Olhando para o quintal do vizinho

Normalmente não sou grande adepto de ver jogos dos nossos rivais, mas o interesse desta fase das Ligas Europeias levou-me a estar atento ao jogo de ontem do Carnide frente ao Zenit. Confesso que não entendi muito bem o festão por conseguirem ir à Russia com um 1-0 muito mal amanhado, mas se o prémio da vitória faz assim tanta falta, admito que eu é que esteja a ver mal a coisa.

Fiquei tão surpreso pelo festejo dos adeptos como pelo conteúdo das declarações de Rui Vitória no final do jogo. A partida que vi mostrou um Zenit fraquíssimo coletivamente, completamente partido desde o 1º minuto e completamente de rastos a partir dos 65/70 minutos. Que a equipa russa fraquejasse cedo no jogo, isso de alguma forma era esperado...estavam há 2 meses e meio sem competir e isso seria sempre incontornável, mas mesmo enquanto houve pernas para correr o Zenit exibiu uma dependência do talento individual exagerada. Não há qualquer tipo de entendimento entre jogadores, Dani, Hulk, Javi Garcia e companhia jogaram sempre "por si" e vezes demais erraram posicionamentos e combinações. Se isto é o produto de 3 épocas de Vilas-Boas, é fraco e sinceramente, olhando para os jogadores à disposição, só prova que o técnico português não é nem por sombras o predestinado que pintam por aí.

O Carnide jogou a medo, o Zenit jogou pouco e mal. No final da partida, perante a desistência sucessiva dos russos, os anfitriões ganharam coragem e sentiram que estavam a passar ao lado de uma vitória fácil. esforçaram-se um pouco mais (não foi preciso nada de especial) e no minuto 90 marcaram pelo "desaparecido" Jonas. Justiça no marcador e castigo exemplar a uns russos que se dedicaram pouco a trazer um resultado melhor de Lisboa. Pareceram até um pouco em estado de choque com o golo sofrido...quando tanto fizeram para o sofrer. Prova que nos confins da europa de leste se anda ver mal as dinâmicas do futebol moderno. Na 2ª mão será outra história, mas este Zenit não é nem por sombras o tubarão que o cartel de jogadores como Hulk, Dani, Javi Garcia, Witsel, Shatov, Zhirkov, Garay, Fayzulin ou Dzyuba pode prometer. A jogar assim, nesta forma física prova-se que o Carnide teve um sorteio pleno de sorte...nem mesmo na Liga Europa encontraria todas estas facilidades.

Mas Rui Vitória estava feliz. Não sei exactamente porquê (em muitas fases do jogo a sua equipa foi pouco mais que nervosa e perdida tacticamente) mas suspeito que para este treinador, ganhar nem que seja por meio a zero, com uma péssima exibição, frente a um adversário muito debilitado, seja razão para ficar satisfeito. Afinal de contas ganhara ao Zenit (faz de conta que foi um clube grande) na Liga dos Campeões (faz de conta que foi uma partida muito difícil) e vive para lutar mais um dia. Vitória de Pirro digo eu, quem vê futebol há algum tempo não celebrará triunfos destes como boas novas para a equipa e apesar do boost moral por não ter perdido, parece que a falta de um jogo coletivo convincente quase no final de Fevereiro...dará razão à gestão encarnada, dando ouvidos aos que já apontam como fechada a contratação de Marco Silva para a próxima época.

SL