prestígio e estar na final no Estádio Nacional é sempre sinónimo de celebração, seja qual for a cor das bandeiras ou a distância que os autocarros que transportam os adeptos realizam.

Mas antes de chegar à desejada final, existem certas garantias que devem ser acauteladas, acima de tudo para que a tal celebração não se sobreponha ao que é o próprio futebol e as infraestruturas que existem. O caso do Oleiros Vs Sporting é um cenário diferente do que estamos habituados e merece alguma reflexão. Antes de opinar sobre o que quer que seja, preciso deixar bem claro que sempre que possível, o clube anfitrião deve sê-lo na plenitude da sua condição. Deve jogar na sua cidade, no seu estádio, o mais perto possível do estatuto de “jogar em casa”. A definição de padrões mínimos para que tal aconteça já foi feita há muito pela FPF e aqui reside o 1º problema.

Esses padrões da FPF garantem um mínimo aceitável para a grande maioria dos clubes de todas as divisões. Garantem o mínimo para um clube que dispute a I Liga? Relvados sintéticos encaixam nesse grau de qualidade? Garantem a integridade física de atletas com o rigor desejável? Ninguém parece querer responder a esta pergunta e eu adivinho porquê. Tal qual adivinho a razão porque alguns clubes que subiram à I Liga recentemente foram “obrigados” a substituir esses “sintéticos de última geração homologados pela FPF” por…relvados naturais. Compreendo até que as fracas economias dos escalões inferiores façam dos sintéticos uma bolsa de poupança essencial, mas meus caros…tem o seu preço, principalmente quando sabem que podem ter de receber, na Taça, um clube da I Liga que não se pode dar ao luxo de perder atletas com lesões do género que estes pisos costumam provocar.

Acresce a esta problemática, o papel do próprio organizador. Aceitar que possam ser disputadas eliminatórias na Taça sobre relvados de qualidade mais dúbia deve, pelo menos ter um tipo de paridade noutra regra - a obrigatoriedade de presença de titulares na ficha de jogo. Para mim é claro que existe uma ausência de equilíbrio nesta questão. Se permitem relvados inferiores, ao menos que permitam aos clubes primodivisionários a não obrigação de tantos titulares na ficha de jogo. Não se podem contemplar os problemas de uns, ignorando os dos outros, até porque a tal “festa” depende e muito dos maiores clubes e da sua capacidade de mobilização de adeptos.

Aparentemente, o Oleiros recusou as receitas de um jogo disputado num estádio melhor equipado e com mais hipótese de alargar o lucro da disputa desta eliminatória. Está no seu direito. Lamento que a Câmara Municipal tenha gasto dinheiro do bolso dos contribuintes para investir no que faltava para que o Estádio Municipal pudesse acolher a partida, mas esse gesto terá de ser contestado pelos munícipes de Oleiros e não por mim. O que eu contesto é mesmo o regulamento da competição e a avaliação que a FPF faz deste tipo de relvados, permitindo que o que não é tido por “suficiente” na I Liga, possa sê-lo na Taça de Portugal. Sem qualquer compensação (também ela regulamentar) dada às equipas que pagam por mês o valor do lucro de um jogo destes…a um jogador. O amadorismo não devia ser a bitola. Não é assim que se respeitam os clubes e por consequência, os espectadores.

Como é óbvio, principalmente depois das palavras de Bruno de Carvalho, o Sporting comparecerá em Oleiros com os jogadores que achar necessários para dignificar a competição e vencer o encontro. A polémica se existiu (e os jornais bem tentaram) acabou. Nas palavras do presidente do nosso clube morreram as desconfianças levantadas por vários títulos que nos colocavam contra o clube de Oleiros, contra a CM de Oleiros e (até vejam lá isto..:) contra as gentes daquela terra, vítimas de “uma verdadeira catástrofe chamada incêndios e a precisar de um bom motivo de festa”. Afinal parece que não somos um clube de ogres, vampiros e papões que andamos pelo país a desmembrar crianças e a empurrar velhinhos de ravinas abaixo. Afinal não só vamos a Oleiros, como vamos de boa vontade e com espírito de ajuda à tal população. 

