terça-feira, 3 de julho de 2018

A rescisão com a dignidade Leonina

A lavagem cerebral a que muitos sportinguistas cederam nas últimas semanas será o ponto decisivo que permitirá a esta Comissão de Gestão e SAD provisória dobrar o joelho nas mesas de negociação abertas com os empresários dos jogadores que rescindiram.
De forma quase inexplicável, as repetidas mensagens de caos anunciado retiraram a noção dos factos a muitos adeptos, ao ponto de repetirem como opinião própria argumentos completamente especulativos. De repente e sem que eu consiga entender como, o que é dito na CMTV ou publicado no Record é percepcionado como verdadeiro, mais verdadeiro até que factos completamente à vista de todos.
Factos:
1/ O que sucedeu em Alcochete não está, nem será provado, ter tido autorial factual, moral ou acidental por parte da entidade patronal e os argumentos dos jogadores que rescindiram que constroem esta ligação, são na sua totalidade, puramente especulativos. "Pareceu-nos estranho que" não são provas.
2/ O Sporting condenou o acto de imediato, disponibilizou toda a ajuda necessária aos jogadores e abriu processos de averiguação interna, iniciando também uma revisão das medidas de segurança na Academia.
3/ Os jogadores jogaram efetivamente a Final da Taça de Portugal e foram integrados nos trabalhos das Seleções Nacionais de origem. Ou seja, estavam - de facto - aptos para desempenhar a sua atividade profissional. Seguramente e em especial na Taça, algo abalados emocionalmente, mas ainda assim capazes de jogar.
4/ Nenhum dos jogadores que rescindiu contactou ou desejou trabalhar em conjunto com o clube para esclarecer condições futuras seguras para prosseguir a sua atividade profissional. Aliás aconteceu o oposto, ou seja, a recusa ao diálogo.
5/ Quem esteve ativo no diálogo com o Sporting foram os empresários, que não perderam tempo em impor negociações para que os seus representados pudessem sair por valores irrisórios ou mesmo propondo renovações de contrato com prémios avultados e aumentos brutais de vencimento.
6/ Rui Patrício, através de Jorge Mendes, foi o único jogador que assinou um contrato entretanto. Todos os restantes até podem ter interessados, mas esses clubes têm procurado chegar a entendimento com o Sporting, não avançando para a contratação dos jogadores como "livres".
Se relacionarmos estes factos, só podemos chegar a uma conclusão plausível: há muito mais razões para os jogadores temerem a arbitragem da UEFA e FIFA do que para o Sporting. Mas quem ouve e lê a comunicação social não encontrará esta opinião reemitida por alguém que seja. E a razão é bastante simples. A "tragédia" de Alcochete foi vendida com o sumo especial de ter BdC como o agressor e os jogadores como as vítimas.
Ninguém ousou pensar noutra narrativa, ninguém ousou tocar na verdadeira ferida exposta pelos factos conhecidos. Ninguém falou verdade, primeiro porque a história seria bem menos lucrativa e segundo, porque há sérias dificuldades em realizar jornalismo de investigação quando os "grandes interesses" da sociedade portuguesa se movem bem coordenados.
Esses interesses que bem cedo entenderam o perigo do sucesso de BdC, um presidente sem filiação política, sem rastro de associações criminosas, um travão às pressões dos empresários e todos os que são alimentados pelos mesmos. Esses interesses que caíram em cima do colo de uns quantos opositores que agora têm dívidas para saldar.
O pagamento por uma imprensa espetacularmente favorável, por portas escancaradas nos tribunais, por notáveis a correr à pressa a juntar-se ao piquenique é precisamente a desistência de levar os processos de indemnização impostos aos jogadores que rescindiram até ao fim.
E que belo pagamento. Para quem não entendeu, porque mais uma vez nada disto alguma vez será dito na imprensa, não há histórico de jogadores em casos semelhantes aos jogadores do Sporting terem obtido razão na justa causa. A mão da UEFA e FIFA costuma ser pesada e num passo miraculoso um qualquer dos 9 jogadores que abandonou o Sporting pode ter-se livrado de:
- pagar os seus salários até ao fim do contrato com o clube;
- pagar uma indemnização suplementar por danos reputacionais causados à SAD e ao clube;
- pagar através do clube com o qual assinariam uma indemnização exemplar (que nunca iria ser calculada na base do seu valor de mercado, com risco de se abrir o precedente se ser menos dispendioso recrutar pagando a justa causa do que negociar o valor de compra).
Posto isto, não consigo imaginar a razão porque alguém consegue ainda defender a negociação com clubes interessados ou sequer a renovação de contratos com os jogadores que rescindiram. Não consigo relacionar sequer a mensagem que muitos replicam (mais uma super veículada nas TVs) de que "negociando evita-se o risco". Mas não são os jogadores que arriscam mais? Afinal somos nós, a instituição (que até tem outros ativos prontos a competir) que tememos mais o risco? Quando temos 98% dos argumentos factuais a nossa favor?
Aceitar que existe risco é o mesmo que considerar que as leis não valem nada e que como clube nos devemos sujeitar à humilhação de pedir desculpa e até recompensar quem nos desprezou e afogou numa das maiores crises institucionais da nossa história. Literalmente estamos a dobrar a espinha para lamber as chuteiras de quem não teve sequer uma palavra de despedida aos adeptos. Estamos a perder totalmente a nossa dignidade...para quê?
Simples. Uma mão lava a outra e no caso do Sporting, a mão que financiou a retirada de BdC será a mesma que se apresentará como o "grande amigo" e salvador do clube.
Sinceramente, todas estas mãos, estão imundas de desonra e pactos de escravidão. A desonra é dos próprios e de ganhos futuros caídos de um qualquer céu caribenho. A escravidão será nossa, incapazes de distinguir entre um chicote e uma almofada.

