quinta-feira, 12 de abril de 2018

E nós?


Desde o dia 23 de Março de 2013 que arrancou um relógio. E com ele um countdown. Esse relógio só irá parar no dia em que Bruno de Carvalho cessar a sua presidência. 

Quem carregou no timer e fez andar os números foram um conjunto bastante diverso de sócios, com um conjunto bastante diverso de razões, com um conjunto bastante diversificado de tentáculos na nossa sociedade de país pequeno, conservador e habituado a permanecer nas réstias de um poder neo-feudal onde os grandes e poderosos se eternizam nesse estatuto, não porque são mais inteligentes, empreendedores, corajosos ou inovadores que os demais, mas porque se amarraram, qual jibóia, à torneira política e financeira do Estado da nossa República.

Desde a infância que estes neo-fidalgos ouvem dizer aos pais que estão destinados a grandes carreiras estudantis, a grandes cargos nas Associações de Estudantes, a grandes Cursos nas grandes Faculdades, a belas cunhas em Sociedades de Advogados, Empresas Estatais ou figuras de proa nas Juventudes Partidárias. Não há que temer nada na vida, não que lutar arduamente por nada na vida. Há apenas que ter…classe e elegância. Seja em que situação for. Vestir marcas que “pareçam bem”. Ter conversas de “bom tom”. Frequentar restaurantes e hotéis onde se “está bem”. Passar férias onde se “aparece bem”. Escolher profissões com “bom estatuto”. Escolher amigos de “boas famílias”. Tudo tem de ser e parecer “bem”.

O Sporting foi isto durante quase toda a sua existência. 

Mas eis que surge um agente perturbador. Não na sua forma, mas no seu conteúdo. Bruno de Carvalho nasceu numa família “com nome”, com familiares ilustres, estudou numa excelente faculdade e provavelmente tem muitos amigos “bem na vida”. Provavelmente sempre vestiu “boas marcas”. Provavelmente nunca temeu pelo pão e janta do dia seguinte. Provavelmente nunca temeu por ver um dos pais desempregado. Provavelmente nunca ficou sem prenda, porque naquele mês a coisa não correu bem. Na forma e na origem Bruno de Carvalho deveria ido trabalhar para a empresa do pai de um amigo, para um instituto de um colega de curso do tio ou uma repartição estatal onde seria acarinhado por um director amigo de um primo. Bruno de Carvalho podia ter escutado todas as promessas da sua infância. Mas sonhou ser Presidente do Sporting Clube de Portugal e esse não foi o problema.

O problema foi que quis ser Presidente de um Sporting que ganhasse.

Voltemos aos relógios em countdown. A comunidade de neo-fidalgos, que fez do Sporting o seu Kruger Park, local onde podia visitar a plebe e divertir-se com ela, onde podia “brincar aos pobres” e às paixões dos pobres. Esses que sempre viram e desenharam um clube à medida do seu “bem estar”, um emblema que na lapela “ficasse bem”, de “bom tom”, escutaram com muita atenção as bases da candidatura de Bruno de Carvalho em 2011, provavelmente aliciaram-no com um pseudo cargo, provavelmente tentaram-no com migalhas para que não sonhasse tão alto. Bruno não podia ser presidente. Bruno era só “o Bruno”. Não tinha dinheiro, não tinha amigos com dinheiro, não tinha amigos em posições de destaque nos partidos, não tinha influência nem idade para ser influente. Não tinha, acima de tudo, compromisso com os “tios” que governavam o Sporting. 

Não tendo, como diz o povo, “rabo preso” por nada nem ninguém, Bruno era um sinal vermelho, um alarme, pânico. Nada garantia que “o Bruno” iria abafar, esconder, comer e calar toda herança que qualquer presidente do Sporting teria nesse ano de 2013. E que herança. Toneladas e toneladas de merda. Merda de negócios, merda de esquemas, merda de conivências e ocorrências absolutamente estúpidas e ruinosas. O que “o Bruno” recebeu dos “tios bem” como herança foi, antes de mais nada, um clube gigante gerido como um tasco, uma taberna, uma coletividade de aldeia. Más contas, maus contratos, maus hábitos, má cultura e sobretudo más equipas. Os campeões do “bem” tinham feito tudo “mal”. Sobretudo porque não levaram nunca a sério o Clube, não se dedicaram minimamente ao seu sucesso e crescimento. O Sporting era um brinquedo enorme tratado com a mesma estima de um animal de estimação que dava demasiadas dores de cabeça.

