terça-feira, 23 de junho de 2015

Expectativas muito Altas

A expectativa

Quando ouço alguns analistas da praça antever a AG de dia 28 de Junho, dá-me a sensação (é mais certeza) que não entendem nada do que é o Sporting. O prazer que têm em perspectivar um autêntico banho de sangue à revelia é por demais evidente. Não sei se aguardam que sócios destruam a sala, pratiquem actos públicos de auto-mutilação ou que queimem bonecos aparentados com a figura de avôzinho de Godinho Lopes, mas a expectativa deles é bastante mais dramática que a minha.

Como sempre no Sporting, imperará a calma e o bom senso. Haverá muitas notas de insatisfação, revolta e vergonha alheia, mais nada. Até porque o que pode ser feito, está a ser feito...aos sócios resta ouvir, compreender e dimensionar o quão graves foram as mentiras sobre eles impostas quanto à gestão passada do clube. Aos sócios resta avaliar, para notas futuras, o tamanho da sua não vigilância durante alguns mandatos, fiados que estavam (eu incluo-me) na aura de "financeiros" dos quadros dessas épocas.

Confesso que a previsão de uma AG atribulada ou de ânimos exaltados seria o melhor "cartaz" para algumas colectividades da cidade, mas não é o género do Sporting. Isso não se deve a comportamentos elitistas, não é um atestado de superioridade alguma, somos apenas assim. E nem a gravidade (muito elevada diga-se) de alguns factos que irão ser tornados públicos alterará o que costumam ser (e houve períodos bem mais caóticos que este) as nossas reuniões de sócios.

Convém também lembrar aos mais distraídos, que os media, agora tão vigilantes quanto aos actos de gestão de BdC (onde até as meras possibilidades são escrutinadas e minuciosamente investigadas) tiveram zero de interesse e zero de apelo "à informação pública" noutros mandatos, ajudando a perpetuar a referida "aura" de magníficos gestores que facilitaram à brava que os actos revelados no próximo Domingo pudessem ser praticados na completa impunidade.

A culpa será sempre dos sócios. A responsabilidade será sempre dos sócios. As consequências pesaram sempre sobre os sócios. Mas tudo isso não isenta ninguém de entender as razões por detrás de tanta complacência num caso e tanta disponibilidade noutros.

A minha expectativa

Não me dou com ninguém que tenha pertencido ao establishment do chamado "croquete". Reconheço-os como ex-dirigentes ou figuras públicas, apenas isso. Não me parece que os "notáveis" sejam a expressão do que é o Sporting, são mesmo uma parte ínfima do todo. A minha leitura do que sucedeu durante os mandatos pós-Sousa Cintra e pré BdC é muito simples:

- O Sporting, como aliás todas as instituições de Portugal, foi administrado por uma suposta "nata inteligente", os "bons gestores", tudo gente de "boas" famílias e reputação imaculada. O problema foi a convicção desta minoria representativa do que valiam e de que nunca seriam responsabilizados por pior que fosse a sua eficácia. No clube, como em todos os cargos que ocuparam em carrossel de cunhas...o resultado foi desastroso e em muitos casos reveladores de compadrio, favorecimento de terceiros e distribuição ilícita de cargos e contratos. Qual foi a empresa portuguesa de dimensão considerável que não teve disto durante a década de 90 e até quase ao final da seguinte.

- A má gestão, a incompetência, a irresponsabilidade, o compromisso zero com o sucesso e total com os grandes salários e altos padrões de vida...são o mapa do que sempre foram as nossas elites - arrogantemente interessadas no seu próprio bem e totalmente descomprometidas com a "causa pública". Se é verdade que os exemplos vêm de cima, o que sucedeu (e ainda sucede) com o desenvolvimento do nosso país explica-se em meia dúzia de linhas sobre umas boas dezenas de famílias.

- O que governou o Sporting ou foi a ideia mais burguesa e preguiçosa de "fascismo" ou uma espécie de comunismo hiper-elitista. Em todos os casos a "autoridade" sobre o conhecimento do que era o Sporting e o desporto revelou-se drasticamente incompetente. A herança é pesada. O mesmo não poderei dizer das consciências dos que a deixaram. E mal. A imprensa apela cinicamente à moderação e esbater dos dedos acusatórios. Eu entendo. O Sporting é uma parte de Portugal, os Sportinguistas são uma parte dos Portugueses. Era o que mais faltava...era a maioria desfavorecida colocar em cheque a reputação da minoria "bem nascida"

- Não irá acontecer nenhuma revolução. Mas devia. A revolução do mérito. A revolução da justiça. A revolução do direito a ter as mesmas oportunidades. A revolução da responsabilidade ao gerir o que é de todos. A revolução de ter brio no que se faz e orgulho em prestar contas. A revolução de amar um emblema. Muitas destas revoluções estão por fazer. No país e no Sporting.

SL

3 comentários:

  1. Um dos melhores textos que já li.

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  2. Finalmente e infelizmente entenderam que o rocketismo era um encanta borregos, algo lentos para tantos e tão diferentes da maralha , de qualquer forma igual aos outros sistemas , ainda que claramente mal executado.

    Mas também nada nos diz que um testas de ferro gordito , em má forma fisica, demagócio à quinta casa, testas do assaltante de bancos faça melhor , ainda que reconheça a vantagem de ser mesmo sportinguista e perceber alguma coisa de bola.

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