SL

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Atravessando a trincheira

Como foi várias vezes publicado, não fui partidário da destituição do anterior CD. Movo-me num círculo de sportinguistas que também não o foi. Ainda assim e porque não consigo defender essa opção, quero compreendê-la. Muito do sucesso do Sporting terá de ser alicerçado num entendimento mútuo que permita ao universo leonino encontrar pontos e lutas comuns. 

Não podemos continuar a ser oposição uns aos outros de forma cega, tanto quanto não seremos nunca obrigados a concordar. Mas há de facto que construir pelo menos o reconhecimento que, podem existir vários ângulos de sportinguismo sem que o clube tenha de estar permanentemente a gerar sufrágios e crises institucionais.

Coloquei 20 perguntas a um dos sócios que esteve reflectido na maioria que acabou por destituir a anterior Direção. Estas foram as respostas.


Pergunta 1 
Qual é o teu número de sócio e categoria? 
- 99.937 Categoria B 

Pergunta 2
Há quantos anos és sócio do Sporting? 
- Nesta fase, desde 2014.

Pergunta 3 
Votaste pelo SIM na AG de destituição. Enumera sucintamente 5 razões para o teres feito e por ordem de importância. 
- A primeira razão prende-se com a comunicação e o estilo de BdC (podia dar dezenas de exemplos), 2ª razão concreta, na minha opinião depois dos acontecimentos de Alcochete deveria ter apresentado a demissão e permitir a marcação de eleições gerais, 3ª razão, depois da AG extraordinária foi pedido a BdC por uma grande maioria dos sócios presentes que deixasse o FB e falasse menos na imprensa, ele prometeu que o deixaria de fazer e não cumpriu, 4ª razão, neste período mais conturbado, criou uma mesa da AG transitória, órgão que não existia nos estatutos e que serviu apenas para criar um caos jurídico interminável, com o objectivo de se perpetuar no poder, 5ª razão, esta razão é muito minha, porque me tenho batido e muito contra os casos de corrupção que assolam o nosso rival e que quer durante as sessões de esclarecimento quer nas intervenções públicas, nunca senti de BdC a vontade de esclarecer cabalmente, o caso Cashball (podia dizer muitas coisas sobre este caso, que pode perfeitamente ter sido manipulado).

Pergunta 4 
O que pensas sobre a possibilidade da perda da maioria na SAD?
- Aqui em abono da verdade, não tenho uma opinião formada, prefiro que o controlo seja do clube, mas mesmo sabendo os riscos que isso pode acarretar, não me choca perder o controlo da SAD, desde que seja para fundos/investidores com alguma reputação.

Pergunta 5
E sobre os jogadores que rescindiram, aceitarias de volta algum ou todos? 
- Não. Nenhum. 

Pergunta 6 
Venderias (jogadores que rescindiram) por valores residuais?
- Porquê? Não. Porque seria um mau principio para o futuro e um mau sinal deixado.

Pergunta 7
Como avalias o cumprimento das funções de JMS, como PMAG?
- Confesso que não conheço os estatutos do SCP, a minha opinião é apenas pessoal, nunca gostei dele e sempre foi dos elementos dos corpos sociais, aquele que menos confiança me passou, sobre a legalidade da marcação da AG, concordo com ela e parece-me que o processo foi legítimo.

Pergunta 8 
Considerando que estás a par da célebre segunda fase da Reestruturação Financeira, comprarias as VMOCS ou cederias essa posição a terceiros?
- Compraria as VMOCS.

Pergunta 9
Dás importância às modalidades ou para ti é um produto secundário face ao futebol? - Muita importância, fui a mais de 20 jogos entre as diversas modalidades, este ano no Pavilhão João Rocha.

