Depois de saber do artigo do CM que a PJ fez buscas na SAD do Benfica para averiguar quanto gastava o clube nos vouchers oferecidos aos árbitros fiquei ainda mais perturbado com a estupidez da nossa FPF e a sua incompetência para entender o que está em causa em todo este assunto. Não sei qual é o QI dos responsáveis da mais alta instância do nosso futebol, mas das duas, uma: ou são burros e não entendem que a polémica nunca foi se o valor ultrapassava o regulamento (que convém lembrar que não existe de forma formal) ou são escroques ao ponto de se refugiar nos legalismos para encobrir a sua incapacidade para intervir numa solução eficaz que prime pela jurisprudência necessária.
O caso dos Vouchers é uma questão ética. Ponto final. Tão pouco interessa se será menos 10 euros que a instrução da UEFA ou menos 10 que a mesma. Assusta-me aliás que a FPF, depois de passado o tempo da mediática disputa argumentativa, não tenha inscrito novas regras para impedir que este procedimento acabe de uma vez por todas e por mais que entenda algum período de reflexão, não posso deixar de ficar com a certeza de que nada será feito para não vir a expor a acção do Benfica (mesmo sem qualquer retroactividade) como…errada. Mais, o verdadeiro sintoma de que todo este assunto tresanda a inépcia do dirigismo é o facto de que 1) O Benfica nunca publicitou quer internamente, quer externamente que oferecia vouchers aos árbitros e observadores 2) Muitos árbitros e observadores nunca relataram a oferta, como lhes é imposto pelos regulamentos 3) O próprio dirigente máximo do Conselho de Arbitragem (à altura) disse desconhecer essas ofertas 4) A FPF e a Liga viram-se obrigadas a levantar um inquérito para fingir que se interessavam pelo esclarecimento do assunto, quando não mais fizeram que o tentar justificar e menorizar.
Mais uma vez, Liga, FPF, APAF e Governo perderam uma boa oportunidade para tornar o futebol português mais transparente, mais impoluto, mais eticamente sólido, preferindo entender tudo como uma disputa entre clubes, uma verificação de números e regulamentos, um “fait diver” mediático. Escapou-lhes completamente que nada resolveram e que todas as dúvidas morais permanecem nas cabeças dos adeptos que observam um pouco mais do que a bola, um pouco mais que as marcas das chuteiras dos jogadores. Se eu na minha actividade profissional aceitar nem que seja um euro de um dos clientes da minha empresa, posso ter garantida uma má prática e uma reprimenda imediata por parte dos meus superiores. Em causa não estará o valor, a vantagem ou a legalidade do acto, mas sim o porquê da oferta e o porquê da aceitação. As perguntas serão as mesmas em qualquer parte do mundo e em qualquer que seja o sector de actividade. Read my lips: É uma questão ética! Enquanto os dirigentes do nosso futebol não entenderem isto ou fazerem de conta de que não entendem…isso será mais do que prova que não estão à altura dos cargos que ocupam, mas estarão, sem dúvida alguma, à altura do atraso que mantêm com outras competições espalhadas pelo mundo. As tais que tanto citam como exemplo, mas que nunca lhes seguem “os exemplos”.
SL