quinta-feira, 19 de março de 2015

Percam 5 minutos a pensar nisto, vale a pena

A sociedade moderna confunde muitas vezes democracia com meritocracia. É certo que devemos ter todos os mesmos direitos e deveres, mas isso não se pode estender à valia do nosso trabalho ou talento para desempenhar uma função. Entre as utopias socialistas, em que todos recebem o mesmo quer desempenhem mais e melhor que o próximo e as loucuras liberais de uns ganharem pelo esforço de outros...há todos um meio termo onde de facto se caminha para a evolução de um colectivo, deixando as leis da selecção natural apurar os mais fortes e relegar para um segundo plano (não o vazio) os restantes.

A grande batalha do Sporting com os empresários cai neste paradigma como tantas outras incidências dos nossos problemas sociais. Todos os jogadores de todos os clubes de todo o mundo querem melhorar os seus contratos. Como é evidente, todos estes empresários seus representantes querem ver recompensados os seus serviços...e isso obriga todos os clubes a permanentemente estarem a subir a sua massa salarial. Desde a Lei Bosman, que os vencimentos dos jogadores aumentam exponencialmente época após época. O peso da massa salarial dos atletas nos orçamentos dos clubes passou de uma fatia importante, para níveis quase absolutos. Existem muitos clubes, que para manterem um quadro competitivo, têm de prescindir de alguns atletas todas as épocas. Isto é um disparate de insustentabilidade. Neste momento os jogadores ganham valores que o futebol actual não gera.

Porque nem todos os clubes são o Real Madrid ou o Bayern, a maioria dos emblemas mundiais, diria uns bons 99.9% têm enormes dificuldades em aliar um bom plantel a uma boa gestão orçamental. Eu penso mesmo que para quase todos os clubes, gerir responsavelmente é "desistir" de ter os bons jogadores durante o tempo suficiente para gerarem sucesso desportivo. Os que o fazem, vencem troféus, mas dependem das transferência para restituir os cofres pelo esforço despendido. Quando se falha 1 ou 2 épocas nesta equação, a ruptura salarial e o endividamento são inevitáveis.

A crise em Portugal trouxe tempos muito difíceis para todos os portugueses, os clubes sofreram com isso. Menos dinheiro nas famílias, menos investimento das empresas, menos receitas de publicidade...mas valha a estupidez de tudo isto...os empresários não deixaram de "exigir" mais dinheiro para renovar ou assinar, porque...o que não receberem aqui vão buscar "lá fora"...como se fosse um direito constitucional aumentar o ordenado já que "há outros interessados". Isto não é baseado na lei da procura e oferta...isto é baseado no caos de responsabilidades que o actual modelo de transferências gera.

Quando um clube tem de "comprar" um passe tem de investir x de milhões de euros para o adquirir a outro clube. Essa verba não é calculada por nenhuma tabela oficial, é o clube e o empresário que a decide. O melhor exemplo que a definição destes valores é uma selvajaria económica desgovernada está à vista de todos, recordo-me de um certo lateral esquerdo, jovem, que o Beira-Mar emprestou ao Sporting que tinha a cifra de 1 milhão de euros para ser adquirido em definitivo pelo clube leonino. Sinceramente, o jogador que me desculpe, mas (salvo as devidas diferenças) vender Matias Fernandez internacional chileno por pouco mais de 2 milhões e comprar Joãozinho por 1 milhão parece-me exemplar para compreender que o problema não são os valores dos excelentes atletas, são todos os outros que lhes seguem atrás.

É esta dificuldade de aceder aos jogadores médios por valores acessíveis que gera um apetite insano pelos atletas em fim de contrato. Quais virgens louras num mercado de escravos árabe, um jogador ainda jovem, com alguns anos de competição, internacional ou em vias disso, com passaporte comunitário atrai tudo o que é clube com capacidade para "cobrir" as aspirações de vencimentos às vezes 500% mais elevadas. Repito isto não é a lei da procura e oferta, isto chama-se selva financeira.

