Desde o dia 23 de Março de 2013 que arrancou um relógio. E com ele um countdown. Esse relógio só irá parar no dia em que Bruno de Carvalho cessar a sua presidência.
Quem carregou no timer e fez andar os números foram um conjunto bastante diverso de sócios, com um conjunto bastante diverso de razões, com um conjunto bastante diversificado de tentáculos na nossa sociedade de país pequeno, conservador e habituado a permanecer nas réstias de um poder neo-feudal onde os grandes e poderosos se eternizam nesse estatuto, não porque são mais inteligentes, empreendedores, corajosos ou inovadores que os demais, mas porque se amarraram, qual jibóia, à torneira política e financeira do Estado da nossa República.
Desde a infância que estes neo-fidalgos ouvem dizer aos pais que estão destinados a grandes carreiras estudantis, a grandes cargos nas Associações de Estudantes, a grandes Cursos nas grandes Faculdades, a belas cunhas em Sociedades de Advogados, Empresas Estatais ou figuras de proa nas Juventudes Partidárias. Não há que temer nada na vida, não que lutar arduamente por nada na vida. Há apenas que ter…classe e elegância. Seja em que situação for. Vestir marcas que “pareçam bem”. Ter conversas de “bom tom”. Frequentar restaurantes e hotéis onde se “está bem”. Passar férias onde se “aparece bem”. Escolher profissões com “bom estatuto”. Escolher amigos de “boas famílias”. Tudo tem de ser e parecer “bem”.
O Sporting foi isto durante quase toda a sua existência.
Mas eis que surge um agente perturbador. Não na sua forma, mas no seu conteúdo. Bruno de Carvalho nasceu numa família “com nome”, com familiares ilustres, estudou numa excelente faculdade e provavelmente tem muitos amigos “bem na vida”. Provavelmente sempre vestiu “boas marcas”. Provavelmente nunca temeu pelo pão e janta do dia seguinte. Provavelmente nunca temeu por ver um dos pais desempregado. Provavelmente nunca ficou sem prenda, porque naquele mês a coisa não correu bem. Na forma e na origem Bruno de Carvalho deveria ido trabalhar para a empresa do pai de um amigo, para um instituto de um colega de curso do tio ou uma repartição estatal onde seria acarinhado por um director amigo de um primo. Bruno de Carvalho podia ter escutado todas as promessas da sua infância. Mas sonhou ser Presidente do Sporting Clube de Portugal e esse não foi o problema.
O problema foi que quis ser Presidente de um Sporting que ganhasse.
Voltemos aos relógios em countdown. A comunidade de neo-fidalgos, que fez do Sporting o seu Kruger Park, local onde podia visitar a plebe e divertir-se com ela, onde podia “brincar aos pobres” e às paixões dos pobres. Esses que sempre viram e desenharam um clube à medida do seu “bem estar”, um emblema que na lapela “ficasse bem”, de “bom tom”, escutaram com muita atenção as bases da candidatura de Bruno de Carvalho em 2011, provavelmente aliciaram-no com um pseudo cargo, provavelmente tentaram-no com migalhas para que não sonhasse tão alto. Bruno não podia ser presidente. Bruno era só “o Bruno”. Não tinha dinheiro, não tinha amigos com dinheiro, não tinha amigos em posições de destaque nos partidos, não tinha influência nem idade para ser influente. Não tinha, acima de tudo, compromisso com os “tios” que governavam o Sporting.
Não tendo, como diz o povo, “rabo preso” por nada nem ninguém, Bruno era um sinal vermelho, um alarme, pânico. Nada garantia que “o Bruno” iria abafar, esconder, comer e calar toda herança que qualquer presidente do Sporting teria nesse ano de 2013. E que herança. Toneladas e toneladas de merda. Merda de negócios, merda de esquemas, merda de conivências e ocorrências absolutamente estúpidas e ruinosas. O que “o Bruno” recebeu dos “tios bem” como herança foi, antes de mais nada, um clube gigante gerido como um tasco, uma taberna, uma coletividade de aldeia. Más contas, maus contratos, maus hábitos, má cultura e sobretudo más equipas. Os campeões do “bem” tinham feito tudo “mal”. Sobretudo porque não levaram nunca a sério o Clube, não se dedicaram minimamente ao seu sucesso e crescimento. O Sporting era um brinquedo enorme tratado com a mesma estima de um animal de estimação que dava demasiadas dores de cabeça.
O segundo em que os relógios começaram a contar foi no preciso momento em que o “rapaz”, o “garoto”, “o Bruno” rejeitou servir de mopa dos “tios” e tentar encontrar o seu sonho por entre as toneladas de disparates que era o Sporting. Nesse segundo Bruno de Carvalho quebrou a promessa mais sagrada que um neo-fidalgo escuta desde a infância.
