quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Valorizar lá fora cá dentro

Tem sido uma aprendizagem esta "aventura" das equipas B. A maior lição que retirei tem sido a evidência que para a maior parte dos jovens jogadores formados na Academia do Sporting ela...não chega. Ou melhor, o problema não é a Academia, a Equipa B ou o facto de continuarem a vestir de leão ao peito. O problema chama-se II Liga.

Ao contrário do que eu e muita gente pensou, este patamar intermédio de competição entre os juniores e a I Liga, não tem amadurecido os atletas (salvo algumas excepções) ao ponto de poderem ser vistos pelo treinador da equipa A como "reforços". Simplesmente deixam de ser jovens talentos inexperientes e passam a ser jovens talentos com experiência de II Liga.

É claro que para jogadores de excepcional talento, excepcional ambição e excepcional capacidade de trabalho isso pode até ser suficiente para elevarem-se acima dos restantes e reservarem para si um lugar no mais alto escalão profissional, mas verdade seja dita, não surgem Ronaldos, Figos ou Patrícios com essa regularidade no Sporting, como não surgem em lado algum do planeta.

A solução é óbvia. Alguns atletas depois de 1 ou 2 anos de equipa B têm de facto de evoluir fora do clube e serem emprestados. Mas nesta matéria também tem de ser considerado o passado desta operação, que podemos classificar de insatisfatório (para ser moderado) sem prejuízo de ofender alguém. O Sporting, como em muitas outras gestões desportivas, normalmente empresta mal. Empresta o jogador errado, ao clube errado, no campeonato errado. O resultado é tremendo: nem clube, nem jogador beneficiam da opção, queimando reputação e...muito dinheiro.

Longe de mim querer ensinar a "missa aos padres", mas sempre vi um empréstimo de um jogador jovem como uma verdadeira ciência. Desde logo terão sempre de ser considerados os seguintes pontos:

1- As características que o jogador detém e as que se desejam ver melhoradas - Nenhum clube joga da mesma forma, nenhuma liga estrangeira é exactamente igual. Existem cenários competitivos em que impera a condição física e combatividade, noutros prevalecem os aspectos técnicos e em alguns a interpretação táctica - um jogador em cada liga evoluirá conforme a sua capacidade nata e terá mais hipóteses de sucesso de "encaixar" ou ser progressivamente "encaixado" se o estilo de jogo se adequar à identificação ou contraste com o seu talento.

2- Quem é o treinador? Quem é o presidente? - Vezes demais o Sporting colocou jovens promessas sob as ordens de técnicos que pelo seu passado ou ambição futura, olharam sempre com maus olhos valorizar activos do Sporting. Nunca se deveria emprestar um atleta sem "obter" garantias mínimas (dadas pelo treinador ou presidente desse clube) que há interesse objectivo em colocar o activo em competição. Esta pode ser uma tarefa difícil, mas se for realizado atempadamente e regularmente um diálogo com alguns clubes "alvo" espalhados pelo globo, depois de alguns anos de "idas e vindas" o modelo gerará mais sucessos que insucessos. Casos como a relação criada com o Cercle de Brugge são exemplares e claramente uma bitola a seguir e repetir.

3- Its all about the contract - Vivemos na era em que a "palavra" vale pouco. O contracto vale tudo. Neste campo o Sporting tem de ser o primeiro a valorizar os seus activos e nenhum jogador deveria ser emprestado sem que o seu contracto de empréstimo salvaguardasse condições mínimas que justifiquem a transferência. Se um qualquer clube não aceitar incluir uma cláusula que accione uma compensação financeira caso o atleta não compita acima de um nº de jogos mínimos...provavelmente não estará assim tão interessado no seu empréstimo.

Haverá muitos outros detalhes a considerar, nomeadamente a opção do próprio jogador e a do empresário, mas neste post essas são contas que ficarão para outro outro rosário. O que gostaria que de facto acontecesse era elevar as taxas de sucesso e evolução dos jogadores que emprestamos...casos como André Martins são exemplares (pela negativa)e não podemos ter uma das melhores Academias do mundo e emprestar os jogadores daí provenientes sem qualquer rigor e método, desvalorizando e de que maneira a sua importância futura e valor de mercado.

SL

4 comentários:

  1. Uma visão lúcida, clara e objectiva que aplaudo, leoninamente!

    SL

    ResponderEliminar
  2. Completamente de acordo, javardeiro.

    A verdade é que em vez de aproveitar etapas, estamos a gastá-las e, assim, a estagnar o desenvolvimento de jovens de grande potencial. Potencial esse que, não raras vezes, não chega a concretizar-se.

    Este ano, quase não acertamos um e isso deve servir de reflexão. O caso de Betinho parece-me o mais preocupante!

    ResponderEliminar
  3. Eis um bom tema para introduzir à discussão na AG do próximo dia 17. No mínimo, teria a vantagem de mostrar aos nossos responsáveis que estamos atentos e que convém eles serem mais criteriosos, sob pena de a discussão ganhar outras dimensões.
    Um alerta, portanto.

    ResponderEliminar
  4. Parece-me que há um erro de base nesta análise. É que uma equipa B não é uma futura equipa A. A equipa B é uma espécie de 12º ano. Uns prosseguem para o superior, outros querem mas não conseguem, outros não querem e vão trabalhar ou fazer outras formações. A diferença é que do 12º para o superior hoje em dia passam muitos. Da B para uma carreira a alto nível muito, muito poucos. Não se pode ver um jogo dos B e estar a imaginar aqueles 11 a jogarem passados 2 anos todos na A. Um clube de topo como o Sporting tem que ser selectivo. Poucos passarão para a A. Um ou outro pode ser emprestado e voltar mais forte. A maioria termina ali a sua carreira no topo do futebol e poderá continuar noutros clubes mais modestos, nacionais ou estrangeiros.

    ResponderEliminar