Crónica de uma mentira anunciada

Não são as medidas em si que fazem uma boa gestão. É o processo de decisão. Se a compreensão do que é uma organização foi total, se o entendimento do que se pretende for assertivo, se estiverem bem balizados os recursos para atingir os objectivos...então as hipóteses de sucesso serão muito maiores.

A rescisão de Leonardo Jardim pode ser sinónimo de interromper um bom trabalho, mas não é garantia de desgraça. Devo dizer que não acredito que o nosso treinador dê o dito por não dito e abandone o projecto que tanto batalhou por por em marcha. Muitos opinion makers estão a apontar para a carreira de LJ e a defender que a saída do Sporting seria semelhante a outros abandonos. Nada mais falso. Os casos conhecidos (Beira Mar, Braga e Olimpiakos) mostram que o treinador manteve-se firme nos compromissos que assumiu e foi da parte das presidências que existiu sempre a quebra do contrato.

Mas, se de facto acontecer estou longe de considerar que será uma hecatombe desportiva. Aliás não acredito em imprescindíveis. Jardim é uma magnífico treinador, quase desenhado à medida das necessidades actuais do Sporting, mas não é o único apto a fazer um bom trabalho. Não me vão apanhar a defender Marco Silva (o menos mau dos portugueses em Portugal nesta altura) e muito menos Rui Vitória ou Nuno E.S (que acho medianos até para clubes médios). Na remota hipótese de perdermos Jardim, acredito que vai ser preciso muito mais imaginação e atrevimento na escolha.

Entrar em pânico com estas notícias que não têm nenhuma relação com o que tanto Sporting como o próprio Jardim disseram nos últimos dias é menosprezar a valia dos jogadores e capacidade da direcção para colocar outra peça no puzzle em vez da actual. Não seria fácil, mas este novo Sporting já nos provou ser feito de gente que não se amedronta com cenários catastróficos.

E há muitos dados que as notícias fazem por ser ignoradas. A cláusula de rescisão de Jardim são 15 milhões de euros. Esta soma (por um treinador e ainda por cima desconhecido da alta roda) só estará ao nível de 7 ou 8 clubes. Que se saiba apenas Barcelona, Mónaco e City vão iniciar escolha de novo treinador. Por mais que eu ache que LJ estaria apto a treinar clubes dessa dimensão, não me parece que nenhum destes arrisque assim tanto. Fala-se no Mónaco e Tottenham. O Mónaco, que levará uma multa astronómica da UEFA por quebra das regras de fairplay financeiro, não irá começar a época investindo 20 milhões num treinador...e o Tottenham depois do sucedido com Vilas Boas e a polémica com JJ não seria nunca uma boa PR para com os adeptos do clube.

Mas estes cenários são ainda menos prováveis se tivermos em conta a palavra e ligação de LJ ao projecto de Bruno de Carvalho. Esse é o dado mais importante. Dá-me a sensação que o madeirense preza muito a sua imagem como pessoa de valores e uma profunda noção de ética. Aqui sim podemos depositar a nossa confiança. Os jornais vendem-se e as mentiras sucedem-se. Apenas e só.

SL