Todos nós
já perdemos pelo menos alguns minutos (alguns horas e uns poucos de doentes
como eu talvez até demasiadas horas) esta época a tentar encontrar explicações
para a quebra de rendimento da equipa principal de futebol, especialmente por
comparação à anterior.
Poupo-vos
especulações e voltas ao bilhar grande e vou direito ao que eu acho que podia
melhorar e de certa forma afectou o rendimento da equipa este ano:
1/ Quem
contratar e por quem
Começam a
aparecer rumores que o poder dado a JJ este ano de ter mais "mão" nos
jogadores poderá ser retirado e
"dizem", que pode ser substituido por um padrão de jogadores
mais jovens, mais baratos e escolhidos por um quadro de decisores mais
alargado. Não sei de onde vem esta informação e sinceramente, isso, pouco me
importa. É um erro pré-formatar escolhas futuras. Um clube que decida só
contratar um tipo de jogador (com uma certa idade, uma certa origem, um certo
preço ou uma certa morfologia física) é
um clube que se apresta para desperdiçar boas oportunidades de mercado e
sobretudo padronizar demasiado o seu plantel. Se há coisa que as leis da selecção
natural nos ensinam é que a diversidade acrescenta mais opções de crescimento e
no futebol essa regra é infinitamente valiosa. Ter experiência aliada de
juventude, ter impetuosidade suportada por ponderação, ter velocidade
vertiginosa contrabalançada por temporização, ter altura para dominar o jogo
aéreo e ao mesmo tempo baixos centros de gravidade para dominar e driblar
adversários, ter a arte de seleccionar um puto maravilha enquanto se aposta
valentemente num jogador maduro e decisivo…uma equipa não é uma secção de 4
ferros a unir 11 bonecos de madeira, exactamente iguais…isso chama-se
matraquilhos. Uma equipa é uma amalgama de coisas diferentes que se combinam
conforme o jeitinho de um bom treinador.
Dizer que
a partir da próxima época se vai mudar o paradigma de contratações é absurdo.
Cada necessidade deve ter uma solução adequada ao problema e dou como exemplo a
contratação de Bas Dost. Vendido Slimani, e tendo a norma de só contratar
valores jovens e em ascenção, o holandês seria imediatamente descartado,
desperdiçando-se o que agora vemos como a melhor contratação da época e 10
milhões de euros muitíssimo bem gastos.
Não sei
quem sugeriu, quem observou e decidiu contratar os reforços desta época, mas
dou até de barato que JJ tenha tido o poder que outros no mandato de BdC não
tiveram na hora de decidir este ou aquele. Mas sei de uma coisa, se há alguma
faceta de ineficiência reconhecida ao treinador leonino, essa é mesmo a escolha
de contratações. A saga do lateral esquerdo é uma "piada" mítica no
futebol português desta década e honestamente o Jorge fez por merecê-la. Isso
quererá dizer que retirando a JJ a palavra final quanto a reforços se resolvem
todos os problemas? Não e quem pensar que isso é verdade pouco se lembrará dos
erros de casting nos tempos "pré-jorgejesuíta", que foram, diga-se,
bastantes. Além do mais, convém também ter memória no sentido inverso. O Cruyff
da Reboleira não errou sempre e muitas das vezes sacou coelhos de cartolas
insuspeitas, fazendo entrar muitos milhões pelo mesmo caminho se costuma situar
a sua magnânime teimosia. Neste ponto como no ponto anterior é muito mais
saudável optar pelo equilibrio e por uma nova estrutura de scouting que
fundamente cada opção de forma tão cabal que até JJ se sinta seguro nas suas
recomendações ou propostas. O ordenado e sobretudo o estatuto acumulado pelo
treinador leonino em Alvalade deveria ser suficiente como prova de confiança e
autoridade. Recusar uma decisão mais colegial, quando essa estiver melhor
preparada será apenas arrogância e desconfiança e isso não é um comportamento
que interesse ao Sporting como empresa que movimenta muitos milhões e deseja
valorizar-se, como instituição plural, em muitos mais. "Fui eu que
fiz", "fui eu que contratei" ou "fui eu que fui buscar este
ou aquele" cheira demasiado a egocentrismo e muito pouco a uma estrutura
hiper conhecedora, proto-científica e adaptada a uma era digital onde todos os
jogadores do mundo estão identificados e são acompanhados desde os 6 ou 7 anos
de idade.
