quinta-feira, 29 de setembro de 2016

A competitividade interna é uma grande treta

3 equipas apuradas para a fase de grupos é sempre um sinal de sucesso, especialmente para um país como Portugal. O pior é que em 6 jogos, as mesmas equipas fizeram 5 pontos em 18 possíveis. 1 vitória, 2 empates e 3 derrotas e este não é um registo de sucesso, que só fica mais grave quando entendemos que as 3 equipas apuradas se encontram em 3º ou em 4º lugar dos seus grupos, à beira da exclusão das competições europeias e muito perto de seguirem na Liga Europa.
É só a 2ª jornada dirão alguns, mas pessoalmente vejo um padrão e mesmo que a produtividade melhore substancialmente (o que duvido) fica à vista de qualquer um que os clubes portugueses estão a distanciar-se da 1ª e 2ª linha de emblemas (Espanha, Inglaterra, Itália e Alemanha) e a ficar mais perto de um lote de 3ª categoria que incluí clubes turcos, franceses (tirar o PSG deste grupo), holandeses e russos.

A tendência para justificar o enquadramento pela capacidade financeira é óbvia, mas para mim não é satisfatória. O FC Porto podia ter feito outro resultado em Leicester e claramente melhor com o Copenhaga. O Benfica podia e devia ter feito os 3 pontos contra o Besiktas e o Sporting a vencer aos 88 minutos também ficou a dever a si próprio pelo menos mais 1 ponto. Desperdiçaram-se nestes jogos pelo menos 6 pontos...e esses a nada se deveram à falta de recursos para recrutar melhores jogadores ou técnicos...pois as equipas jogaram o suficiente para os poder conquistar. A meu ver o grande problema chama-se competitividade. Se olharmos para a nossa Liga interna, vemos que os 3 grandes estão cada vez mais afastados dos restantes 15 clubes. E se retirarmos 2 ou 3 emblemas como o Guimarães, o Braga e talvez esta época o Rio Ave, o resto é sinceramente muito pouco capaz de roubar pontos aos maiores emblemas. Pode acontecer a qualquer jogo, mas a verdade é que as probabilidades de um Arouca, Moreirense ou Belenenses sacar 3 pontos nos jogos com os grandes...são bastante pequenas. Bastante menores que os clubes de meio da tabela na Inglaterra, Itália ou Espanha têm de fazer nas suas ligas.

Ao olharmos para a Liga da última temporada, fere os olhos constatar que Sporting e Benfica quase que não perderam pontos na 2ª volta. O Sporting perdeu com o Benfica em casa e o Benfica perdeu com o Porto, também em casa. Isto não é sinónimo de competitividade, mas sim de "passeio". Isto tem uma explicação, ou melhor, tem várias, mas elenco as que acho principais e que se não forem alteradas iremos pagar uma factura elevada, especialmente numa fase em que se discute o modelo da Champions:

1/ Os clubes mais pequenos vivem sem base de apoio. A maioria não tem base de adeptos, nem expressão para adquirir um peso regional (a maioria dos emblemas estão no grande Porto e grande Lisboa).

2/ Sem sócios dedicados, não há uma gestão moderna e ambiciosa. A maioria do dirigismo nos clubes é sofrível e bastante amadora. A Liga literalmente "reboca" estes emblemas em apoios, directa ou indirectamente.

3/ As receitas de TV são quase 100% dos orçamentos. A qualidade dos plantéis vai acompanhando a falta de recursos financeiros e isso faz com que os bons jogadores que vão despontando raramente dão boas transferências para fora ou para os grandes (os clubes detêm % mínimas). A juntar a isto, a falta de centralização dos direitos faz com que o estímulo para melhorar é inexistente. Qual é a grande diferença para (por ex.) o Moreirense fazer 30 ou 45 pontos, quando nada vai mudar resultante dessa diferença pontual? Ficar em 15º ou 6º é exactamente igual e quando o grande objectivo de 70% dos clubes na nossa Liga é "não descer" acho que podemos evitar de perder tempo com a treta da "competitividade na Liga Portuguesa".