Os “tios” do Sporting temeram pelos dias seguintes. Algo que provavelmente nunca tinham sentido antes. Temeram pelo seu “bom nome”, temeram pela merda que fizeram, temeram que um Bruno qualquer fizesse o que nunca haviam gasto uma gota de suor para fazer, tornar o Sporting grande, outra vez. E isso foi e ainda é imperdoável.
Bruno não pode ter sucesso. Bruno terá toda a influência que se puder juntar entre “os tios” para que não tenha sucesso. Bruno não pode jamais conseguir unir a plebe e esfregar na cara dos “nobres” a sua própria decadência. Isso seria a negação dos seus dogmas. Eles são os mais ricos, os que ganham, os que nunca vão presos, os que nunca ficam desempregados, os que jamais temerão ser humilhados e nunca, mas nunca, por quem não tem “a classe” que eles têm.
Hoje, os relógios de todos eles parecem marcar o principio do fim. Hoje saem dos exílios da vergonha e usam do palco e da influência que sempre tiveram. Hoje afiam as facas de marca e vestem o luto do defunto que prometeram fazer. Hoje preparam-se para colocar os seus universos na ordem que sempre teve.
E nós?
SL
Nota: este texto não pretende passar ao lado de todos os erros cometidos por BdC (foram muitos), não pretender esconder que o Presidente do Sporting está obrigado a uma mudança de actuação, não pretende ignorar que o Sporting tem de ser gerido doutra forma, mantendo a paixão, mas acautelando uma estratégia universal em que cada um sabe o que tem e deve fazer. Consertação, ponderação, foco, objectivo. Mas…não consigo pactuar calado com a “vendetta” que está a ser levada a cabo, por muitos quadrantes da sociedade, organizados e alinhados, à margem do clube, distantes do interesse do clube.
Quem carregou no timer e fez andar os números foram um conjunto bastante diverso de sócios, com um conjunto bastante diverso de razões, com um conjunto bastante diversificado de tentáculos na nossa sociedade de país pequeno, conservador e habituado a permanecer nas réstias de um poder neo-feudal onde os grandes e poderosos se eternizam nesse estatuto, não porque são mais inteligentes, empreendedores, corajosos ou inovadores que os demais, mas porque se amarraram, qual jibóia, à torneira política e financeira do Estado da nossa República.
Desde a infância que estes neo-fidalgos ouvem dizer aos pais que estão destinados a grandes carreiras estudantis, a grandes cargos nas Associações de Estudantes, a grandes Cursos nas grandes Faculdades, a belas cunhas em Sociedades de Advogados, Empresas Estatais ou figuras de proa nas Juventudes Partidárias. Não há que temer nada na vida, não que lutar arduamente por nada na vida. Há apenas que ter…classe e elegância. Seja em que situação for. Vestir marcas que “pareçam bem”. Ter conversas de “bom tom”. Frequentar restaurantes e hotéis onde se “está bem”. Passar férias onde se “aparece bem”. Escolher profissões com “bom estatuto”. Escolher amigos de “boas famílias”. Tudo tem de ser e parecer “bem”.
O Sporting foi isto durante quase toda a sua existência.
Mas eis que surge um agente perturbador. Não na sua forma, mas no seu conteúdo. Bruno de Carvalho nasceu numa família “com nome”, com familiares ilustres, estudou numa excelente faculdade e provavelmente tem muitos amigos “bem na vida”. Provavelmente sempre vestiu “boas marcas”. Provavelmente nunca temeu pelo pão e janta do dia seguinte. Provavelmente nunca temeu por ver um dos pais desempregado. Provavelmente nunca ficou sem prenda, porque naquele mês a coisa não correu bem. Na forma e na origem Bruno de Carvalho deveria ido trabalhar para a empresa do pai de um amigo, para um instituto de um colega de curso do tio ou uma repartição estatal onde seria acarinhado por um director amigo de um primo. Bruno de Carvalho podia ter escutado todas as promessas da sua infância. Mas sonhou ser Presidente do Sporting Clube de Portugal e esse não foi o problema.
O problema foi que quis ser Presidente de um Sporting que ganhasse.
Voltemos aos relógios em countdown. A comunidade de neo-fidalgos, que fez do Sporting o seu Kruger Park, local onde podia visitar a plebe e divertir-se com ela, onde podia “brincar aos pobres” e às paixões dos pobres. Esses que sempre viram e desenharam um clube à medida do seu “bem estar”, um emblema que na lapela “ficasse bem”, de “bom tom”, escutaram com muita atenção as bases da candidatura de Bruno de Carvalho em 2011, provavelmente aliciaram-no com um pseudo cargo, provavelmente tentaram-no com migalhas para que não sonhasse tão alto. Bruno não podia ser presidente. Bruno era só “o Bruno”. Não tinha dinheiro, não tinha amigos com dinheiro, não tinha amigos em posições de destaque nos partidos, não tinha influência nem idade para ser influente. Não tinha, acima de tudo, compromisso com os “tios” que governavam o Sporting.
