terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Espalhados aos 4 ventos

Todos nós já perdemos pelo menos alguns minutos (alguns horas e uns poucos de doentes como eu talvez até demasiadas horas) esta época a tentar encontrar explicações para a quebra de rendimento da equipa principal de futebol, especialmente por comparação à anterior.
Poupo-vos especulações e voltas ao bilhar grande e vou direito ao que eu acho que podia melhorar e de certa forma afectou o rendimento da equipa este ano:

1/ Quem contratar e por quem
Começam a aparecer rumores que o poder dado a JJ este ano de ter mais "mão" nos jogadores poderá ser retirado e  "dizem", que pode ser substituido por um padrão de jogadores mais jovens, mais baratos e escolhidos por um quadro de decisores mais alargado. Não sei de onde vem esta informação e sinceramente, isso, pouco me importa. É um erro pré-formatar escolhas futuras. Um clube que decida só contratar um tipo de jogador (com uma certa idade, uma certa origem, um certo preço ou uma  certa morfologia física) é um clube que se apresta para desperdiçar boas oportunidades de mercado e sobretudo padronizar demasiado o seu plantel. Se há coisa que as leis da selecção natural nos ensinam é que a diversidade acrescenta mais opções de crescimento e no futebol essa regra é infinitamente valiosa. Ter experiência aliada de juventude, ter impetuosidade suportada por ponderação, ter velocidade vertiginosa contrabalançada por temporização, ter altura para dominar o jogo aéreo e ao mesmo tempo baixos centros de gravidade para dominar e driblar adversários, ter a arte de seleccionar um puto maravilha enquanto se aposta valentemente num jogador maduro e decisivo…uma equipa não é uma secção de 4 ferros a unir 11 bonecos de madeira, exactamente iguais…isso chama-se matraquilhos. Uma equipa é uma amalgama de coisas diferentes que se combinam conforme o jeitinho de um bom treinador.
Dizer que a partir da próxima época se vai mudar o paradigma de contratações é absurdo. Cada necessidade deve ter uma solução adequada ao problema e dou como exemplo a contratação de Bas Dost. Vendido Slimani, e tendo a norma de só contratar valores jovens e em ascenção, o holandês seria imediatamente descartado, desperdiçando-se o que agora vemos como a melhor contratação da época e 10 milhões de euros muitíssimo bem gastos.

Não sei quem sugeriu, quem observou e decidiu contratar os reforços desta época, mas dou até de barato que JJ tenha tido o poder que outros no mandato de BdC não tiveram na hora de decidir este ou aquele. Mas sei de uma coisa, se há alguma faceta de ineficiência reconhecida ao treinador leonino, essa é mesmo a escolha de contratações. A saga do lateral esquerdo é uma "piada" mítica no futebol português desta década e honestamente o Jorge fez por merecê-la. Isso quererá dizer que retirando a JJ a palavra final quanto a reforços se resolvem todos os problemas? Não e quem pensar que isso é verdade pouco se lembrará dos erros de casting nos tempos "pré-jorgejesuíta", que foram, diga-se, bastantes. Além do mais, convém também ter memória no sentido inverso. O Cruyff da Reboleira não errou sempre e muitas das vezes sacou coelhos de cartolas insuspeitas, fazendo entrar muitos milhões pelo mesmo caminho se costuma situar a sua magnânime teimosia. Neste ponto como no ponto anterior é muito mais saudável optar pelo equilibrio e por uma nova estrutura de scouting que fundamente cada opção de forma tão cabal que até JJ se sinta seguro nas suas recomendações ou propostas. O ordenado e sobretudo o estatuto acumulado pelo treinador leonino em Alvalade deveria ser suficiente como prova de confiança e autoridade. Recusar uma decisão mais colegial, quando essa estiver melhor preparada será apenas arrogância e desconfiança e isso não é um comportamento que interesse ao Sporting como empresa que movimenta muitos milhões e deseja valorizar-se, como instituição plural, em muitos mais. "Fui eu que fiz", "fui eu que contratei" ou "fui eu que fui buscar este ou aquele" cheira demasiado a egocentrismo e muito pouco a uma estrutura hiper conhecedora, proto-científica e adaptada a uma era digital onde todos os jogadores do mundo estão identificados e são acompanhados desde os 6 ou 7 anos de idade.