4/ Os 3 grandes têm demasiados adeptos. Sim, é verdade e isso pode parecer absurdo aos que o são...mas num país de 11 milhões de pessoas, poder afirmar que x de pessoas são de um emblema e y de outro (e provavelmente estar perto da verdade) é aterrador. A previsibilidade da preferência clubística é uma aberração. E que me desculpem a opinião, mas isso tem origem na burrice dos emblemas fora de Lisboa em nunca terem adquirido uma ligação plena aos seus conterrâneos...nunca passando de clube de bairro, para clube de cidade e depois para clube de região.
A falência de emblemas como o Barreirense, U.Leiria, Leixões, Farense, Sp. Espinho, U.Tomar, Sp.Covilhã, Ac.Viseu, Desp.Beja, Desp.Chaves só tem ajudado a que a cada criança que nasce, seja em que ponto do país for, um de 3 clubes irá ser o seu...isto é um descalabro para o futebol português e aparentemente ninguém está preocupado com isso.

5/ A maioria dos emblemas na 1ª e 2ª Liga têm como principal desígnio sobreviver e não competir. Isso tem gerado e vai continuar a gerar mais casos de "malas" e tantas outras cedências aos grandes na tentativa de receber apoios, jogadores, favores de arbitragem, etc. Isso faz com que também por aí percam o respeito dos poucos adeptos que ainda vão arranjando alma para ir ao jogos, pagar cotas e participar na vida do clube.

6/ A nossa 1ª Liga tem demasiados clubes. Para a quantidade de patrocínios, base de atletas federados, cotização de sócios...o bolo é muito pequenino e à excepção dos grandes, não têm receitas de transferências de jogadores substanciais. Não faz sentido ter 16, quanto mais 18 clubes, o ideal seria entre 12 a 14 clubes e apenas a SportTV retira vantagens de existirem 34 jornadas, uma Taça de Portugal e uma Taça da Liga. É apenas estúpido que não se altere isto, apenas porque ninguém quer fazer parte do lote que desceria numa primeira fase, escapando a visão do que melhoraria mais tarde.

SL

14 comentários:

  1. O problema do argumento competitividade para justificar resultados europeus é que:

    - no campeonato espanhol equipas como Barcelona e Real estão 1 patamar acima do Atlético e 3 patamares acima de todas as outras;

    - no campeonato alemão o Bayern está 1 patamar ou mais acima de todas as outras;

    - no campeonato inglês existe uma grande competitividade;

    ... e na prática, as equipas inglesas nas competições europeias não conseguem resultados correspondentes ao seu estatuto, enquanto Real, Barcelona e Bayern dão cartas.

    Concordo com a generalidade do texto, em particular com a análise dos problemas do campeonato português... mas como a falta de competitividade do campeonato espanhol e a competitividade do campeonato inglês não se traduzem em resultados europeus (excepto pela relação inversa), tem que se encontrar outra razão para os maus resultados dos clubes portugueses nas competições europeias.

    A gestão desportiva, por exemplo, será o principal factor.

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  2. Parabéns,

    É um prazer ler os teus artigos, tem um discurso coerente, interessante , e uma visão alargada do que se passa no futebol.

    Abraço

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  3. Mais um excelente texto a sustentar uma ideia realista do nosso atual panorama futebolístico. Não será nunca possível haver competividade se não houver adversários que forcem essa mesma postura.
    Por isso mantenho com dois amigos um podcast sobre dois desses históricos que a pouco e pouco tem vindo a perder o seu espaço, os seus adeptos, e os apoios para continuarem a ser competitivos.
    É ir ouvindo em: http://osmelhoresadeptos.blogspot.pt/

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  4. Ponto 5 - Quotas...Quotas :D...Bom Artigo

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  5. 14 equipas à hóquei em patins
    1ª parte todos contra todos - 26 jogos
    2ª parte 6 primeiros para campeão (10 jogos) 8 últimos para descer (14 jogos)
    Pontuação final a soma de ambas sem cortes.
    Muito mais interesse para todos os jogos incluindo para os 8 últimos.

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  6. epá sinceramente quero que o benfica e porto se F.... o que me interessa é o sporting vencar o resto não nos diz respeito quantos mais perderem melhor. SL

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  7. Quanto à competitividade, apesar da posição acertada que o Heinz mencionou no 1º comentário, é claramente por aí que teremos de ir. E no caso do campeonato espanhol é importante notar que "aquilo" se perdeu a partir do momento em que as receitas televisivas se centraram no Barcelona e no Real. Algo que slb e fcp querem por cá (vá-se lá saber porquê).

    E para haver mais competição, tem de haver um novo formato de competição. Há uns tempos, sugeri isto:

    http://cantinhodomorais.blogspot.pt/2015/01/competicoes-nacionais-um-contributo-so.html

    Continuação de um bom trabalho.