2/ Quem
fala e para quem fala
As
críticas feitas à Comunicação do Sporting no ano passado, valeram uma atenta e
mais sólida ideia do que haveria de mudar para esta época. Na minha opinião as
mudanças foram muito positivas. Não só se resguardou a imagem do Presidente,
como se deu mais elan ao que o clube "quer dizer". Mérito seja dado a
BdC, que entendeu não ser viável a continuação da sua aparição nos media, por
vezes mais do que uma ocasião durante a semana. Mérito seja também dado a quem
escolheu o actual Director da área. Pessoa que me parece ter escolhido um tom
apropriado para fazer as vezes do Presidente, ainda que faltem algumas agulhas
por acertar quanto à exagerada diversidade de alvos.
O que
ainda não foi feito e urge realizar é uma nova abordagem com os diversos media,
que persistem numa ofensiva permanente e hostil. Não consigo justificar a
bipolaridade de manifestar indignação por uma (ou muitas) notícias veiculadas
pelo jornal O'Jogo numa Segunda-feira e à Sexta dar uma entrevista exclusiva à
mesma publicação. Das duas uma, ou são meios "non-gratos" ou não são
e de uma coisa eu tenho a certeza, não é esta hesitação que nos devolve
respeito. Arrisco dizer que os directores de várias estações de tv, jornais e
rádios "contam" com a indignação leonina, tanto como apostam na
ausência de consequências da mesma. A frase "cão que ladra, não
morde" ilustra o que penso sobre esta questão.
É sabido
que para conquistar um novo poder ou mais espaço de acção é preciso desafiar o
poder que está instalado e diminuir o espaço deste último para que seja mais
facilmente disputado. Esta é uma lógica que impera desde no nosso planeta, e
todos os seres vivos o fazem, desde as plantas, aos animais e claro, o homem. É
entendível que o Sporting se instale na linha da frente na hora de criticar o
Nacional-Benfiquismo em que o nosso futebol se transformou. Mas todas as
estratégias têm um limite e esse deve ser definido na celebração da primeira
prioridade da nossa Comunicação que deveria ser, sempre, arrumar a nossa casa
primeiro. Tenho visto a opinião firme de muitos (e bons) sportinguistas de que
as duas operações não são incompatíveis. Verdade. Mas devem ser priorizadas.
Ver, ouvir e ler uma insistente e voraz torrente de opinião institucional
apontada ao nosso clube rival é também uma forma de distracção do nosso
principal foco, além de uma valorização excessiva do peso desse clube. Há um
ponto de equilíbrio e este ainda não foi encontrado. Para gáudio dos nossos
adversários, a ineficácia da nossa equipa só predispõe esse esforço a piadas
que não são tão tontas como parecem e desgastam muito mais os nossos
responsáveis do que o que muita gente supõe.
O único
candidato que fará oposição a BdC nas próximas eleições parece muito mais um
produto da "vergonha alheia" de muitos sportinguistas que gostam de
estar bem com Deus e com o Diabo, do que emergente de um movimento com ideias
concretas e estruturais oponentes às políticas seguidas por esta Direcção. A
esmagadora maioria dos adeptos leoninos pouco se preocuparão com o que os
adversários pensam sobre o que o Sporting "diz", mas existe ainda
assim uma minoria que preferia que o clube se silenciasse (sofrendo as
consequências que conhecemos) para que os seus jantares e conversas à volta de
um envelhecido brandy com adeptos de outras cores tivessem bem menos assuntos
clubísticos para justificar. E este pormenor leva-me a outro aspecto, a
"oposição". Não é com paus e pedras que se resolve a ingratidão e o
snobismo. É com desprezo e indiferença. O Sporting continua a não conseguir
isentar-se de tentar não deixar "ladrar" os cães. Atitude tão
ineficiente como apropriada. Ao abrir flancos internos, perde caudal e energia
valiosa, eleva o estatuto e capacidade de produzir ruído de alguns
"piratas" de gravata e sobretudo empurra estes figurinos para os
braços acolhedores de muita imprensa sequiosa de sangue.
