Pois eu e todos os sportinguistas apesar de
conhecermos poucos japoneses, devemos, cada um, conhecer bem mais “soldados
perdidos” no campo futebolístico. Estão a ver aquele tipo, vamos
chamar-lhe convenientemente de “Zé Manel” que paradoxalmente compra religiosamente
um diário desportivo, ouve todos os programas da radio sobre bola, vê toda a
cangalhada de paineleiros que popula nas TVs…e depois diz à boca cheia “Eu não
vou à bola! Dar dinheiro a esses chulos! Isso é que era bom!”
Todos têm direito a ser o adepto que quiserem,
mas tenho de confessar que muitas vezes tenho de refrear o Chuck Norris que
tenho cá dentro para não aplicar na hora um daqueles golpes que têm o condão de
ser particularmente humilhante para quem o sofre. Por mais que encarne a figura
socrática de respeitar e tentar estruturar qualquer argumento como válido,
aquilo parece-me sempre…estúpido.
Mas não me limito ao insulto. Eu explico
porquê. Ir à bola não é só escolher o meio de transporte, chegar ao estádio e
entrar, sentar no lugar e ver o jogo, sair do estádio e ir para casa. Isso é a
experiência do sofá aplicada à lógica fora de casa. Ir à bola é muito mais do
que isso. Há qualquer coisa de rito ali misturada. Qualquer coisa que nos
pacifica com o desporto, às vezes até mais do que praticá-lo (que também
aconselho vivamente).
Para mim, ir à bola, é como ir visitar a
família. A família mais cool e animada possível. Uma família que se está a
cagar para os teus dramas e problemas existenciais. Se estás lá, tás
bem. Se estás lá, estás com todos e todos estão a partilhar o mesmo: o amor ao
clube. O centro não és tu. Tu és só mais um e todos nos comportamos
seguindo rigorosamente este contrato.
Esta sensação de abandono torna-nos menos
egocêntricos e a pertença torna-nos mais ligados a algo que não depende do
quanto tens na carteira ou em que colégio é que pões os teus filhos. É ir à
bola que nos impede de deixar de gostar da “bola”. No dia em que me transformar
em “Zé Manel” peço a uma alma sportinguista caridosa, que me meta na mala de um
carro e que me largue em plena Praça da Maratona em dia de jogo.
O “Zé Manel” refugia os seus argumentos
normalmente na falta de verdade desportiva e no facto de muitos dos estão no
centro do negócio desportivo enriquecem a olhos vistos. Ora, isto é pior que
ficar numa trincheira 30 anos depois da Guerra acabar. Primeiro porque a falta
de verdade desportiva não o impede de comprar o jornal
ou despender 40 horas semanais a ver e ouvir tudo o que é programas
de “bola”. Segundo porque não é só no futebol que bandalhos fazem
fortunas. Se fosse por aí, o Zé Manel não votava, não ia a restaurantes, não ia
ao cinema, não jogava no Euromilhões, não ia a discotecas, não tinha conta em
nenhum banco, não via TV, não ia ao supermercado, não tinha telemóvel nem comprava
roupa em nenhuma loja do grupo Inditex.
O Zé Manel não sabe, mas devia saber, que
seria uma pessoa bem mais feliz se juntasse todo o dinheiro que investe
mensalmente em “propaganda barata” e o convertesse numa Gamebox anual. De 15 em
15 dias teria acesso a doses regulares de realismo, convívio e paixão fidedigna
em vez de se intoxicar diariamente com cinismo e hipocrisia, dando o seu
dinheiro aí sim aos “chulos” do sistema.
Depois de ir à bola, o nosso amigo,
descobriria que o verdadeiro paineleirismo é feito à beira das roulotes 1h30m
antes do jogo. Descobriria que todas as reflexões de Miguel Sousa Tavares cabem
numa beata encostada ao torniquete. Descobriria que vestir uma camisola e
colocar um cachecol, seja de que marca e época for, vale por todos os genéricos
com o som de claques mal misturado com musicas de banco digital. Descobriria
que a grande maioria da informação e debate à volta da “bola” é feita para
pessoas que não gostam de “bola”.
Da próxima vez que virem ou ouvirem um “Zé
Manel” pensem no Sr. Onoda e façam-lhe um favor, digam-lhe para sair da
trincheira.
SL
Saí da trincheira, lá estarei na Superior "B" Norte a acompanhar o espectaculo proporcionado pela nossa equipa e pelas nossas claques...
ResponderEliminarBye bye trinchadores...
Grande texto
ResponderEliminarEu este ano comprei box para mim e para a minha filhota, lá estaremos no B17!!!
ResponderEliminarComprei a minha primeira Gamebox e lá estarei a apoiar o Sporting! Estou ansioso por viver tudo o que envolve um dia de jogo em Alvalade e farei questão de ir com a antecedência necessária para os viver como deve ser.
ResponderEliminarSL
Lindo, um dos melhores posts! Concordo na integra...
ResponderEliminarEsse fenómeno é parecido com cobardia eheheh
Brilhante texto.
ResponderEliminarHá 12 anos que saí da trincheira e faço tenção de continuar a ir à bola!
saint
SL
Infelismente ...temos muitos "soldados perdidos" nas nossas trincheiras...
ResponderEliminarLá estarei também na A22...
SL
"infelizmente" e não como escrevi antes...
ResponderEliminarSL
Vamos a contas:
ResponderEliminarO Manchester ofereceu 20 milhões pelo Rojo. O Sporting detém 25% do passe, o que dá 5 milhões de euros. Como ainda devem 1 milhão ao Spartak que têm de ser pagos até 2015, então 5-1=4M. Por fim, o Spartak tem direito a receber 20% da transferência. Ora, 20% de 20M, se não me falham as contas, são 4M.
4-4= ? eh eh eh