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  8. Para aumentar a competitividade teriam que fazer algo do género:

    1. Reduzir o campeonato para 16 equipas
    2. Taça da liga: prémio de 4 milhoes euros para o vencedor e 1 milhão para o vencido
    3. Centralização dos direitos (pelo menos para 5 anos): Por exemplo, anualmente: os 16 clubes recebiam à cabeça 5 milhões cada; depois o resto da maior parte do dinheiro entrava x por vitória e x por classificação final. Também acho que poderia entrar mais algum dinheiro com número de assistência média e sócios do clube.
    4. Cada clube só pode emprestar 3 jogadores a clubes da 1ª divisão e apenas 1 jogador por clube

    Na minha opinião isto iria fazer com que a competitividade crescesse pois os clubes pequenos e médios teriam planteis muito melhores, não eram servos dos grandes e jogariam mais para a vitória pois o prémio de vitória seria aliciante e bem como a classificação final iria interessar pois ficar em 10º lugar ou em 6º lugar teria grande diferença monetária.

    JF

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  9. O caso espanhol é ‎o que é.
    Aparentemente, real e barça passeiam (atlético só chegou lá por superação histórica) MAS o nível de qualidade, combatividade de qualquer equipa do 3ro patamar de espanha deve estar quase ao nível dos 3 grandes tugas..... a km dos outros clubes portugueses. 
    Arrisco dizer, uma equipa que lute para não descer em Espanha, lutava pela Europa em Portugal. ‎

    Para mim, a questão também é um pouco histórica. Não sei explicar   mas é fácil de observar. 
    Em Espanha há, sempre houve 2 candidatos. Ocasionalmente, terá havido um Valência um deportivo ou um atletico e excepcionalmente um bilbau.
    Na Alemanha e na França, o bayern sempre foi grande mas não tenho ideia do domínio e "exclusividade" de campeonatos do último 15-20 anos.
    França , tirando este psg e o passeio do lyon durante uma década, sempre teve muitos campeões, com um clube a dominar 2-3-4 anos mas depois mudava (e deve ter muitos campeões diferentes)‎
    Aliás, nesse aspecto o campeonato francês assemelha-se ao inglês. Muitas equipas que já ganharam o titulo.‎
    Em Portugal sempre houve 3 campeoes.
    Itália, quer queiremos ou não era os clubes de Milão e o de Turim (últimos 30-40 anos) com um ocasional Lázio, Roma napoli, a cada 10 anos!!!.
    o campeonato italiano já foi o mais competitivo e, no entanto, campeões eram 3.
    Quantos títulos europeus paparam?!‎

    Bem, se calhar a questão é esta, para ganhar  na Europa, é preciso passear em casa. 
    Nem é preciso o exemplo da champions. 
    Veja -se o Sevilha, liga Europa. Não tenho dúvidas que ganhou o que ganhou porque estava confortável em casa. Ou seja , indiferente mais ou menos 15 pontos, de certo modo, um passeio. ‎
    Desde que a champions tem o molde actual, Os campeões europeus tem saído quase sempre de espanha Itália e Alemanha... países com poucos campeões. Coincidente com o ocaso italiano, pois provavelmente com milaneses ou juves dos anos  80-90, os ingleses não tinham ganho (manchester, chelsea, Liverpool).
    Mesmo um ajax, há quantos campeoes crónicos na Holanda?! 3? Ajax, psv, feyer....
    Inglaterra, França muitos campeões.... ganham nada! 
    E depois há Portugal! Não encaixa em nada. 
    Encaixa sim, no clientelismo, amadorismo, cabeça dura e corrupção. 

    Claro que há excepções. 
    Os ingleses também ganham a champions. 
    Mas ninguém sabe bem como!!!
    Tanto liverpool e chelsea foram aqueles fenómenos estranhos! ‎

    Concluindo, para ganhar mais vezes na Europa o campeonato nacional tem de ser de qualidade elevada geral mas baixo número de campeão nacionais.
    Espanha e Itália juntas tem quase 30 titulos‎

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    1. Isto para dizer que não concordo nada que a competitividade (leia-se qualidade) duma liga ‎aumente com a redução de clubes.
      Desculpem lá mas a realidade bate-nos na tromba.

      A competitividade tem de ser intrínseca, tem de vir de medidas que fomentem o desportivismo, a superação, o brio e o espectáculo. 
      Tem d e vir duma mudança de mentalidade. 

