Full House ou Poker de duques

Ter um estádio com capacidade para 50.000 pessoas, com a classificação máxima da UEFA e FIFA custou muito, mas mesmo muito dinheiro. Até que ponto este equipamento do Sporting está a ser rentabilizado ao serviço desportivo e financeiro do clube?

Eu diria que, tal como todos os outros em Portugal, muito pouco.

Isto acontece sobretudo porque a política de gestão de eventos desportivos em quase todo o mundo segue a velha máxima de colocar os preços que "é costume"...algures entre 4x o preço de um bilhete de cinema, entre 2/3 de um bilhete de teatro de companhia, algures entre 2/3 de um concerto pop de grande sala.

O curioso é que o nosso preço médio de bilhetes é bastante baixo em relação a outras realidades europeias...como devia ser aliás...mas se olharmos aos 3 grandes..aí a coisa já é muito diferente.
Um adepto (não sócio) de um dos 3 grandes que queira ir ao estádio ver um jogo de futebol frente a um qualquer Rio Ave ou Arouca pode pagar algo como 35 ou 70 euros (o preço varia conforme a bancada, adversário e clube). Ora isto, na realidade portuguesa, é absurdo.

Especialmente ao atravessar a maior crise económica dos últimos 30 anos e sabendo que não são as classes com maior poder de compra que enchem os estádios...esta avaliação de quanto vale um jogo de futebol hoje,  é...anedótica.

Há mais de uma década que se vive num verdadeiro "conto de fadas" ao analisar as receitas dos estádios. Os clubes calculam os orçamentos com base em previsões de receitas absurdas, que obedecem a cálculos infantis...de médias de espectadores que nunca vão aparecer...porque...os preços calculados para atingir as metas...são desproporcionais ao que as pessoas podem pagar.
Uma pescadinha de rabo na boca.

Além disso há nesta problemática um factor que o planeta do futebol se recusa a entender. Hoje em dia um jogo de futebol é apenas mais uma solução de entretenimento ao dispor do comum do cidadão. Inclusive, é possível nem ter de ir ao estádio para ver todos os jogos de futebol dos 3 grandes. Pela TV em sinal fechado ou recorrendo a sites piratas...o futebol até concorre consigo próprio.

Com jogos, na sua grande maioria, à noite. Com jogos, na sua esmagadora maioria, pobres em espectáculo e beleza. Com este produto e nestas condições é saudável continuar a pensar que nada poderá ser diferente?

Há uma coisa que se chama vulgarmente lei da procura e oferta. Costumava reger a indexação e flutuação dos preços...mas alguém se anda a esquecer de fazer o trabalho de casa...alguém se anda a esquecer que um estádio cheio é um sinal de força e não de fraqueza...e que:

As pessoas seguem sucesso. As pessoas procuram associações a sucesso. Todos querem estar onde todos os outros queriam estar mas não conseguem. O factor aspiracional é o maior motivador de consumo existente.  Eu quero estar num estádio cheio. 

As próximas ideias não são originais, mas serão pelo menos mais razoáveis que as vigentes.

- Manter os preços das Gameboxes. Baixar os preços dos bilhetes mais baratos para adeptos e sócios em cerca de 35%. As perdas serão significativas? Não. Os ganhos serão significativos? Sim...mas se for bem publicitado.
- A ideia de packs familiares e acompanhantes de sócios são excelentes.
- Dias comemorativos com descontos especiais (Criança. Pai. Mãe. Mulher. Namorados, etc) fazem pequenas grandes diferenças na conquista de novos espectadores.
- Baixar os preços Corporate em cerca de 30% (as empresas também estão em crise)
- Criar Gameboxes modulares especiais para associações de nome coletivo (Grupos de interesse, Ruas, Aldeias, Familias, Associações de emigrantes, Embaixadas dos PALOP)
- Gameboxes de preços controlados para os Núcleos e Praticantes
- Encontrar permutas com outros agentes de espectáculo (bandas de músicas, programas de TV, comediantes) para dinamizar a oferta do dia de jogo.
- Acordar com as redes de transportes públicos, concessões especiais para os espectadores nos dias de jogo.
- Ativar as redes de bloggers, núcleos, site e jornal para uma promoção concertada dos jogos.
- À semelhança do que vai fazer a CMTV com o benfica...chegar a acordo com uma TV em sinal aberto para uma cobertura especial nas horas que antecedem o jogo.

...há tanta coisa que se pode tentar. O mais estúpido é mesmo continuar neste caminho, a rezar por classificações que "empurrem" os adeptos para o estádio. Cada vez menos o fazem....que eu saiba os tripeiros têm andado à frente anos a fio, com pouco reflexo na bilheteira. Dá que pensar.

SL