3/ O
entendimento errado de um modelo de organização
Todos os
clubes em Portugal adoptaram o que se chama um modelo presidencial. Existe uma
figura que concentra todo o poder e apenas pela delegação do mesmo, o pode
partilhar. Esta concepção de que é a única via adaptável ao futebol português é
um pouco desprovida de argumentos e muitas das vezes justifica apenas a
incapacidade dos nossos dirigentes para conseguirem agir em concertação em
longos períodos de governação. Só esta incapacidade era digna de muita
reflexão, mas vou deixar as concepções sócio-culturais lusas de fora deste
texto, preferindo concentrar-me nos erros que o tal modelo tem no Sporting. Tão
pouco me importa se apenas repetimos erros que outros partilham. Não conheço os
meandros dos outros clubes e se estiverem errados, melhor ainda. Preocupa-me o
Sporting e que, este, prevaleça sobre os demais.
Ter poder
não significa tê-lo todo e a toda a hora. Aliás nas primeira regras de um bom
gestor, surge destacada a capacidade de delegar tarefas. Como delegar bem, as
tarefas e o poder? Obviamente escolhendo bem as linhas sucessórias de decisão,
mas não só. Escolher um bom Director de área, para depois não confiar nas suas
decisões e continuamente desautorizá-lo vale pouco. Um Presidente, diria
Maquiavel deve permanentemente moldar os seus delegados, confiando e fazendo um
empowerment suportado em estímulos positivos. Recompensa positiva ou elogios
quando acertados, Menos recompensa e menos elogios quando errados. Nunca, mas
nunca, exercer pressão indirecta ou atravessando-se na margem e espaço de
protagonismo dos seus coordenadores. Se assim suceder, o poder permanece nas mãos do presidente e
de muitas formas até o reforça. Se a estrutura for forte e eficiente o poder da
primeira linha engrandece, se ocorrer o contrário de pouco valerá o
autoritarismo e a permanente mania de retirar confiança. O ponto decisivo é
mesmo a escolha a quem se delega poder e ao contrário de muitos manuais
antiquados de sobrevivência política, um líder não ficará mais forte se eleger
figuras de suporte com menos visibilidade, carisma ou capacidade de
auto-operação…apenas ficará mais fácil de dominar a estrutura, com pouquíssimos
ganhos para a mesma.
Em muitas
coisas, acho que BdC não tem o elenco que poderia ter. Em muitas coisas
acredito que se o tivesse (e especialmente se o aproveitasse) daria um salto
qualitativo muito grande às operações desportivas e financeiras do nosso clube.
"Falar a uma só voz", um dos slogans mais memoráveis da última
campanha eleitoral do Sporting implicou uma concentração de demasiadas pastas
em cima das costas de BdC e apesar de um benefício imediato na hora de impor
mudanças profundas (num cube com enorme profusão de pequenos e grandes poderes)
é chegada a hora de avançar e abdicar de um Presidente que decide tudo para
ganhar um Presidente que escolhe bem quem irá decidir. Por incrível que pareça,
um Director técnico no Andebol que seja perito em andebol, decidirá melhor que
BdC. Por incrível que pareça um Director de Marketing que seja um excelente
Marketeer decidirá melhor que BdC. E o mesmo retirará sempre os frutos, além de
claro, o clube.
4/ Ainda
e sempre, os árbitros
Muito foi
feito nesta área e não se pode dizer que o Sporting não tenha tentado de tudo
para mudar o quadro sistematicamente prejudicial neste capítulo. BdC de forma
muito persistente tem feito gato sapato para que os homens do apito não tenham
como passatempo predilecto afogar as nossas esperanças desportivas em enganos
convenientes, em momentos decisivos. Haverá algo mais a fazer? Sim.
Se formos
à origem do problema, podemos facilmente detectar que o que permite a muitos
árbitros o salvo-conduto para nos prejudicar é a noção generalizada de que ao
fazê-lo estão a agradar ao "sistema" e a dar gás às suas carreiras
(agora profissionais). Se é aqui começa é por aqui que o Sporting deve atacar.
O Benfica há uns 12 ou 13 anos detectou o mesmo problema, mas a sua solução foi
"apenas" ser mais astuto, dissimulado e sobretudo científico na
tentativa de inclinar o tabuleiro para o seu lado. Demorou mas chegou lá. Hoje
o colinho vermelho é muito mais eficiente e difícil de detectar que a fruta ou
café com leite de outros tempos, mas é igualmente corrupta e anti-desportiva.