2/ Quem fala e para quem fala
As críticas feitas à Comunicação do Sporting no ano passado, valeram uma atenta e mais sólida ideia do que haveria de mudar para esta época. Na minha opinião as mudanças foram muito positivas. Não só se resguardou a imagem do Presidente, como se deu mais elan ao que o clube "quer dizer". Mérito seja dado a BdC, que entendeu não ser viável a continuação da sua aparição nos media, por vezes mais do que uma ocasião durante a semana. Mérito seja também dado a quem escolheu o actual Director da área. Pessoa que me parece ter escolhido um tom apropriado para fazer as vezes do Presidente, ainda que faltem algumas agulhas por acertar quanto à exagerada diversidade de alvos.
O que ainda não foi feito e urge realizar é uma nova abordagem com os diversos media, que persistem numa ofensiva permanente e hostil. Não consigo justificar a bipolaridade de manifestar indignação por uma (ou muitas) notícias veiculadas pelo jornal O'Jogo numa Segunda-feira e à Sexta dar uma entrevista exclusiva à mesma publicação. Das duas uma, ou são meios "non-gratos" ou não são e de uma coisa eu tenho a certeza, não é esta hesitação que nos devolve respeito. Arrisco dizer que os directores de várias estações de tv, jornais e rádios "contam" com a indignação leonina, tanto como apostam na ausência de consequências da mesma. A frase "cão que ladra, não morde" ilustra o que penso sobre esta questão.

É sabido que para conquistar um novo poder ou mais espaço de acção é preciso desafiar o poder que está instalado e diminuir o espaço deste último para que seja mais facilmente disputado. Esta é uma lógica que impera desde no nosso planeta, e todos os seres vivos o fazem, desde as plantas, aos animais e claro, o homem. É entendível que o Sporting se instale na linha da frente na hora de criticar o Nacional-Benfiquismo em que o nosso futebol se transformou. Mas todas as estratégias têm um limite e esse deve ser definido na celebração da primeira prioridade da nossa Comunicação que deveria ser, sempre, arrumar a nossa casa primeiro. Tenho visto a opinião firme de muitos (e bons) sportinguistas de que as duas operações não são incompatíveis. Verdade. Mas devem ser priorizadas. Ver, ouvir e ler uma insistente e voraz torrente de opinião institucional apontada ao nosso clube rival é também uma forma de distracção do nosso principal foco, além de uma valorização excessiva do peso desse clube. Há um ponto de equilíbrio e este ainda não foi encontrado. Para gáudio dos nossos adversários, a ineficácia da nossa equipa só predispõe esse esforço a piadas que não são tão tontas como parecem e desgastam muito mais os nossos responsáveis do que o que muita gente supõe.
O único candidato que fará oposição a BdC nas próximas eleições parece muito mais um produto da "vergonha alheia" de muitos sportinguistas que gostam de estar bem com Deus e com o Diabo, do que emergente de um movimento com ideias concretas e estruturais oponentes às políticas seguidas por esta Direcção. A esmagadora maioria dos adeptos leoninos pouco se preocuparão com o que os adversários pensam sobre o que o Sporting "diz", mas existe ainda assim uma minoria que preferia que o clube se silenciasse (sofrendo as consequências que conhecemos) para que os seus jantares e conversas à volta de um envelhecido brandy com adeptos de outras cores tivessem bem menos assuntos clubísticos para justificar. E este pormenor leva-me a outro aspecto, a "oposição". Não é com paus e pedras que se resolve a ingratidão e o snobismo. É com desprezo e indiferença. O Sporting continua a não conseguir isentar-se de tentar não deixar "ladrar" os cães. Atitude tão ineficiente como apropriada. Ao abrir flancos internos, perde caudal e energia valiosa, eleva o estatuto e capacidade de produzir ruído de alguns "piratas" de gravata e sobretudo empurra estes figurinos para os braços acolhedores de muita imprensa sequiosa de sangue.