      Número de clubes... Inglaterra e espanha campeonatos mais interessantes, competitivos e de maior qualidade geral- 20 ou mais equipas.
      Escocia... interessantíssimo, número de clubes 14-16?!
      Cálcio já foi o maior, nunca por ter poucos clubes. 
      Portanto, sinceramente, não é por aí. 

      Há uma grande verdade escrita no post ou nos comentários, para uma equipa de meio tabela, a motivação desaparece... fazer mais ou menos 10 pontos é igual. 
      Logo se a mentalidade não está lá é preciso meter a necessidade ao barulho.

      Uma coisa que talvez mudasse seria, mantendo as 18 equipas, fazer uma fase regular e dividir depois em playoff ou novo mini campeonato. 
      Por exemplo, os quatro primeiros lutavam pelo título, os 6 seguintes pela Europa e os outros 8 para não descer.... era luta até ao último jogo para qualquer escala da classificação. ‎

      Os últimos 8 tinham mais jogos mas também não tem Europa, chamadas à seleção etc.... Mais haveria mais jogos "regionais". Esta semana não joga um dos grandes, vamos apoiar o clube da terra...‎

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  10. Para poder competir com alguma possibilidade de exito, é necessário que uma equipa possa ser dotada de meios para o fazer...

    Não apenas na qualidade dos jogadores de que possa dispor, mas de todos os outros meios (incluindo instalações)...
    É necessário ter uma base de apoio de alguns milhares de adeptos e não de algumas centenas...
    Não pode ser apenas quase só financeiramente dependente...do numero de adeptos que acompanham as equipas adversárias que se deslocam ao seu reduto...

    Basicamente, 90% (ou mais) das actuais equipas do campeonato português, dependem quase totalmente da presença nos seus campos, dos adeptos do Sporting, do Benfica e do Porto...
    É urgente reduzir a "dispersão" de equipas que existem só porque dessa maneira se "alimenta o ego" de uns quantos...

    É urgente por isso...reduzir drásticamente o número de equipas na principal divisão do futebol português...
    Tudo o que seja mais do 10 ou 12 equipas...é demais para um País como o nosso...

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  11. Alguns raciocínios interessantes, mas há um ou outro extremamente falacioso, e dois estão normalmente interligados (incluindo neste texto): a assunção de que "não há um número de clubes com nível suficiente para competir em Portugal" desagua normalmente na conclusão de que é "necessária uma redução", 18 são demais, 16 também, o ideal seriam 12... Mas como é que "o ideal seriam 12" se não há uma única experiência de "ligas reduzidas" que tenha aumentado a competitividade da mesma?

    Vamos à realidade: em Portugal temos 3 "grandes", depois temos 2 "meio-grandes" (Braga e Vitória SC), depois temos um "meio-grande" no Porto (Boavista tem das médias mais altas de assistência), temos ainda 1 "meio-grande" na Madeira (o Marítimo, muito mal gerido, tal como o Boavista nos últimos anos), e um "meio-grande" em Setúbal (sempre à beira do cadafalso, é verdade, noutro caso de má gestão)...

    Só aqui temos 8 clubes, 8 clubes verdadeiramente históricos, com verdadeiros adeptos, com verdadeira implementação nacional/regional (do Minho à Madeira), e depois ainda temos clubes que nas últimas décadas se mostraram futebolisticamente muito competitivos, como o Paços de Ferreira, Nacional, o Rio Ave, ou o Belenenses (este definitivamente um ex-grande, com assistências baixas)... Só aqui temos 12 clubes que têm potencial para serem competitivos, ou que, embora com menos potencial, se mostraram muito competitivos, e esta época subiu o Chaves (um autêntico bastião transmontano, com grande potencial de crescimento), e na segunda divisão os dois primeiros são outros dois bastiões regionais (Portimonense e Santa Clara), e ainda por lá mora um outro histórico do futebol português (Académica), de uma das mais antigas, tradicionais, e importantes cidades nacionais...

    E com isto tudo já vou em 16 clubes... 16 clubes históricos/competitivos que, se fossem maioritariamnente bem geridos (como deviam ter sido clubes como, por exemplo, o Beira-Mar, ou o Farense), tornariam ainda mais competitiva a Liga portuguesa, uma Liga que, durante décadas, se tornou importante na Europa com 16/18 clubes... Querer reduzi-la a 12 ou menos clubes (com 2 ou mais voltas) é sonhar com castelos de areia e reduzir-lhe (ainda mais) a importância (ao níveç da escocesa)...

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