terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

El Mago - Buck "Ruiz" Rogers

No seu jeito de quem está em casa a ver a novela, pega no jogo como quem pega no comando. Aumenta o som com passes de uma visão completa das movimentações dos colegas. Muda de canal, mudando o jogo, rematando ou criando oportunidades para vermos outros “programas”. Alan Ruiz é um jogador diferente. É craque “old school”. Não varre o campo como Modric, não dribla como Messi, nem sequer “chama” a bola como Ronaldo ou Ibrahimovic. Não. Este argentino não vive na nossa era. Espanta-me até como Jesus o suporta. Taticamente dá muito pouco ao jogo e raramente faz o que um 10 faz, raramente faz o que um falso ponta de lança faz. Alan faz uma posição que ainda não existe e que o treinador do Sporting ainda está a tentar descobrir. Não é um 8, não é um 9,5, muito menos um 10. É um 10 e meio, sendo que chega normalmente atrasado para funções mais resguardadas e não gosta de batalhar com os defesas em funções mais adiantadas. O Alan gosta mesmo é da bola, de preferência com adversários a 2m dele, esteja onde estiver. 

Se a prestação táctica é um inferno, a prestação técnica é um paraíso. Recebe, ajeita, passa, dribla, remata…não há nada que o argentino não faça melhor que os seus colegas, mas infelizmente tem um tempo e uma visão que ainda não compreende os seus parceiros, nem estes o entendem a ele. Quase sempre parece jogar numa década distinta, algures entre o final dos anos 70 e inicio do império do nick & rush, o nosso craque vê-se e actua num jogo que se desenrola em câmara (quase) lenta. Nesse tempo e espaço, só dele, faz magia. O problema é que estamos em 2017 e não há tempo para as rotações baixas d’El Mago. Nas últimas partidas, Alan tem viajado no tempo e quase que já o consigo ver a retirar o gelo da criogenização e a entrar furiosamente (bom…é melhor dizer, moderadamente) numa velocidade e articulação mais anos 90. Não sei, não sabe Jesus e talvez não saiba ninguém quando, e se, o argentino alguma vez dará de caras com a actualidade do futebol europeu. Mas sei que se isso suceder e a sua nave-espacial aterrar em Alvalade nos tempos mais próximos, iremos ter craque. Iremos ter sucessor para uma coroa há muito sem pretendente. Uma coroa deixada cair aos trambolhões por um Balakov em fungas (€uro legítimas) de se juntar a um Estugarda já em decadência.

Desde então que não mais tivemos Maestros, Magos ou Regista’s e dependemos sempre dos alas (e foram dos melhores que o mundo teve e tem) para ultrapassar as defesas. Eu assumo que Alan Ruiz me agrada. Agrada-me e desagrada-me. Num minuto estou a babar com um passe épico ou um remate “bulls-eye”, no minuto seguinte estou a arrancar as sobrancelhas, depois de mais uma sucessão de 14 dribles a mais, mais uma das 34 faltas que faz (sim, com o guião de JJ) ou uma pressa de jogar condizente com uma velhinha a decidir se quer ou já não se lembra se quer, atravessar uma estrada. Não é consensual, talvez nunca o venha a ser, talvez precise apenas da nossa paciência até que descubra um calendário e um relógio que o venha a ajudar a entender a nossa década e o tempo do nosso jogo. Talvez marque 3 golos e faça 2 assistências na próxima partida. Talvez durma até ser substituído. A “novela” que vê é um pouco imprevisível e nunca ninguém sabe se perderá o comando debaixo de alguma parte do sofá. Um dez e meio, Ruiz, El Mago e argentino é complicado de decifrar.
SL

11 comentários:

  1. Muito bem escrito. Mas não é kick and rush? Ou é uma piada que nao percebi?

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  2. há algo nos seus movimentos que parece obedecer aos acordes sincopados do bandoneón do imortal Astor Piazzolla, a tocar o Libertango