Não tendo, como diz o povo, “rabo preso” por nada nem ninguém, Bruno era um sinal vermelho, um alarme, pânico. Nada garantia que “o Bruno” iria abafar, esconder, comer e calar toda herança que qualquer presidente do Sporting teria nesse ano de 2013. E que herança. Toneladas e toneladas de merda. Merda de negócios, merda de esquemas, merda de conivências e ocorrências absolutamente estúpidas e ruinosas. O que “o Bruno” recebeu dos “tios bem” como herança foi, antes de mais nada, um clube gigante gerido como um tasco, uma taberna, uma coletividade de aldeia. Más contas, maus contratos, maus hábitos, má cultura e sobretudo más equipas. Os campeões do “bem” tinham feito tudo “mal”. Sobretudo porque não levaram nunca a sério o Clube, não se dedicaram minimamente ao seu sucesso e crescimento. O Sporting era um brinquedo enorme tratado com a mesma estima de um animal de estimação que dava demasiadas dores de cabeça.
O segundo em que os relógios começaram a contar foi no preciso momento em que o “rapaz”, o “garoto”, “o Bruno” rejeitou servir de mopa dos “tios” e tentar encontrar o seu sonho por entre as toneladas de disparates que era o Sporting. Nesse segundo Bruno de Carvalho quebrou a promessa mais sagrada que um neo-fidalgo escuta desde a infância.
Os “tios” do Sporting temeram pelos dias seguintes. Algo que provavelmente nunca tinham sentido antes. Temeram pelo seu “bom nome”, temeram pela merda que fizeram, temeram que um Bruno qualquer fizesse o que nunca haviam gasto uma gota de suor para fazer, tornar o Sporting grande, outra vez. E isso foi e ainda é imperdoável.
Bruno não pode ter sucesso. Bruno terá toda a influência que se puder juntar entre “os tios” para que não tenha sucesso. Bruno não pode jamais conseguir unir a plebe e esfregar na cara dos “nobres” a sua própria decadência. Isso seria a negação dos seus dogmas. Eles são os mais ricos, os que ganham, os que nunca vão presos, os que nunca ficam desempregados, os que jamais temerão ser humilhados e nunca, mas nunca, por quem não tem “a classe” que eles têm.
Hoje, os relógios de todos eles parecem marcar o principio do fim. Hoje saem dos exílios da vergonha e usam do palco e da influência que sempre tiveram. Hoje afiam as facas de marca e vestem o luto do defunto que prometeram fazer. Hoje preparam-se para colocar os seus universos na ordem que sempre teve.
E nós?
SL
Nota: este texto não pretende passar ao lado de todos os erros cometidos por BdC (foram muitos), não pretender esconder que o Presidente do Sporting está obrigado a uma mudança de actuação, não pretende ignorar que o Sporting tem de ser gerido doutra forma, mantendo a paixão, mas acautelando uma estratégia universal em que cada um sabe o que tem e deve fazer. Consertação, ponderação, foco, objectivo. Mas…não consigo pactuar calado com a “vendetta” que está a ser levada a cabo, por muitos quadrantes da sociedade, organizados e alinhados, à margem do clube, distantes do interesse do clube.
"No further comments"...
ResponderEliminarESTÁ AQUI TUDO...!!!
E nós? Nós, temos de estar cá, para ele. Agora é ele que precisa da nossa ajuda... depois do tanto que já fez por nós... não o podemos abandonar... ele só tem de querer ser ajudado... E eu sei que vai querer...!!! Por ele, por nós, PELO SPORTING CLUBE DE PORTUGAL...!!!
desculpa ZE, mas depois do teu comentário, agora sim, "no further comments"
EliminarAgora sim fica tudo dito!!!!
Depois do "Sporting foi isto durante quase toda a sua existência" no further comments. Brilhante. Absolutamente brilhante. Tudo dito.
ResponderEliminarPreparem-se que o polvo vai tentar por um cavalo de Tróia dentro do Sporting
ResponderEliminarPosso perguntar quantos anos de sócio do Sporting tem o autor do artigo?
ResponderEliminarO sporting tem mais de 100 anos.
O Sporting ganhou na sua história 22 campeonatos, uma Taça da Taças e muitas, muitas outras competições, teve medalhas nos jogos olímpicos, recordistas mundiais, foi campeão europeu de corta-mato e de atletismo, de hóquei em patins, etc;, etc.
No Sporting, desde que me lembro, pelo menos depois do 25 Abril 1974, houve muitas eleições.
O Sporting teve presidentes como João Rocha, Jorge Gonçalves, Sousa Cintra.