Linhas na imprensa sobre o gesto leonino? Artigos sobre as palavras de BdC? Menções ou elogios à nossa atitude? Reflexos da nossa acção junto das “gentes de Oleiros”? Pois é…zero. Não interessa. Pintou-se o “ogre” e isso é que interessa. A paz, a fraternidade, as boas acções, a tal “festa” afinal não merecem registo. Ninguém quer saber, muitos menos os jornais e dezenas de programas de tv diários, do que há de bom no nosso futebol. O “bom” Sporting não interessa. O “bom” BdC não interessa. Só nos valorizam o “mau”…que ainda por cima é, na esmagadora maioria das vezes…inventado.


Saudações Leoninas

9 comentários:

  1. Outros vão jogar ao Restelo, descansar no hotel Sheraton e comer um pastel de nata depois da partida. Outros substituem jogos no Algarve por jogos na Luz "por causa da receita do visitado". Outros, antes de um jogo importante para a liga dos campeões, são "obrigados" a meter atletas profissionais e muito bem pagos, pelo clube, a competir num campo de solteiros e casados. Vêm aqui alguma dualidade de critérios? Nahh! Mais do mesmo, enquanto isso o Fernando Gomes só fala do mesmo, acordou para a vida na questão das críticas à arbitragem e nem existe mais nenhum problema, não há vouchers, não há cartilhas nem e-mails, não, o problema é a equipa que o Sporting apresenta em Oleiros. Haja paciência que a mim começa a escassear.

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    1. Exactamente. Sempre que é o Sporting toca a atacar, mas os outros fazem pior e está sempre tudo bem.

      E o gomes deveria estar agora calado. Se queria falar que o tivesse feito antes.

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    2. Totalmente de acordo. Mas...
      o campo de Oleiros serve para o Sporting jogar, mas o do Lusitano de Évora já não serve para o FC Porto, e já se fala que o do Olhanense também não servirá para o clube do Alto dos Moinhos jogar, devendo este jogo ser transferido para o Estádio da Luz do Algarve.

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    3. O campo do Oleiros é de relva artificial, não tem buracos nem terra à vista como mostram as fotos do Olhanense. O do Lusitano não conheço.
      Comparem o que tem comparação, não se armem em Calimeros do Campo Grande.

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    4. Fernando Gomes não criticou quem critica árbitros, mas os que criticam o "juiz" meirim e outros elementos ligados à justiça(?) desportiva -porque são estes que estão em foco e que, na retaguarda, tendem a seleccionar quem querem proteger.

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    5. Anónimo parvo...sendo tu especialista em relvados e certamente frquentador de alguns responde apenas a esta questão:

      O que pode ser pior para o jogador: jogar num relvado sintético cujo amortecimento em caso de queda ou salto é quase nulo ou um relvado com buracos ( que não se tenha visto ou veja na 1º Liga, inclusive 3 grandes ) e que pode ser resolvido colocando um tufo de relva?

      Não digas merda....nem te armes em Calimero da freguesia.

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  2. Confesso que não percebo que o argumento a favor da possível utilização de 2ª escolhas seja o perigo de lesão. Se o Gelson Dala se lesionar não faz mal, mas se fôr o Gelson Martins já faz, é isso?
    Digo aqui aquilo que sempre defendi.
    O problema não são os sintéticos, é a qualidade dos campos. Tal como há sintéticos de má qualidade também há relvados naturais de má qualidade que dão origem a lesões (o Gauld pode confirmar esta minha afirmação).
    O Boavista jogou uma série de épocas em relvado sintético, o futebol de formação é joagado numa maioria esmagadora dos casos em sintéticos. Não há registo de que tenha havido um aumento de lesões.
    Eu por mim prefiro pressionar a FPF e LPFP para garantirem a qualidade necessária dos relvados, sejam de que tipo forem, do que esta "cruzada" contra os sintéticos

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    1. Pode sempre questionar o Hugo sobre a preferência de relvado. Ele o o tendão de Aquiles de um seus peś podem responder com mais assertividade.

      Quanto ao aumento de lesões....não é bem assim. E se menos há é por habituação do jogador ao seu local de treino e jogo durante semanas,meses e anos. Infelizmente esse não é o caso de uma equipa que joga em relvado natural e depois vai ao sábado jogador em sintético ou pelado.

      Por alguma razão durante anos a fio a equipa que jogava em relvado quando na semana seguinte ia a um sintético ou pelado os resultados eram sempre pior ou as lesões aumentavam.

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  3. Grande reflexão.
    É pena é ser feita (só) aqui, longe do público inculto que ainda pensa que as competições em Portugal são profissionais e isentas.

    SL

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