sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O estranho caso de Mauricio

Um tipo começa a dar nas vistas na equipa B do Palmeiras. É jovem e tal, mas mostra mais do que jeito para a bola, mostra-se firme e estreia-se cedo numa das últimas boas equipas do verdão. O clube atravessa uma crise financeira tramada e um gajo chamado Henrique sai para o Barcelona. Luxemburgo, não o país, mas o treinador...não tem dúvidas e mete o puto na equipa...a coisa vai de vento em popa.

2009. Fala-se já numa possível internacionalização...surgem boatos que o São Paulo e PSV andam de olho no rapaz que se vai safando e afirmando. Mas o vento em popa passou para a venta...e em pleno relvado frente ao Grémio, o central "molha a sopa" com um colega de equipa...Obina, o "Etoo do Brasil" por sinal um gajo jeitoso nas artes de fazer amigos (que o diga Índio do Inter que viu de perto e bem focado o cotovelo do avançado. Valeu 120 dias de castigo).

Para o Mauricio e Obina um regresso. Obina regressou ao Flamengo mais depressa. Mauricio regressou à estaca zero. Emprestado ao Grémio, não se deu bem com os ares gaúchos, nem com todos os ares que vieram de 6 em 6 meses. Portuguesa, Vitória e Joinville são o desenho perfeito de uma descida de escorrega rumo ao esquecimento. O brasileiro não é que jogasse mal, mas nunca ninguém dava ao Palmeiras aquilo que este pedia.

Fim de paciência e fim de dinheiro... o Palmeiras prescinde de Maurício. Assina pelo Sport Recife, esse sim habitue nos escalões secundários. Uma época razoável para o central, um ano negro para o ex e o presente clube. Os dois descem de divisão. Ninguém se ficou a rir...ou mais ou menos. Assim e  de pára-quedas cai no colo do defesa uma proposta de um clube europeu. Não é o Barcelona, mas pelo menos joga primeira divisão.

Mesmo sabendo que o Sporting o quis por ser um jogador quase "livre", era um sonho. Mesmo sabendo que aparentemente era um clube que já tinha visto melhores dias, era um passo inesperado na direcção da fama...e do dinheiro. Com mais ou menos dificuldades de fechar negócio, Maurício passava do Sport para Sporting.

A expectativa começou baixa. Para o lugar do zuca, já lá estavam Rojo, titular da Selecção Argentina, Ilori e Dier duas grandes revelações meio britânicas e Boularouz um veterano ex-titular da Holanda. Assim à primeira vista, ser 4º central já seria bom. Mas a maré que o trouxe era mesmo de sorte...Dier vem lesionado do Mundial de Sub20, Ilori desce à B  para "repensar" a renovação e Boularouz é convidado a ir ver se chovia noutro sítio qualquer. De repente a pré-época abre com uma vaga espaçosa e com vista para o mar na equipa titular.

No 1º jogo da pré-época entra aos 46m. No 2º começa a titular. No 3º faz um auto-golo e cúmulo da sorte no azar, podia ter valido a perda da titularidade no jogo seguinte....mas Rojo lesiona-se e para o jogo seguinte...só ele e os miúdos da B. 4º jogo e marca o primeiro golo da partida. 5º jogo e situação curiosa, frente ao Nacional, sai aos 65 min e reentra aos 83. 6º jogo e a pior exibição frente a uns caceteiros do West Ham...mas não há ninguém para disputar o lugar.

Como diria o Phill Collins nesse pastel da balada pop dos idos 80s, a coisa foi mesmo "against all ods"...e Mauricio dos Santos Nascimento, com três nomes apenas, fechou a camisola 3 e de opção 4, tem posto outros 3 a rodar na vaga ao seu lado. Continua a não ser um craque, continua a passar despercebidos nos jogos, mas desde o início que Jardim vê qualquer coisa ali maior que o currículo e que os apontamentos individuais. Vê um jogador de equipa, que se está a esforçar ao máximo para vencer no futebol.  Sério, disciplinado, rigoroso.

O futuro parecia guardado a outros nomes, nomes mais amados como Steven Vitória, Ilori ou Dier, mas o que os rivais e empresários levaram deixam para já o brasileiro a navegar numa maionese de sorte e empenho, um caso estranho de sucesso, que desafia as leis dos que só vêm o futebol 30 metros à volta da bola e de jornada a jornada. Afinal há muito mais para entender.

SL

5 comentários:

  1. A vontade de vencer, é meio caminho andado para a vitória...!!

    Sporting Sempre...!!

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  2. excelente post. As contratações do sporting este ano têm sido isto. É uma espécie de moneyball. Para quem não viu o filme aconselho vivamente. O Brad pit do filme é o nosso presidente.

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  3. Excelente post. Isto só vem provar a minha teoria de há muitos anos quanto ás contratações do Sporting na era da turma do croquete. Quando havia um jogador que estava para ser contratado, o que parecia que interessava era o clube de de onde vinha o craque, gostávamos de dizer que fomos buscar um jogador do Manchester City(Caicedo),Génova(Ribas), Atlético de Madrid(Pongolle),Parma(Bojinov)etc, etc. Nunca nos preocupámos(se sim não parecia) em perceber qual o enquadramento do jogador a nivel social, psicológico, margem de progressão, ou seja, fazer o trabalho de casa e ir buscar jogadores que fossem realmente mais valias técnicas mas também acrescentassem algo mais ao clube. O Mauricio é um bom exemplo, vem da 2ª divisão brasileira e foi logo criticado por esse facto. Nunca devemos estar de pé atrás com alguém devido à sua proveniência, espero que este exemplo sirva no futuro. SL

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  4. Boa tarde,

    Este comentário não tem nada a haver com o seu post, excelente como quase sempre
    Parabéns pelo no figurino
    Nuno Casaca

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  5. Nunca fui acérimo crítico do Maurício.
    Quando veio, não achei tão necessária assim a sua contratação. Isto é, Dier, Ilori e Rojo seriam sempre escolhidos antes dele.
    O que mais me preocupou ao início foi a sua agressividade. Tenho gostado de ver que tem sido mais moderado, e isso tem-se reflectido em muito menos faltas cometidas por ele.

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