Todos sabemos o que acontece a "mercados" onde existe hipervalorização dos activos. Ele engorda, especula, desenha castelos nas nuvens e um dia...rebenta na evidência da irresponsabilidade. Uma loucura que se inicia aos 15 ou 16 anos, quando um puto que dá uns toques na bola, vai acompanhado por um empresário (mandatado pelos pais ansiosos pelo euromilhões prometido) exigir ao clube um contrato semi-profissional de 5.000 euros mensais com a promessa de assinar 2 ou 3 anos mais tarde um novo vínculo por 3 vezes esse valor. Se alguém quiser reflectir na incrível anedota que isto representa, be my guest. Para mim, isto tem tudo para findar numa tragédia. Um drama onde 99.9% dos clubes mundiais já entrou e não deu por isso.

Não são as TVs que pagam pouco, as empresas que patrocinam pouco ou adeptos que não compram tanto. São os jogadores. Eles ganham demais. Absorvem 99.9% das receitas que o futebol gera. Se os clubes não têm dinheiro ele tem de ir para algum lado...empresários e atletas...é para lá que ele vai. Sempre. E vai independentemente se há crise ou não, a aumentar. Quando chegarmos à ruptura total dos grandes emblemas (que já começou) e quando não subsistir um árabe mecenas em nenhum deles talvez aí alguém acorde e ponha um travão nisto tudo. Imponha regras e defina tectos, devolva algumas fronteiras e limites. Não é democrático? Talvez não. Mas é sem dúvida o único antídoto à febre galopante liberal que está a destruir e a desequilibrar o jogo.

Cada vez mais são sempre os mesmos Golias que vencem as competições. Em cada país, são cada vez menos os Davids que conseguem surpreender. A incerteza é o sumo do futebol. Cada vez mais a tabela classificativa pode ser adivinhada pelo orçamento de cada clube.

SL

5 comentários:

  1. Muito bem...
    A verdade é que algum Organismo vai ter de, em nome da competitividade do futebol, e da sua continuação... de "pôr travões" a este "deslizar" para o abismo...
    Pode não ser democrática a existencia de regras "impostas"...?

    Até pode...mas será que a "ditadura" dos empresários é mais democrática...?

    SL

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  2. Grande explanação !

    Subscrevo !

    É absurdo no que se tornou o futebol mundial.
    O caminho\projecto do SCP é a única coisa que faz sentido.
    Estejam certos, o sistema actual do futebol vai rebentar, aliás já rebentou, é impossível manter-se, é insustentável.
    É uma versão da bolha imobiliária, toda a gente sabe e vai empurrando para a frente… vai rebentar, nas maos de quem ? É tipo lotaria… Pode levar 2-3-4 anos mas vai acontecer.
    É insustentável, e não há árabes e russos que cheguem para injectar dinheiro nisto tudo.
    Haverá quem a tente aproveitar para sacar o máximo enquanto não rebentar.

    Depois, sobrevive quem tiver um plano, um projecto quem tiver o activo mais importante nas mãos:
    os jogadores, evidentemente, de qualidade e prontos a assumir a competição, formados dentro de casa.
    Em Portugal, obviamente, só o SCP esta nessa condição (também o Vitória sport clube estaria, se não estivesse aberto às nadegas).

    A nossa formação não é apenas um orgulho, o nosso adn, bla bla.
    É a nossa sobrevivência como grande clube.

    Quando a bolha rebentar, e vai acontecer, o SCP irá dominar pois já terá uma fornada de craques prontos a atacar as competições. Além de ter as contas consolidadas.
    A manter-se o actual estado das coisas, o SCP só não vai dominar à bruta os rivais se houver perdões, engenharias contabilísticas ou encontrarem petróleo no seixal ou no oliva


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  3. ora ai está... tudo tem limites
    G.

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