O segundo em que os relógios começaram a contar foi no preciso momento em que o “rapaz”, o “garoto”, “o Bruno” rejeitou servir de mopa dos “tios” e tentar encontrar o seu sonho por entre as toneladas de disparates que era o Sporting. Nesse segundo Bruno de Carvalho quebrou a promessa mais sagrada que um neo-fidalgo escuta desde a infância. 
Os “tios” do Sporting temeram pelos dias seguintes. Algo que provavelmente nunca tinham sentido antes. Temeram pelo seu “bom nome”, temeram pela merda que fizeram, temeram que um Bruno qualquer fizesse o que nunca haviam gasto uma gota de suor para fazer, tornar o Sporting grande, outra vez. E isso foi e ainda é imperdoável. 

Bruno não pode ter sucesso. Bruno terá toda a influência que se puder juntar entre “os tios” para que não tenha sucesso. Bruno não pode jamais conseguir unir a plebe e esfregar na cara dos “nobres” a sua própria decadência. Isso seria a negação dos seus dogmas. Eles são os mais ricos, os que ganham, os que nunca vão presos, os que nunca ficam desempregados, os que jamais temerão ser humilhados e nunca, mas nunca, por quem não tem “a classe” que eles têm.
Hoje, os relógios de todos eles parecem marcar o principio do fim. Hoje saem dos exílios da vergonha e usam do palco e da influência que sempre tiveram. Hoje afiam as facas de marca e vestem o luto do defunto que prometeram fazer. Hoje preparam-se para colocar os seus universos na ordem que sempre teve. 

E nós?

SL

Nota: este texto não pretende passar ao lado de todos os erros cometidos por BdC (foram muitos), não pretender esconder que o Presidente do Sporting está obrigado a uma mudança de actuação, não pretende ignorar que o Sporting tem de ser gerido doutra forma, mantendo a paixão, mas acautelando uma estratégia universal em que cada um sabe o que tem e deve fazer. Consertação, ponderação, foco, objectivo. Mas…não consigo pactuar calado com a “vendetta” que está a ser levada a cabo, por muitos quadrantes da sociedade, organizados e alinhados, à margem do clube, distantes do interesse do clube.

terça-feira, 10 de abril de 2018

O momento

No momento em que o universo leonino mais se devia unir numa demonstração de serenidade e maturidade, alguns preferem, estrategicamente sair das sombras e dos exílios de vergonha para instigar à revolta.

No momento em que devemos todos, no melhor do nosso fervor clubístico ajudar a um clima de apaziguamento e diálogo entre todas as partes do clube, alguns escolhem por um pé fora do barco que sempre os transportou e apontar o dedo, precisamente a quem os protegeu dos erros que eles próprios cometeram.

No momento em que devem ser exibidas bandeiras brancas que tragam foco às equipas que estão a competir, alguns preferem contar espingardas e realizar recrutamentos espontâneos, visando actos sociais futuros, quebrando traiçoeiramente a solidariedade base do nosso associativismo.

No momento em que as declarações públicas e tomadas de posição devem centrar-se para dentro do clube e não para fora, protegendo a SAD de maior desconfiança dos mercados financeiros, alguns aproveitam a oportunidade para retirar mediaticamente o apoio à gestão da SAD, quebrando a lógica de investidor e assumindo as vestes de "controlador".

No momento em que a União deveria ser a palavra de ordem entre os Sportinguistas, alguns elegem dirigir ataques mesquinhos e cobardes a adeptos leoninos que apenas cometem esse pecado capital de não comerem gelados com a testa, ter croquetes como dieta aspiracional ou andar de braço dado com "apoios" oriundos de Carnide.

No momento em que os que criticam Bruno de Carvalho nos poderiam dar esse magnifico exemplo de sensatez, classe e "saber estar", alguns mostram bem o que valem, fazendo, dizendo e escrevendo coisas bem piores do que o Presidente alguma vez será capaz de fazer. Mentira, insinuação, deturpação, desinformação, tudo vale para reescrever a história segundo "Os Nobres do Sporting".

No momento em que o clube mais precisa da inteligência e capacidade de reflexão dos seus sócios, alguns não hesitam em fazer sumarentos convites à estupidez e à ingratidão, ignorando completamente as regras da democracia e do associativismo, tentando criam um movimento massivo de opinião pública que apague tudo o que de bom tem sido feito ao longo dos últimos anos.

É esse o momento em que nos encontramos. E é nesse momento que mais vos convido a voltarmos aos ensinamentos dos nossos pais, avós, professores e demais, lembrando-nos sempre que a palavra, a honra, a gratidão e a solidariedade para quem nos quer bem...jamais poderá ser quebrada. O Sporting não poderá voltar a ser um Solar de Passatempos Heráldicos, um antro de arrogância e de pactos de consanguinidade.

SL