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  3. excelente post sobre uma das maiores desilusões da época. Desilusão para quem não o viu jogar assim tão bem, como aqui é descrito, pelo menos a dois metros do adversário directo, com tempo e espaço. Pode ser um 8, um 9,5ou um 10 e tal, mas o que não será certamente é um jogador capaz de liderar a equipa par aquilo que ela necessita.
    Acho mesmo que JJ tem que recorrer aos peritos do "Minitério do Tempo" para perceber se algures na primeira metade do século passado havia alguém assim e como é que o tinham aproveitado se é que teve aproveitamento.
    Eu como sócio e velho adepto acho que essa consulta devia ter sido feita antes de o trazer. Tinham poupado os muitos milhões e não estávamos perante a última fixação de JJ que irá atrasar a afirmação de alguém que junte ao talento para jogar a nove ou a dez as condições fisícas e mentais do futebol de alta-competição.

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    1. Um sócio e velho adepto ganhou, seguramente, paciência, "santa paciência".
      Ora, quem esperou até aqui, bem que pode esperar um pouco mais - a paciência de santo não nos há-de faltar.
      Aposto no rapaz, já agora.

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    2. Ora aqui está outro velho..."com toda a paciencia do mundo"...
      O rapaz já demonstrou que tem capacidade...vamos ter um pouco mais de paciencia...e ele "vai pagar-nos com juros"...

      Abraço amigo Liondamaia (sem ser do damaiense é claro...!! :) )

      SL

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  4. Um profissional de futebol em início de carreira e que aparece no seu primeiro contrato internacional logo com 10 KG a mais só pode estar vetado ao estrelato. E se é assim com 20 e tal anos imaginem lá mais para a frente. Ou depois das férias grandes. Grande craque. Só pode.

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    1. Eu nem sei como é que um gajo – qualquer gajo - com 23 anos consegue pôr-se num pote de banha. Quanto mais um jogador de futebol. Uma coisa é certa diz tudo da sua formação e do seu profissionalismo. Só mesmo um favelado da América do Sul. Tipo Walter do FCP, agarrado à coca-cola. Habilidade só para comprar um Ferrari com os primeiros tostões. Aliás, um contrato bem redigido dava sempre direito de devolução a qualquer um que tivesse distinta lata de se apresentar nas mesmas condições. Mas como os Milhões nunca saem do bolso dos treinadores. Quanto a o Javardeiro (já) apelidá-lo de Mago do nada e eu achar que ele nunca vai ser sequer jogador da bola, quanto mais de futebol, não passam de duas opiniões distintas. Facto é que Jesus no Verão já sabia que não contava com um gajo que só para se virar era uma eternidade. E que mais uma vez diz muito da preparação da época. Ainda assim emprestou Geraldes. Queria ver algum puto da formação com 10kg a mais no Verão… Jesus só quer salvaguardar mais uma contratação pela televisão. Como muitas. E o Javardeiro, para variar, quer salvar o Bruno. O maior desastre em contratações da história do Sporting. Ou então Jesus vê mesmo muito à frente e já sabia que o Geraldes esmiuçava o Benfica na Taça da Liga. Já devia conhecer o sorteio.

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    2. E tem bónus. Em Sintra.

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  5. Jogador com tudo para ser enorme.
    Desde os primeiros toques na bola que disse que precisava de ganhar ritmo.
    Eu continuo a 'acraditar', SL

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  6. Já diziam o Manolo Vidal e o José Manuel Torcato que quando vamos ao mercado o carácter do jogador é sempre o mais importante. E eram “detalhes” como este que diziam muito sobre o SCP. Qualquer outro tipo de avaliação vinha sempre depois. Alan Ruiz, no mínimo, devia devolver os salários e os prémios todos referentes ao tempo em que não foi opção por culpa própria. E também era a isto que se chamava rigor. Era…

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