O deslumbre

Na lingua inglesa existe uma expressão interessante que descreve exactamente o momento da época do Sporting: make or break.

Depois de começar em alta, surpreendendo os adeptos das "construções faseadas", o Sporting andou a confirmar os pergaminhos de equipa sólida rodeado por dúvidas retóricas sobre candidaturas. Esmoreceu a pergunta e vem também a esmorecer a eficiência da equipa.

Algumas asneiras de arbitragem e alguns Monteros a menos depois, a equipa desloca-se à Luz atrás do seu adversário...quando teve pelo menos 4 jogos em que podia ter facilmente invertido esse papel. Estoril, Nacional e Académica acabaram por conseguir por autocarros em cima dos movimentos atacantes da equipa. A fluidez emperrou, a frieza frente ao golo escaldou, a escolha metódica da circulação de bola baralhou-se.

Este Sporting sai de um clássico com 5 pontos de atraso e alguma arte esquecida. Em outras fases de épocas recentes isso seria a confirmação que a equipa tinha iniciado a descida aos infernos da confiança e ânimo. Como se a sua carruagem se tivesse soltado do comboio, onde estão os rivais, e estivesse a preparar-se para ser apanhado pelo seguinte, onde constam os uefeiros Nacional, Estoril, Braga e Guimarães.

Isso seria o Break.

Mas nos outros anos não havia estrutura, voz ou conhecimento para dar a volta a estes momentos. Este ano há. Há rotinas na equipa, há vontade de vencer. Há um bom treinador e uma presidência que é bem aconselhada por gente que já viveu tempos destes. Este ano há razões para acreditar que vamos evitar o Break e seguir para o Make.

Não ter nunca afirmado candidatura nenhuma ajuda que se farta. Para mal dos nossos rivais, o Sporting pode com alguma tranquilidade digerir estas derrotas e continuar o seu caminho. Um caminho de humildade, ambição e crescimento.

Primeiro há que entender porque a equipa não consegue vencer jogos em que os adversários recuam todo o bloco. Rio Ave, Nacional e Académica são 3 jogos em casa que deviam ter sido vencidos...com mais penalti ou menos penalti, a verdade é que não o fizemos. E a época do Sporting depende do aproveitamento destas partidas, onde é claramente favorito, onde claramente há superioridade sobre o adversário.

Seguem-se jogos deste calibre: Olhanense em casa, Rio Ave fora, Braga em casa e Setubal fora. Não tenho dúvidas nenhumas que se a equipa regressar à sua forma habitual receberá os tripas em vantagem pontual (eles vão a Barcelos, recebem o Estoril, vão a Guimarães e recebem o Arouca, convém lembrar que há uma eliminatória UEFA pelo meio).

Mantermo-nos equilibrados e a fazer o nosso dever, tal como no inicio da época vai trazer os seus frutos e por mais que ninguém o assuma, o Sporting parece bem mais stressado em campo que alguém que apenas procura um apuramento para a Champions. É esse estado mental que convém terminar, pois está a condicionar o coletivo e a perturbar a evolução de muitos jovens que estavam a subir patamares com segurança...ameaçando chegar até à Seleção Nacional.

Construir uma equipa é uma coisa, obrigá-la a vencer a todo o custo é outra. Leonardo Jardim terá mesmo de optar qual é a mais importante. O que será sagrado é não perder as duas, pois a próxima época não depende só de um 3º lugar, mas sim de como conseguem estes jogadores criar créditos exibicionais para serem dados certos no próximo plantel.

O "jogo a jogo" fez sentido no principio e ainda faz mais agora. Se não tivesse sido esmagado com os vislumbres do topo da liga...não teríamos cedido tantos pontos em casa. É natural que tivesse de acontecer, a maior parte dos jogadores da nossa equipa nunca esteve numa equipa líder de nenhum campeonato e isso é uma miragem/distração difícil de evitar.

Aos adeptos reserva-se a outra força. Estar ao lado da equipa só a pode fazer mais forte. Para o 3º como para o 1º....o apoio deve ser o mesmo - total!

SL