sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Treinador Português - verdades e mitos

Com o abandono de Julio Velasquez do Belenenses e a sua substituição por Q.Machado, na I Liga sobra apenas o treinador do Estoril e Boavista como únicos não Portugueses. As experiências com treinadores fora do nosso mapa competitivo (e o Boliviano quase que é mesmo da “casa”) são cada vez mais votadas ao insucesso. Existem muitas razões para que tal aconteça e algumas delas são motivo de grande orgulho, pois espelham o sobretudo uma competência táctica e uma resiliência feroz em construir algo com zero. 
Mas confesso que torço o nariz ao discurso da superioridade dos técnicos lusos quando se sai do enquadramento da nossa Liga. Primeiro porque no futebol global e sobretudo no mercado global há cada vez menos diferenças entre treinadores, venham eles de Portugal, Holanda, Eslovénia ou Islândia. Isso seria o mesmo que dizer que a Seleção Nacional ou a Francesa são “africanas” só porque têm bastantes jogadores oriundos desse continente. Cedric e Adrien serão “alemães” ou “franceses”? Se “culparmos” o nosso espaço competitivo e não a nacionalidade estaremos mais próximos da verdade. Mas o que faz com que a nossa Liga “forme” treinadores tão qualificados, e os “estrangeiros” tão destinados a curtas experiências?

1/ O treinador português tolera melhor a falta de recursos, incompetência e desorganização das estruturas directivas.
2/ A língua ainda é uma vertente importante, a maioria dos jogadores estrangeiros é latino-americana o que dificulta bastante a chegada de treinadores de outras origens que não entendam Português ou Espanhol. Além do mais, ao contrário de outras realidades, no futebol português o domínio da língua inglesa não permite que seja usada como ferramenta de comunicação universal.
3/ O salário médio de um treinador da I Liga não é atractivo e é muito inferior ao de Ligas muito inferiores como a Suíça ou Escocesa, Grega ou Turca.
4/ Os treinadores estrangeiros que têm chegado a Portugal nas últimas épocas, estão desenquadrados de projecto e sustentação curricular, sem apoio suplementar ou experiência de nota…caem verdes no chão ainda antes de conseguirem dizer “Isto é falta?!”
5/ A maioria dos dirigentes dos nossos clubes não tem habilidade ou conhecimento para fazer uma aposta justificável num treinador estrangeiro ou sequer a vontade de pagar pela competência se a existir.
6/ A vontade da maioria dos clubes da I e II Liga é recrutar um treinador que já possua uma boa noção do mercado de jogadores internos, pois muitas vezes são eles que vão usar os seus conhecimentos junto dos restantes emblemas ou empresários para assegurar reforços.
7/ Tacticamente a I Liga e a II Liga não são tão evolvidas como se apregoa, a questão prende-se muito mais com o aperfeiçoamento de uma forma de jogar. A diferença entre jogar em casa e fora é enorme e existem 4 disposições convencionais: jogar em casa, jogar em casa contra um clube grande, jogar fora e jogar fora contra um grande. Dominar estas nuances pode parecer básico e de bom-senso…mas não é assim tão simples. A esmagadora maioria das equipas só conheçe dois modelos de comportamento: contra-ataque puro e contra-ataque com tentativa de controlo da posse de bola. A diferença é mínima e é aqui que os treinadores de fora se espalham ao comprido. Muitas vezes sem jogadores com mentalidade para fazer pressing, colocar uma equipa em ataque continuado é abrir o jogo e libertar espaços para um contra-ataque bem sustentado e as equipas mais “pequenas” dificilmente conseguem contrariar a tendência para defender bem e depois logo se vê. O treinador português trabalha primeiro para o zero-zero e só garantido esse pressuposto, esse equilíbrio no jogo é que se atreve a outros desígnios…somos uma espécie de Calccio, mas com jogadores menos evoluídos.
8/ Por último, talvez uma dos aspectos mais importantes. O treinador em Portugal sabe fazer “formação”, sabe adaptar um jogador a uma nova posição, sabe corrigir-lhe defeitos tácticos e técnicos, sabe trabalhar a envolvente física e sobretudo mental. Esta super valência, este homem dos 7 instrumentos acaba por ter uma visão muito abrangente do treino e do jogo, estando mais apto a sobreviver no caos e a retirar mais do que seria suposto de um conjunto de jogadores.

A prova dos 9 é sempre a experiência noutras ligas mais competitivas. Mourinho e Jardim são casos de sucesso comprovados, Paulo Sousa, Carlos Carvalhal e Paulo Fonseca vamos ver, mas Vitor Pereira, Paulo Bento e Villas Boas não provaram nada que se possa definir como um “case-study” de méritos acima da média ou acima de qualquer outra nacionalidade. Uma coisa é certa, Mourinho só existe mesmo um e mesmo a atravessar um longo período de “seca” de títulos convém lembrar que os desafios que aceita estão ao nível dos mais árduos do futebol Mundial. É que ser campeão no Olympiakos na Grécia ou garantir a Liga Europa com o plantel da Fiorentina não são proezas capazes de garantir que o “Jouzei” terá sucessores à sua dimensão tão cedo.

SL

1 comentário:

  1. Falta um ponto muito importante. Bem pelo menos, no caso do belenenses.

    Os estrangeiros não vêm para o campeonato da mentira.

    Segundo percebi. O espanhol não dev estar para papar grupos e sai.
    Com o seu silêncio bem pago.

    Ninguém estranhou a saída do Sá Pinto?
    Com certeza viu e viveu em Belém a javardice anti SCP e lambecolhoada ao carnide.
    E estou convicto que só não se chibou porque há um suposta relação de amizade.Mas daí a pactuar com a nojeira.... esteve bem Sá Pinto.

    E o silêncio da estrutura azul, relativamente à porca campanha tonel não deve ter ajudado.

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