3/ O entendimento errado de um modelo de organização
Todos os clubes em Portugal adoptaram o que se chama um modelo presidencial. Existe uma figura que concentra todo o poder e apenas pela delegação do mesmo, o pode partilhar. Esta concepção de que é a única via adaptável ao futebol português é um pouco desprovida de argumentos e muitas das vezes justifica apenas a incapacidade dos nossos dirigentes para conseguirem agir em concertação em longos períodos de governação. Só esta incapacidade era digna de muita reflexão, mas vou deixar as concepções sócio-culturais lusas de fora deste texto, preferindo concentrar-me nos erros que o tal modelo tem no Sporting. Tão pouco me importa se apenas repetimos erros que outros partilham. Não conheço os meandros dos outros clubes e se estiverem errados, melhor ainda. Preocupa-me o Sporting e que, este, prevaleça sobre os demais.

Ter poder não significa tê-lo todo e a toda a hora. Aliás nas primeira regras de um bom gestor, surge destacada a capacidade de delegar tarefas. Como delegar bem, as tarefas e o poder? Obviamente escolhendo bem as linhas sucessórias de decisão, mas não só. Escolher um bom Director de área, para depois não confiar nas suas decisões e continuamente desautorizá-lo vale pouco. Um Presidente, diria Maquiavel deve permanentemente moldar os seus delegados, confiando e fazendo um empowerment suportado em estímulos positivos. Recompensa positiva ou elogios quando acertados, Menos recompensa e menos elogios quando errados. Nunca, mas nunca, exercer pressão indirecta ou atravessando-se na margem e espaço de protagonismo dos seus coordenadores. Se assim suceder, o poder permanece nas mãos do presidente e de muitas formas até o reforça. Se a estrutura for forte e eficiente o poder da primeira linha engrandece, se ocorrer o contrário de pouco valerá o autoritarismo e a permanente mania de retirar confiança. O ponto decisivo é mesmo a escolha a quem se delega poder e ao contrário de muitos manuais antiquados de sobrevivência política, um líder não ficará mais forte se eleger figuras de suporte com menos visibilidade, carisma ou capacidade de auto-operação…apenas ficará mais fácil de dominar a estrutura, com pouquíssimos ganhos para a mesma.

Em muitas coisas, acho que BdC não tem o elenco que poderia ter. Em muitas coisas acredito que se o tivesse (e especialmente se o aproveitasse) daria um salto qualitativo muito grande às operações desportivas e financeiras do nosso clube. "Falar a uma só voz", um dos slogans mais memoráveis da última campanha eleitoral do Sporting implicou uma concentração de demasiadas pastas em cima das costas de BdC e apesar de um benefício imediato na hora de impor mudanças profundas (num cube com enorme profusão de pequenos e grandes poderes) é chegada a hora de avançar e abdicar de um Presidente que decide tudo para ganhar um Presidente que escolhe bem quem irá decidir. Por incrível que pareça, um Director técnico no Andebol que seja perito em andebol, decidirá melhor que BdC. Por incrível que pareça um Director de Marketing que seja um excelente Marketeer decidirá melhor que BdC. E o mesmo retirará sempre os frutos, além de claro, o clube.

4/ Ainda e sempre, os árbitros
Muito foi feito nesta área e não se pode dizer que o Sporting não tenha tentado de tudo para mudar o quadro sistematicamente prejudicial neste capítulo. BdC de forma muito persistente tem feito gato sapato para que os homens do apito não tenham como passatempo predilecto afogar as nossas esperanças desportivas em enganos convenientes, em momentos decisivos. Haverá algo mais a fazer? Sim.
Se formos à origem do problema, podemos facilmente detectar que o que permite a muitos árbitros o salvo-conduto para nos prejudicar é a noção generalizada de que ao fazê-lo estão a agradar ao "sistema" e a dar gás às suas carreiras (agora profissionais). Se é aqui começa é por aqui que o Sporting deve atacar. O Benfica há uns 12 ou 13 anos detectou o mesmo problema, mas a sua solução foi "apenas" ser mais astuto, dissimulado e sobretudo científico na tentativa de inclinar o tabuleiro para o seu lado. Demorou mas chegou lá. Hoje o colinho vermelho é muito mais eficiente e difícil de detectar que a fruta ou café com leite de outros tempos, mas é igualmente corrupta e anti-desportiva.