Como pode
o Sporting não fazer o que os outros fazem (em alguma coisa acho que somos
mesmo diferentes e esta é uma das principais para o parco número de troféus ganhos nos últimos 40 anos) e ainda assim
garantir arbitragens justas e equilibradas nos seus jogos? Só vejo uma solução.
Combater ao lado dos bons árbitros, dos que querem genuinamente um sector mais
independente, isento e sobretudo imune a pressões e chico-espertices. Primeiro
problema - onde estão estes árbitros? Não sei, não sou perito. Mas recorro a
uma figura bíblica para definir aquilo que deveria ser o nosso caminho. Se no
todo da arbitragem o Sporting não consiga encontrar quem partilhe consigo o
ideal de uma arbitragem melhor e menos manobrável…então é hora de arrasar tudo
ao seu alcance tentando implodir tudo o que possa implodir, desejavelmente não
restando pedra sobre pedra. Não vejo outra estratégia possível, não alcanço
outras vias desejáveis. E urge encontrar e definir algo que mude o panorama
actual, que será sempre, época após época, um dos nossos principais factores de
fracasso, desunião e desconfiança.
SL
Discordo totalmente sobre as melhorias no departamento de comunicação, e acho que a escolha do Saraiva para o dirigir foi muito infeliz. Acho-o totalmente desprovido de carisma e presença, tanto que ninguém o leva a serio. 90% das suas intervenções são disparates e na maioria das vezes embaraçosos para o clube. Eu não tenho agora tempo para fazer um texto muito elaborado, mas passaram quatro anos desde que o Bdc chegou ao poder e as criticas que no inicio se faziam são praticamente as mesmas que se fazem hoje. E isto e grave. Continuamos a ser os reis dos comunicados e a palavra benfica e proferida quase tantas vezes como a palavra Sporting.
ResponderEliminarE de resto, tal como nos anteriores, ainda ha muito a aprender acerca de timmings de vendas e contratações. Eu acho que faz todo o sentido procurar-se o melhor negocio possível, mas e também importante delinear um timming favorável para que aconteçam. Nesta época isso falhou claramente, a venda tardia do Slimani e do Joao Mario atrasaram completamente o planeamento da época. Os reforços mais sonantes chegaram ja com a época a decorrer e muitos deles vieram sem ritmo depois de vários meses parados. Isto para mim e um ponto altamente importante, basta ver que so agora a maioria dos nossos reforços parece estar a entrar no ritmo.
Isto e extensível a perceber-se qual o momento maximo de valorizacao dos nossos jogadores. E eu acho que esse momento em relação ao William e ao Adrien ja passou, e mais nenhum clube apresentara propostas superiores a 30M. O caso do William entao e do mais ridículo que pode haver, vê-se claramente o quao desmotivado o jogador esta. E no caso do Adrien, se havia promessas feitas, enato tínhamos de as cumprir.
Isto das promessas e outro ponto importante. Estou farto de ouvir e ler que o sporting não honra os seus compromissos, alias ja são vários os casos em que aparentemente negociamos um ordenado inferior em funcao de valores por objectivos maiores e depois não os pagamos. Foi com o Teo, foi com o Naldo e aparentemente o mesmo esta a atrasar a contratação do Coates.
Para mim a vitoria do Bdc ja esteve mais certa, e o disparate pos jogo de chaves pareceu-me um momento de ruptura com conseqüências ainda por compreender. Veremos o que acontece no jogo de hoje.
Tenho algum receio que o Bdc esteja neste momento drunk with power.
Se bem me recordo, quando Bruno de Carvalho chegou à presidência do Sporting, o tema era a sua idoneidade e seriedade e capacidade de gestão. Era um empresário que havia falido uma série de empresas de construção. Não tinha provas como gestor para ser presidente do Sporting.
EliminarSeria interessante perceber se o JJ tem, ou não, participação em passes de jogadores. Quando foi para o clube de m...., levou com ele um guarda-redes brasileiro do Belenenses (não me lembro o nome) que só jogava nos encontros europeus e do qual tinha parte, ou a totalidade do passe. Reparem bem que nunca mais falaram na célebre indemnização dos 14000000€ para os fdp da 2ª circular! Será que foi porque o JJ se calou? Markovic? Alan Ruiz? Petrovic? Castaignos? Que jogadores são estes?
ResponderEliminarMais um desaire...o problema é tão evidente...
ResponderEliminarE mais uma oportunidade perdida por ti para não escreveres disparates.
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