A hora do presidente

As palavras excessivo, teimoso, utópico podem passar-nos pela cabeça quando ouvimos BdC durante mais de 5 minutos. Eu substituiria todas essas por “emotivo”. BdC não relativiza, não domina a arte do compromisso pelo cinismo, é incapaz de resguardar uma opinião ou uma reserva. Isso faz com que quem o ouça também tenha de fazer o mesmo. Sei que há Sportinguistas que detestam esta forma de liderar e exaltam por mais contenção, mais descrição, por um tom mais suave e reflectido.

Não vai acontecer. BdC é o protótipo do “ou vai ou racha” e em nada adopta a bitola de outros tipos de presidentes, sejam eles políticos ou empresariais. Não é um estilo que estejamos habituados, vai levar tempo e provavelmente algum sucesso desportivo até uma boa fatia dos “guerrilheiros separatistas” entender que este presidente não é o bicho papão, é apenas um homem ainda muito jovem, cheio de coragem que se recusa a admitir que o Sporting está (ainda) a resvalar para um papel secundário no futebol português e europeu.

Costuma-se dizer que da força de vontade à casmurrice é um passo muito curto, ou que da extrema defesa de um interesse pode nascer um autismo assinalável ao que não é nosso. Para mim, a presidência de BdC tem oscilado entre um lado e o outro, ou seja, entre o extraordinariamente bom para o Sporting e uma incapacidade para fazer pontes com exterior. E nem sempre o exterior são inimigos e faccionistas de outras cores, às vezes são apenas Sportinguistas mais “lentos” a perder o receio de entender o que é BdC.

Olhando ao produto da presidência, ou ao outcome, fica sempre na dúvida dos mais renitentes se o Sporting não podia chegar mais longe ou ter mais sucesso se nem tudo fosse “fracturante”, mas o problema (e pensem realmente nisto) nunca estará no que BdC conseguirá, mas sim nas inseguranças internas. Com o sucesso à vista todos saltam para o barco e o oposto é igualmente verdadeiro...mas no tempo intermédio (que é quase a totalidade) há muitos sportinguistas que duvidam que exista o Sporting que BdC tem na mente.

Os Sportinguistas duvidam deles próprios, como não duvidam de mais ninguém. Os presidentes dos outros são sempre mais sagazes, mais bem conectados, mais poderosos. Os treinadores dos outros são sempre mais “ratos”, mais autoritários ou com mais classe. Os jogadores dos outros são sempre mais “máquinas”, “ameaçadores” ou “virtuosos”.

Não vou analisar porque tantos de nós somos assim, ou para aqui resvalamos mais vezes do que seria saudável, mas várias décadas a ver outros emblemas debaixo dos holofotes têm o seu preço e houve quem não tivesse compreendido que “a bola ao poste” é muito mais do que dinheiro....o sucesso desportivo é...tudo.

BdC é um presidente que às vezes parece ter sido “congelado” nos anos 80 (onde éramos de facto uma enorme massa de força competitiva) e que aterrando agora no clube quer resgatar o clube e logo os sportinguistas para o ataque literal à letargia que conduziu ao desfavorecimento. Muitos não estavam, nem estão, a fim de cruzadas e só a ideia de represálias afasta muitos do centro de apoio à gestão actual. Muitos não estavam, nem estão com a pressa e sede de conquistas deste presidente. Querem ganhar, querem festejar, querem dizer “somos campeões”...só não querem acompanhar a velocidade de um presidente que não lhes dá a hipótese de ficar neutro e sem compromisso.

Nós Sportinguistas habituámo-nos a “carregar o clube” e foi com muito desprazer que muitos constataram que hoje, esse papel foi ocupado. A Direcção, para o bem ou mal, dirige, decide, comanda. Há quem não se sinta bem no papel de “comandado”. Esquecem-se que um clube sempre será comandado e porque é democrático elege uns para decidir o bem de todos. A anarquia é “elegante” na forma e horrível no conteúdo...há quem se sinta bem a comandar uma nau desgovernada (baixa as expectativas de resultados).

BdC, acho, quer um clube exemplar, orgulhoso, metódico e destemido, mas haverá sempre quem veja as “paredes” antes de ver caminhos. A dúvida permanece em todos “Seremos capazes de vir a ser assim tão fortes? De conseguir acompanhar esta escalada?” Uns já aceitaram o desafio. Outros não...e há muitos indecisos que esperam um resultado palpável para confirmar que podem confiar.

Mas, caros Sportinguistas, ninguém tem de apoiar uma Direcção incondicionalmente. O escrutínio é diário. Nem tudo é perfeito, nem tudo será bem feito. Não há cheques em branco e BdC de certeza que não conta com isso, aliás, parece-me desejar o contrario – os votos cegos de confiança geram desresponsabilização e eu penso que o Sporting está no caminho contrario.

Cada um que pense nestas questões, mas acabemos de vez com os Brunistas ou outros rótulos e de uma vez por todas tentemos entender as pessoas pelo que dizem e fazem e não pelas nossas desconfianças e inseguranças.

SL