Como pode o Sporting não fazer o que os outros fazem (em alguma coisa acho que somos mesmo diferentes e esta é uma das principais para o parco número de troféus ganhos nos últimos 40 anos) e ainda assim garantir arbitragens justas e equilibradas nos seus jogos? Só vejo uma solução. Combater ao lado dos bons árbitros, dos que querem genuinamente um sector mais independente, isento e sobretudo imune a pressões e chico-espertices. Primeiro problema - onde estão estes árbitros? Não sei, não sou perito. Mas recorro a uma figura bíblica para definir aquilo que deveria ser o nosso caminho. Se no todo da arbitragem o Sporting não consiga encontrar quem partilhe consigo o ideal de uma arbitragem melhor e menos manobrável…então é hora de arrasar tudo ao seu alcance tentando implodir tudo o que possa implodir, desejavelmente não restando pedra sobre pedra. Não vejo outra estratégia possível, não alcanço outras vias desejáveis. E urge encontrar e definir algo que mude o panorama actual, que será sempre, época após época, um dos nossos principais factores de fracasso, desunião e desconfiança. 

SL

5 comentários:

  1. Discordo totalmente sobre as melhorias no departamento de comunicação, e acho que a escolha do Saraiva para o dirigir foi muito infeliz. Acho-o totalmente desprovido de carisma e presença, tanto que ninguém o leva a serio. 90% das suas intervenções são disparates e na maioria das vezes embaraçosos para o clube. Eu não tenho agora tempo para fazer um texto muito elaborado, mas passaram quatro anos desde que o Bdc chegou ao poder e as criticas que no inicio se faziam são praticamente as mesmas que se fazem hoje. E isto e grave. Continuamos a ser os reis dos comunicados e a palavra benfica e proferida quase tantas vezes como a palavra Sporting.

    E de resto, tal como nos anteriores, ainda ha muito a aprender acerca de timmings de vendas e contratações. Eu acho que faz todo o sentido procurar-se o melhor negocio possível, mas e também importante delinear um timming favorável para que aconteçam. Nesta época isso falhou claramente, a venda tardia do Slimani e do Joao Mario atrasaram completamente o planeamento da época. Os reforços mais sonantes chegaram ja com a época a decorrer e muitos deles vieram sem ritmo depois de vários meses parados. Isto para mim e um ponto altamente importante, basta ver que so agora a maioria dos nossos reforços parece estar a entrar no ritmo.
    Isto e extensível a perceber-se qual o momento maximo de valorizacao dos nossos jogadores. E eu acho que esse momento em relação ao William e ao Adrien ja passou, e mais nenhum clube apresentara propostas superiores a 30M. O caso do William entao e do mais ridículo que pode haver, vê-se claramente o quao desmotivado o jogador esta. E no caso do Adrien, se havia promessas feitas, enato tínhamos de as cumprir.

    Isto das promessas e outro ponto importante. Estou farto de ouvir e ler que o sporting não honra os seus compromissos, alias ja são vários os casos em que aparentemente negociamos um ordenado inferior em funcao de valores por objectivos maiores e depois não os pagamos. Foi com o Teo, foi com o Naldo e aparentemente o mesmo esta a atrasar a contratação do Coates.

    Para mim a vitoria do Bdc ja esteve mais certa, e o disparate pos jogo de chaves pareceu-me um momento de ruptura com conseqüências ainda por compreender. Veremos o que acontece no jogo de hoje.

    Tenho algum receio que o Bdc esteja neste momento drunk with power.

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    1. Se bem me recordo, quando Bruno de Carvalho chegou à presidência do Sporting, o tema era a sua idoneidade e seriedade e capacidade de gestão. Era um empresário que havia falido uma série de empresas de construção. Não tinha provas como gestor para ser presidente do Sporting.

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  2. Seria interessante perceber se o JJ tem, ou não, participação em passes de jogadores. Quando foi para o clube de m...., levou com ele um guarda-redes brasileiro do Belenenses (não me lembro o nome) que só jogava nos encontros europeus e do qual tinha parte, ou a totalidade do passe. Reparem bem que nunca mais falaram na célebre indemnização dos 14000000€ para os fdp da 2ª circular! Será que foi porque o JJ se calou? Markovic? Alan Ruiz? Petrovic? Castaignos? Que jogadores são estes?

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  3. Mais um desaire...o problema é tão evidente...

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    1. E mais uma oportunidade perdida por ti para não escreveres disparates.

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