Eu não quero voltar à linha dos últimos 20 anos ou assim, vulgo croquetes. Por acaso, recordo que normalmente os presidentes dessa altura foram eleitos com enormes vantagens sobre os seus opositores (lá para os 80% ou assim...).
Sócio do Sporting há mais de cinquenta e cinco anos, não quero voltar ao tempo dos croquetes, repito!
Mas, por favo, não comecemos por adulterar a história. O Sporting já conheceu muitas convulsões, revoluções, contra-revoluções. Caracteriza-se, sobretudo, por ser um clube sem estabilidade directiva, desportiva, etc.
Suponho que os sócios (e até os adeptos) do Sporting são responsáveis pelo que têm tido, pois são eles que escolhem quem os governa.
Para decidir bem sobre o nosso futuro, temos de conhecer o nosso passado. Lamento, mas essa ideia de que vivemos nas trevas até chegar o salvador, não cola com a realidade.
Esclarecimento: se me quiserem chamar croquete, vão a alguns blogs ver quantas centenas de comentários fiz a defender o actual presidente. Mas daí até pensar que ele nos foi enviado pela providência numa manhã de nevoeiro para nos salvar, ou que devemos aceitar tudo o que ele faça mesmo que completamente errado, vai uma grande distância.
Tens razão, ainda que Sousa Sintra e Jorge Gonçalves não sejam exemplos de gestão competente o primeiro e séria, o segundo que, felizmente não esteve o tempo suficiente para dar cabo de tudo à pala de umas quantas loucuras. Os outros os chamados croquetes da era Roquete deram com os burrinhos na água, por negligência pura, uns, com dolo evidente, outros. Porém, não incluiria Godinho Lopes nesse lote já que se trata de um aspirante a Vieira, sem a habilidade do Grão-Vizir do Estado Lampiâmico.
EliminarPor outro lado, homens como João Rocha ou Bruno de Carvalho não estão para aí à disposição ao virar da equina. São raridades em sucessivas gerações de Presidentes.
São raridades no Futebol, na Política, na Arte, na Indústria, na Filosofia, na medicina, etc. Quando temos a sorte de dispormos de um desses homens à frente dos nossos destinos é essencial que o compreendamos nas suas motivações, o apoiemos nas suas decisões e o apreciemos pela obra que deixa.
O autor do texto terá a idade suficiente para ter compreendido que tanto J.Goncalves como Sousa Cintra trouxeram promessas de mecenas numa altura em que o Estado não estimulava creditos e os bancos não financiavam pevas. Esses foram deixados passar. João Rocha apesar de uma visão popular do clube nunca foi um corpo estranho perantes os neo-fidalgos que o texto refere. Se tem memória desse tempo, saberá muito bem a que me refiro.
ResponderEliminarMais...nunca o texto mencionou qq missão sebastianista em BdC. É uma interpretação circunscrita ao mesmo e ao seu tempo, nada mais. O SCP existirá muito para além de BdC.
Bruno de Carvalho é tudo o que dizes mas, é mais, é aquilo que no Senado Romano se chamava um Homo Novus, um Homem Novo, o tipo bem sucedido, sem quaisquer ligações de sangue à aristocracia, que se faz por si-mesmo, fruto de duas ou três gerações burguesas e provincianas. Sem propriedades que lhe garantam o estatuto de senador, emerge do comércio que, aos Patrícios é constitucionalmente vedado, ainda que todos o pratiquem nem que seja por interposta pessoa.Bruno "não tem eira, nem beira", é um recém-chegado que, em vez de se colocar à disposição, dispõe ele-mesmo e não consulta ninguém, designadamente, aqueles que o quereriam controlar em função de "consultas" que o deixassem manietado numa teia de favores. Isso não é Bruno de Carvalho e não é o Sporting. Tanto não é o Sporting que, foi essa visão oportunista que lançou o clube no lodaçal da falência, do qual apenas Bruno de Carvalho foi capaz de o salvar.
ResponderEliminarE a seguir curou os leprosos...
EliminarTal como na Europa não é possível substituir os actuais regimes políticos por regimes de extrema direita ou extrema esquerda, isto é Nacionais-Socialistas ou Comunistas, também em Portugal não é possível restaurar a Monarquia, nem o Estado Novo e no Sporting de nada vale a revolta do croquette. Há realidades que mudaram para sempre. O Sporting foi sempre um Clube Popular praticamente desde poucos anos após a fundação, já o era. O SLB foi criado para fazer frente ao Sporting mas, não podia adoptar o nome de Sport Lisboa e benfica de Portugal. Então financiado por um Conde Açoreano, arrancou e convenceu-se que representava "o Povo de Lisboa" logo a seguir, desatou a mentir e vê-se hoje no que isso deu. Bruno disse e eu corroboro: (para a escumalha), bardamerda!
ResponderEliminar