Pergunta 10
Concordas com o investimento feito até agora? Reduzirias o orçamento? Aumentarias? - Não sei dizer, porque não conheço as contas, no entanto tentaria pelo menos manter.

Pergunta 11
Concordas com a extinção do Conselho Leonino e todos os outros órgãos consultivos paralelos? Porquê? 
- Sim. Não conheço em pormenor as suas funções, mas sempre me pareceram cargos representativos que apenas servem para as pessoas usarem o clube e não o contrário. 

Pergunta 12
Como classificas o desempenho do restante CD, excluindo o papel de BdC?
- Devo dizer que aquilo que defendi foi que, BdC se deveria ter demitido e nesse momento pudesse emergir Carlos Vieira para o substituir, percebo que por razões de solidariedade institucional provavelmente o próprio não aceitaria, mas neste momento, tal como BdC nunca levariam o meu voto. O seu papel sempre foi muito pouco evidenciado, porque BdC sempre foi uma figura presidencialista que raramente falava dos seu parceiros de direcção.

Pergunta 13
A gerência, até agora do CG está a ser o que esperavas? Quais as razões que te levam a essa opinião?
As minhas expectativas são muito baixas, mas neste momento ainda não tenho uma opinião formada, vejo muitas noticias no ar, muita propaganda e contra-propaganda, vou esperar mais um pouco, para poder dar uma opinião mais de acordo com o que efectivamente vai sendo feito. Mas discordo de algumas coisas como é evidente, sendo à cabeça este novo relacionamento com a CMTV, algo que me enoja.

Pergunta 14
Perante os candidatos que se perfilam, tens alguma preferência?
- Para já não.

Pergunta 15
A SAD do Sporting negociar com Jorge Mendes será um acto de gestão normal? Porquê? - Não, mas essa é daquelas coisas que para já vem na imprensa e não tenho garantias que esteja de facto a acontecer, mas se assim for, serei naturalmente contra. Para mim Mendes representa aquilo que não gosto no futebol.

Pergunta 16
Em que casos vês como aceitável um sócio ser expulso do Sporting?
- Em situações extremas, onde se prove que o sócio fez de facto algo de muito grave contra o clube, para ser mais específico, não gostaria que BdC fosse expulso e gostaria que se apresentasse com uma lista às próximas eleições.

Pergunta 17
Qual a razão que acreditas ser a mais evidente que impede o Sporting de conquistar títulos no futebol profissional?
Há 2 razões para mim, uma externa, que todos sabemos há anos inquina os campos deste país e que claramente já roubou alguns campeonatos ao Sporting, mas para mim existe também uma razão interna, que aliás foi uma das razões que me levaram sempre a apoiar BdC, que foi a falta de cultura de exigência que grassa no clube há anos.

Pergunta 18
O que seria mais útil para contrariar o cenário que apontaste na pergunta anterior?- Quanto ás razões externas uma liga e FPF fortes e independentes, uma imprensa liberta de compromissos e isenta e uma justiça que funcione (tudo uma utopia), em termos internos, BdC soube identificar o problema, mas nunca o soube solucionar, tentou ir para o banco, começou a elevar os patamares de exigência, mas as suas características e a sua forma de estar, acabaram por destruir qualquer ponto de equilíbrio que pudesse encontrar uma plataforma de entendimento e de compromisso nos diversos planteis que teve durante os seus mandatos, devo dizer no entanto que a culpa não é apenas dele, mas isto de mudar mentalidades e costumes não se faz de arma na mão e em meia dúzia de anos, é necessária inteligência e tacto, coisa que BdC nunca teve neste assunto.

Pergunta 19
O Sporting deve continuar a sua luta pela verdade desportiva? De que formas?
- Sempre. Daí ter falado no Cashball, esta é uma das bandeiras que qualquer direcção que surja tem que defender, para ter o meu voto. Como? através daquelas que foram as medidas do 1º mandato de BdC, as lutas contra os fundos, os empresários, a publicação das contas e das comissões no jornal do clube, a luta pelo VAR, etc.

Pergunta 20
A comunicação social influencia o desempenho desportivo do Sporting? E exerce influência na opinião dos sócios sobre os seus próprios líderes? 
- Sim. No entanto devo dizer-te que no meu caso não influenciou ,sou uma pessoa atenta ao meu clube, frequento assiduamente canais alternativos aos principais orgãos de comunicação social, mas claro que terá influenciado muitas pessoas a criarem uma imagem de BdC que possa não ser a melhor e provavelmente a criar um ambiente de cansaço que pode ter sido prejudicial ao CD. 

Nota adicional do sócio 99.937 
- Devo dizer que o meu voto esteve em dúvida até ao último momento, não por BdC, mas pelo que possa surgir no futuro e fiquei de consciência tranquila com a minha escolha, depois das peripécias do dia da AG e da manhã seguinte, com aquele post assassino.
Saudações Leoninas.